Reviews e Análises
Os Banshees de Inisherin – Crítica
“As banshees provêm da família das fadas, e é a forma mais obscura delas. Eram como seres que previam a morte, seu grito poderia ser ouvido a quilômetros de distância, e poderia estourar até mesmo um crânio. As banshees resumidamente eram consideradas mensageiras da morte, algo sobrenatural.”
E é sob o olhar dessa fada mensageira da morte que o filme “Banshees de Inisherin” mostra uma luta brutal por uma amizade. Tem tretas de cidade pequena, tem guerra de plano de fundo, tem discussão sobre capacitismo. Ahh galera, filme de Oscar né. Chaaaato pra caramba? Sim. Mas se você calça seu All Star verde, esse é seu lugar.
O filme é dirigido a 10km/h pelo cineasta Matin Mcdonagh, onde também dirigiu “Sete psicopatas e um Shit Tzu” de 2012 (adorei o nome), e “Três anúncios para um crime” de 2017. A fotografia do filme é maravilhosa, ele traz uma visão contemplativa. A lentidão mostra bem como o tempo passa ali, o tempo como as informações correm e chegam e inclusive como demora para haver mudanças por ali. Mas é chato pra caceta. Noooossssa.. Agora assim, não dá pra negar que isso valoriza muito a dramaticidade da trama. De resto, não tem o que dizer, o cara é um excelente diretor e sabe o que está fazendo.
O roteiro carrega também a assinatura do diretor. Então vamos lembrar que é filme pra Oscar. Isso quer dizer que vai ter que ter um questionamento sobre uma questão social ao menos. Precisa mostrar ter cenas conceituais ou contemplativas, e tem que brincar com técnicas do cinema. Double check em tudo. Mas os textos são muito bem escritos, o roteiro é bonito. A premissa é tocante e os motivos muito bem explorados. A trajetória dos personagens também é bem desenvolvida. Mas assim, é que nem assistir rinha de caramujo. A principio parece uma ideia legal, mas vai ficar chato bem ali.
Sobre o elenco.. ave. Realmente me impressionou. Temos Colin Farrell (“As viúvas” de 2018 e “Batman” de 2022) como Pádraic Súilleabháin, o nosso personagem principal e que não aceita o fim de sua amizade repentina com Colm Doherty, interpretado por Brendan Gleeson (“Hampstead: nunca é tarde para amar” de 2017 e “Calvário” de 2014). Como a irmã de Pádraic, temos Siobhán Súilleabháin, interpretada por Kerry Condon (“Três anúncios para um crime” de 2017 e “Dreamland: sonhos e ilusões” de 2019). E temos os demais trabalhando muito bem no elenco como Barry Keoghan (“Dunkirk” de 2017 e “A lenda do cavaleiro verde” de 2021), interpretando um jovem com deficiência intelectual e motora da cidade chamado Dominic Kearney, temos também Gary Lydon (“Cavalo de guerra” de 2011 e “A maldição da floresta” de 2015), interpretando o policial e pai abusador de Dominic chamado Peadar Kearney e por fim a Banshee da cidade, a velha bruxa Mrs McCormick interpretada por Sheila Flitton (“Conhecendo meu pai” de 1998 e “O homem do norte” de 2022). E todos dando um show de interpretação.
Mas e sobre o que é o filme? Vivendo em uma comunidade pequena, acabam que todos se conhecem. E por razões pessoais Colm resolve pôr um fim em uma amizade de anos apenas por ter novos objetivos de vida e cansar do pensamento limitado de Pádraic. Pádraic não aceita esse término e trava uma verdadeira guerra para ter seu amigo de volta. Mas o mundo muda, as pessoas mudam, e a mudança se mostra clara no pensamento das personagens e em suas atitudes. E com isso vem sua mudança de postura. Com direito a “Cada vez que você falar comigo eu arrancarei um dedo e jogarei em você.” Será que ele teve coragem de fazer isso? Assista e confira.
O filme enquanto obra é 5 de 5 e é essa que vai pras estrelinhas aqui embaixo. Mas como eu sei que vc não tem um all star verde, é bem um 2 de 5.
O filme estreia dia 02 de fevereiro nos cinemas brasileiros. Mas é possível achar ele em streaming, caso você não queira assistir em tela graande.
Reviews e Análises
Ainda Estou Aqui – Crítica
Existem alguns filmes que ao assistirmos apenas os primeiros dez minutos já temos a percepção de estarmos diante de um clássico ou de uma obra-prima. É o caso de O Poderoso Chefão, por exemplo. Ou de Cidade de Deus, para trazer mais perto da nossa realidade brasileira. Não é o caso de Ainda Estou Aqui, novo filme de Walter Salles que chega aos cinemas dia 7 de novembro.
Não. Ainda Estou Aqui demora um pouco mais para percebermos que estamos diante de um dos melhores filmes brasileiros já feitos. E isso é fácil de entender, simplesmente porque a história é contada no tempo dela, sem pressa de acontecer. Mas quando você chegar na cena em que a personagem principal se vê presa, você não vai esquecer desse filme nunca mais na sua vida.
Baseado no livro de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva, o filme conta a história da família de Marcelo, que em 1970 passou pela traumatizante experiência de ter o pai, o ex-deputado e engenheiro Rubens Paiva, simplesmente levado arbitrariamente pela Ditadura Militar e nunca mais retornar.
Ainda Estou Aqui começa te estabelecendo como um observador da família. E como ele leva tempo para te mostrar todo o cotidiano e te apresenta os personagens aos poucos, o espectador vai se tornando parte daquele núcleo familiar. Quando as coisas vão ficando sinistras, você já está envolvido e consegue sentir a mesma angústia e desespero que a família sentiu.
Fernanda Torres está simplesmente deslumbrante como Eunice Paiva. Forte, aguerrida, destemida, o que essa mulher aguentou não foi brincadeira. E Fernanda transmite isso como nenhuma outra atriz seria capaz. Selton Mello interpreta Rubens Paiva com muita simpatia e tenacidade. Simples sem ser simplório. Você literalmente quer ser amigo dele.
O elenco da família, crianças e adolescentes também está simplesmente perfeito. Todos impecáveis, assim como todo o elenco de apoio. Destaque também para a ponta da diva Fernanda Montenegro, como a Eunice idosa que, em no máximo cinco minutos de tela e sem dizer uma palavra, mostra porque é a maior atriz de todos os tempos.
Com um roteiro muito bem escrito e uma direção impecável, aliados a uma fotografia perfeita, é impossível apontar qualquer defeito neste filme. Com uma temática ainda necessária nos dias de hoje, é um dever cívico assistir a Ainda Estou Aqui, o melhor filme de 2024, sem sombra de dúvida.
Nota 5 de 5
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