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Gibiteca Refil

#Batman80anos – Santa inocência roubada, Batman!

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A queda nas vendas de quadrinhos após a Segunda Guerra foi avassaladora. As editoras não poderiam contar, porém, que algo faria com que ficassem ainda piores: a publicação do livro Seduction of Innocent do psicólogo Frederic Wertham

Wertham acusou as histórias em quadrinhos de aumentarem os problemas de comportamento e a delinquência juvenil, devido ao conteúdo violento, homossexual e erótico das publicações.  Sabe aquela história de “os filmes estão influenciando as nossas crianças” ou “os videogames influenciando as nossas crianças”? Bem, foi mais ou menos a mesma coisa.

Todas as grandes personagens dos quadrinhos foram atacadas por Werthan em sua obra. Superman foi chamado de fascista e antiamericano (sim, é sério); a Mulher-Maravilha de misandrica, mas nenhuma delas foi um alvo tão recorrente como Batman e Robin.

Batman ou seu jovem namorado ou ambos são capturados, ameaçados com todas as armas imagináveis, quase explodidos em pedaços, quase esmagados até a morte, quase aniquilados. Às vezes Batman acaba na cama ferido e jovem Robin é mostrado sentado ao lado dele. Em casa eles levam uma vida idílica. Eles são Bruce Wayne e “Dick” Grayson. Bruce Wayne é descrito como um “playboy” e a relação oficial é que Dick é o pupilo de Bruce. Vivem em quartos suntuosos, com lindas flores em grandes vasos e um mordomo, Alfred. Batman às vezes é mostrado em um roupão. Enquanto se sentam junto à lareira, o jovem às vezes se preocupa com o parceiro: “Algo está errado com Bruce. Ele não parecia ser ele mesmo nos últimos dias”. É como um sonho de desejo de dois homossexuais vivendo juntos


Para o psicólogo, as duas personagens resgatavam as práticas gregas entre homens mais velhos e os efebos: a pederastia (termo que também foi usado para designar a homossexualidade como doença). Sendo assim, Batman e Robin não estavam apenas “ensinando” (Deus me ajude!) aos garotos serem homossexuais, mas que a relação entre um pré-adolescente e um homem maduro era algo legal.

No texto, todo ataque vinha com a exposição de casos clínicos como o indicado abaixo:

Um menino de treze anos foi tratado por mim na Clínica enquanto estava em liberdade condicional por vários anos. Ele e um companheiro forçaram um menino de oito anos, ameaçando-o com uma faca, para despir-se e realizar práticas sexuais com eles.

Seduction of Innocent gerou uma autocensura na indústria: o Comics Code Authority, selo que certificava que a publicação estava livre daquilo que poderia ser considerado subversivo. As histórias ficaram cada vez mais infantis. Para estudiosos esse período (1945-1956) como Era das Trevas.

Com o passar dos anos, os ânimos foram se amainando, os super-heróis voltaram a vender e o Comics Code Authority deixou de ser usado, mas foi apenas recentemente, em 2013, que Frederic Werthan foi desmascarado: a professora doutora Carol L. Tilley, da Universidade de Illinois em seu artigo “Information & Culture: A Journal of History” demonstra que dados utilizados por Frederic Werthan estavam incorretos. Ele não só alterou, mas “manipulou, exagerou, comprometeu e fabricou evidências”, utilizando, entre outros recursos, crianças com transtornos psiquiátricos, de quatro hospitais diferentes, para validar sua pesquisa.

Talvez, o que possamos levar de lição desse episódio é que não adiantaria nada Werthan escrever Seduction of Innocent se a sociedade na qual ele estava inserido não tivesse ideias muito parecidas com as deles: que a homossexualidade é uma doença, que mulheres fortes odeiam homens… O imaginário só é compartilhado entre seus pares.

