Reviews e Análises
Sra Harris Vai a Paris – Crítica

Tem filmes que dão um calorzinho no coração. E esse é um daqueles que adoçam seu ânimo desde a primeira cena. Ele te pega pela mão e leva você para passear. E se você não for muito insensível vai escapulir uns “Owwnn” em algum momento. Estou falando de “Sra Harris vai a Paris”, e que filme gostoso. Já vou dizer aqui: vai assistir porque vale bem a pena.

Esse Marry Poppins da alta costura é dirigido por Anthony Fabian, que tem em sua trajetória o filme “Skin” e “Mais de mil palavras”, ambos de 2013. O cara faz uma condução sonora eficaz para conquistar a empatia do público, Traz uma fotografia doce e um ritmo contagiante. Em música seria chamado de andamento “Allegro”. O filme não cria barriga, não cai na condução, e produz uma catarse impressionante.
No roteiro temos muitas mãos que souberam trabalhar juntas. Participam o diretor Anthony Fabian junto com Paul Gallico, autor do livro que inspira o filme, e Carrol Cartwright (“Dungeons & dragon: A aventura começa agora”, de 2000, “Pelos olhos de Maisie”, de 2012). Paul é um escritor que teve muita referência nos anos 60, 70 e 80. Sabe o que está fazendo e essa adaptação e montagem foi muito bem construída em todos os conflitos, clímax, apresentações de personagens, reviravoltas, oscilações de emoção. Muuuuito beem escrito.

O elenco é um negócio, viu. A coesão das cenas e o trabalho de contracenação foi delicioso. E precisava ser. Temos Lesley Manville (“Deixe-o partir”, de 2020, “Trama Fantasma”, 2017) como Sra Harris, a protagonista e uma personagem senhorinha adorável. Ellen Thomas (“Instinto selvagem 2”, de 2006, “O retorno de Johnny English”, 2011) como Violet Butterfield e melhor amiga de Sra Ada Harris. Tem também Alba Baptista (“Patrick”, de 2019, “Fátima: a história de um milagre”, 2020) como Natasha, que é modelo da Dior e se torna protegida da Sra Harris. Lucas Bravo como André Fauvel, contador da marca Dior e quem abriga e ajuda senhora Ada. Rose Williams (“The Power”, 2021, “Além das palavras”, 2016) como a cretina Pamela Penrose, e não vou falar mais sobre ela. Isabelle Huppert (“A professora de piano”, 2001, “Elle”, 2016) como a megera Claudine Colbert, gerente geral da marca Dior. E por fim Jason Isaacs (“O patriota”, de 2000, “Harry Potter e as relíquias da morte 1 e 2”, 2010 – 2011) como o fofo Archie. E olha… só de falar de todo esse elenco e suas experiências dão uma breve noção da qualidade oferecida.

Tá tudo muito bom, ta tudo muito bem, rasgamos muita seda, mas não falamos do filme. Essa é a estória de uma Senhora simples da Inglaterra que sofre a incerteza de se seu marido morreu ou não na guerra. Sra Ada Harris trabalha como faxineira e nas horas vágas costura pra complementar a renda. Exceto nas noites em que sua amiga Violet a leva para o pub para dançar e se distrair um pouco. Em um dos dias de trabalho ela é apresentada a um vestido Christian Dior, e é arrebatada. Coloca pra si a meta de adquirir um pra si. Junta suas economias como pode e com alguns percalços e vai à Paris atrás de seu sonho. Será que ela consegue? Como é a passagem dessa senhorinha sonhadora e muito contagiante por Paris? Aí eu vou deixar pra você, leitor, assistir e depois voltar pra dizer o que achou.
Esse filme vai levar um 5/5 porque ele é realmente delicioso e redondinho.
O filme estreia dia 24 de Novembro, nos cinemas.
Reviews e Análises
Lispectorante – Crítica

Lispectorante de Renata Pinheiro, diferente de outras produções baseadas na obra de Clarice Lispector – A Hora da Estrela (1985), de Suzana Amaral e A Paixão Segundo G.H. (2023) de Luiz Fernando Carvalho – não tem foco, especialmente, em nenhum texto da autora, mas consegue captar seu universo e soluciona o fluxo de consciência, característica primeira de sua literatura, através de cenas marcadas pelo fantástico.
Durante o longa acompanhamos Glória Hartman – uma artista plástica em crise, recém-divorciada e sem dinheiro – que retorna para sua terra natal, indo visitar sua tia Eva. Ao encontrar um guia de turismo com um grupo acaba interessando-se pelas informações sobre a casa de Clarice Lispector que, a partir daqui será o lugar do onírico e de profundas e solitárias discussões existenciais, preenchido por ruinas de um mundo apocalíptico.
Lispectorante, palavra inventada tradução do intraduzível, Oxe, pra mim listectorante é uma droga ilegal feita numa manhã de um Carnaval que se aproxima. Pra expectorar mágoas, prazeres, visgos e catarros num rio que vira charco
Entre o fazer artístico – sempre mostrado de forma fantástica, surrealista – e a necessidade de sustento, Glória se apaixona por Guitar, um artista de rua mais jovem com quem inicia um romance.
A escolha de Marcélia Cartaxo para viver Glória nos ajuda a encaixá-la no mundo de Clarice: é como se ela sempre tivesse estado ali, vivendo e sentindo todas aquelas subjetividades, mesmo sendo uma personagem de atitudes muito diferentes de Macabéa, que a atriz viveu em A Hora da Estrela. Glória é livre, mas seu momento de vida – uma mulher madura, recém-divorciada, sem dinheiro e em um “lance” com um homem mais jovem – nos remete as inseguranças de Macabéa – jovem, tímida e descobrindo o mundo. Ambas estão em transição!
Lispectorante é poético e tem um desfecho que não surpreende e nisso ele é excelente: não há outro caminho para o sentir do artista que as suas incertezas.
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