Reviews e Análises
O Menino e a Garça – Crítica

O Menino e a Garça é o mais novo filme de Hayao Miyazaki, o lendário diretor do Studio Ghibli, conhecido também por seus trabalhos fabulosos em Meu Amigo Totoro, a Viagem de Chihiro, A Princesa Mononoke, entre outros. Inclusive, esses dois últimos já foram tema de podcast aqui no Refil.
Dessa vez, Miyazaki adapta a obra de Genzaburo Yoshino, em um livro de 1937 que conta a história de um menino adolescente que parte em uma jornada de descobrimento espiritual, pobreza e sentido da vida.
Mahito, nosso protagonista, sofre a perda da mãe durante o começo da Segunda Guerra Mundial, o que faz com que sua vida confortável mude completamente. Transfere-se com o pai para o campo, longe da guerra nos centros urbanos e precisa aprender a conviver com a nova esposa do pai, que é ninguém menos do que a própria tia, irmã de sua falecida mãe.
Ainda de luto, Mahito tem contato com uma Garça-Real, um animal bonito e misterioso, que o atrai para uma espécie de templo. Ao entrar, Mahito vive uma jornada por um mundo que é compartilhado entre os vivos e os mortos, no qual passado, presente e futuro se mesclam, seres fantásticos são comuns e onde irá precisar aprender a lidar com a finitude da vida, o perdão e com o recomeço.
É difícil falar sobre uma obra de arte tão complexa e bela quanto O Menino e a Garça sem “chover no molhado”. Todas as obras do Studio Ghibli possuem um esmero único e perfeito e aqui não é diferente. O que pode-se dizer é que está tudo mais lindo do que nunca. O uso das cores, a fluidez, a infinidade de movimentos animados em tela ao mesmo tempo, tudo feito à mão com o uso de uma técnica impecável, são simplesmente um deleite para a alma do ser humano que assiste. Impossível não se emocionar com os personagens, que possuem profundidade, camadas, humanidade.

O Menino e a Garça: uma produção única
O filme entrou em produção em 2016 e Hayao Miyazaki saiu da aposentadoria especialmente para se dedicar ao projeto. A ideia era que o filme ficasse pronto para as Olimpíadas de 2020, mas devido à pandemia, acabou tendo que ser finalizado em home-office por seus animadores, o que atrasou a sua completude.
A animação teve ainda uma estratégia de marketing totalmente diferente lá no Japão. Foi lançado sem criação ou veiculação de peça publicitária alguma. Apenas o título foi revelado. Mesmo assim ele se tornou a segunda maior bilheteria de estreia de um filme do Studio Ghibli, e faturou US$ 11,3 milhões no primeiro fim de semana. O primeiro lugar continua com A Viagem de Chihiro, que conquistou US$ 13,1 milhões nos seus três primeiros dias de exibição em 2001.
A trilha sonora triste e melancólica, ao mesmo tempo esperançosa, composta por Joe Hishaishi já é uma das minhas favoritas no Spotify quando eu preciso relaxar, meditar ou aliviar os pensamentos e o coração. Simplesmente outra obra belíssima anexada ao filme e que ajuda a trazer a atmosfera de saudade e sentimentalismo a que se propõe.

Puro sentimento
A história pode ser bem complexa e difícil de digerir, mas aos poucos, assim como Mahito, o espectador vai entendendo o seu lugar dentro de tudo aquilo. E ao final é certo que os seus olhos estarão transbordando em lágrimas, assim como sua alma, agradecida pela oportunidade de participar da experiência de ver O Menino e a Garça. É um filme com uma mensagem clara sobre a finitude da vida, mas como ela só acaba momentaneamente, pois a família vai carregar para sempre o legado de quem se foi, seja na memória ou como for.
Uma obra de arte magnífica e que vale todo e qualquer sacrifício. Sublime e repleta de alma. Miyazaki-san arigato. 宮崎さんありがとう
Nota 5 de 5
Reviews e Análises
Lispectorante – Crítica

Lispectorante de Renata Pinheiro, diferente de outras produções baseadas na obra de Clarice Lispector – A Hora da Estrela (1985), de Suzana Amaral e A Paixão Segundo G.H. (2023) de Luiz Fernando Carvalho – não tem foco, especialmente, em nenhum texto da autora, mas consegue captar seu universo e soluciona o fluxo de consciência, característica primeira de sua literatura, através de cenas marcadas pelo fantástico.
Durante o longa acompanhamos Glória Hartman – uma artista plástica em crise, recém-divorciada e sem dinheiro – que retorna para sua terra natal, indo visitar sua tia Eva. Ao encontrar um guia de turismo com um grupo acaba interessando-se pelas informações sobre a casa de Clarice Lispector que, a partir daqui será o lugar do onírico e de profundas e solitárias discussões existenciais, preenchido por ruinas de um mundo apocalíptico.
Lispectorante, palavra inventada tradução do intraduzível, Oxe, pra mim listectorante é uma droga ilegal feita numa manhã de um Carnaval que se aproxima. Pra expectorar mágoas, prazeres, visgos e catarros num rio que vira charco
Entre o fazer artístico – sempre mostrado de forma fantástica, surrealista – e a necessidade de sustento, Glória se apaixona por Guitar, um artista de rua mais jovem com quem inicia um romance.
A escolha de Marcélia Cartaxo para viver Glória nos ajuda a encaixá-la no mundo de Clarice: é como se ela sempre tivesse estado ali, vivendo e sentindo todas aquelas subjetividades, mesmo sendo uma personagem de atitudes muito diferentes de Macabéa, que a atriz viveu em A Hora da Estrela. Glória é livre, mas seu momento de vida – uma mulher madura, recém-divorciada, sem dinheiro e em um “lance” com um homem mais jovem – nos remete as inseguranças de Macabéa – jovem, tímida e descobrindo o mundo. Ambas estão em transição!
Lispectorante é poético e tem um desfecho que não surpreende e nisso ele é excelente: não há outro caminho para o sentir do artista que as suas incertezas.
-
Livros em Cartaz3 semanas ago
Livros em Cartaz 074 – Pedro Páramo
-
QueIssoAssim2 semanas ago
QueIssoAssim 325 – Operação Documentário – Um papo com Rodrigo Astiz
-
Notícias3 semanas ago
Nova série do Disney+ sobre Jean Charles com participação de atriz paulistana Carolina Baroni
-
CO22 semanas ago
CO2 358 – O Resgate Duplo e o Contrabando