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Gibiteca Refil

#MulherMaravilha80anos – Do Polígrafo ao Laço da Verdade

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“Bela como Afrodite; sagaz como Atena; dotada da velocidade de Mercúrio e da força de Hércules – nós a conhecemos como Mulher-Maravilha. Mas quem pode nos dizer quem é ela ou de onde ela veio?” – All-Star Comics, dezembro de 1941

A Mulher-Maravilha não foi a primeira super-heroína dos quadrinhos e definir esse posto é algo bastante complexo. Levando-se em conta o que entendemos como super-herói (ter uma identidade secreta, poderes e usar um uniforme) o consenso é que a primeira super-heroína dos quadrinhos é a Hawkgirl, conhecida por aqui como Mulher-Gavião. Como explicar, então, que tamanha popularidade de Diana faça com que nem cogitemos acreditar nisso? É simples: o conceito.

Muitas personagens femininas foram criadas a partir do clichê Ms. Male Character, isto é, a versão feminina de uma personagem masculina. Shiera era a versão feminina do Gavião Negro, além de sua parceira amorosa, assim como as primeiras concepções de Miss Marvel e Batwoman. A Mulher-Maravilha já foi criada como uma personagem independente, com seu próprio mundo fictício e histórias em consonância com as discussões do período.

A primeira aparição de Diana no universo DC se deu em dezembro de 1941 na All-Star Comics número 8. Essa ainda não contava a origem da personagem, mas a história das Amazonas e o motivo delas irem parar em Themyscira. A narrativa do nascimento de Diana, que permaneceria intacta até sua reformulação pós-Crise, seria apresentada apenas em Wonder Woman número 1: esculpida por Hipólita, a partir do barro de Themyscira, a escultura desperta na Rainha das Amazonas um sentimento profundamente maternal e o desejo de que a forma tome vida, em uma releitura do mito de Pigmaleão e Galatéia. Afrodite atende ao pedido de Hipólita, trazendo a criança à vida, dando-lhe o nome de Diana, em homenagem a irmã gêmea de Apolo, deusa da Lua e da caça. O que nos faz pensar: como seus criadores chegaram a essas referências?

“Sinceramente, a Mulher-Maravilha é propaganda psicológica com vistas ao novo tipo de mulher que, na minha opinião, deveria dominar o mundo.”  William Moulton Marston, março de 1945

A criação da personagem é atribuída ao roteirista Charles Moulton, pseudônimo do psicólogo William Moulton Marston, conhecido também como o inventor do polígrafo (a máquina da verdade). Já a concepção visual ficou a cargo de Harry G. Peter. Sempre esquecida nesta equação, porém, estava Elizabeth Holloway Marston esposa de William Marston e a quem o próprio se referia como coautora da personagem.

A luta pela igualdade feminina, presente nas primeiras histórias da Mulher-Maravilha – segundo Jill Lepore na biografia A história secreta da Mulher-Maravilha – remonta os primeiros anos de Marston em Harvard com o movimento pelo voto feminino e, principalmente, após ele ter ouvido a palestra da sufragista inglesa Emmeline Pankurst. Quase impedida de falar na universidade, simplesmente por ser mulher, Pankurst deixou Marston “fascinado, emocionado”. Já as referências gregas, possivelmente vieram de Holloway que amava a língua e as histórias que estudou em seus anos no ensino médio.

Desde a palestra de Emmeline Pankurst, a Mulher-Maravilha levou três décadas para aparecer, quando o seu principal idealizador já tinha 48 anos. Marston, após afirmar que via nos quadrinhos um grande potencial educacional, tornou-se uma espécie de psicólogo consultor da DC Comics. Foi aí que sugeriu ao editor Max Gaines uma super-heroína. A resposta inicial de Gaines foi dizer que personagens pulp e de quadrinhos femininas sempre eram um fracasso. Marston engendrou em argumento todos os anos em que defendeu os direitos das mulheres, recebendo a resposta “fiquei com o Superman depois que todo syndicate do país recusou. Vou dar uma chance a sua Mulher-Maravilha!”. Como condição o próprio Marston deveria escrever as histórias e se depois de seis meses os leitores não gostassem, essa seria descontinuada. Parece que acabou dando certo!

Como dito, Mulher-Maravilha não foi a primeira super-heroína, de fato, mas acredito que se tornou a primeira super-heroína por direito. Assim, convido você a comemorar durante os próximos meses os 80 anos de suas histórias e imaginário criados para a princesa amazona.

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