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Gibiteca Refil

Hellblazer: Hábitos Perigosos ou como não amar John Constantine?

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Nós dois estávamos na velha cafeteria. Julho. Lá fora, um homem macilento tentava, em vão, livrar-se dos pingos da garoa. Poderia ser Londres, mas era São Paulo.
De repente, alguém fez-me voltar. Meu amigo, à esquerda, chama-me a atenção ao falar do mago e de seus estratagemas – ora simplórios, ora ousados – que o ajudaram a enganar os Três Caídos e a curar-se de um câncer de pulmão terminal. Fala desse homem, com pecados demais para ousar morrer. Embriagada pelo ar quente do lugar e completamente absorvida pelo horror fantástico da narrativa, sussurro, de forma quase inaudível: “Ele é um gênio”. Meu amigo, prontamente, corrigiu-me, levantando-se para ascender um cigarro: “Gênio? Talvez, mas principalmente um grande Filho da Puta”.

A cena acima – guardando, claro, as licenças poéticas – realmente aconteceu. Foi assim que conheci John Constantine, apresentado-me por meu grande amigo em 2000.

O arco? Hellblazer: Hábitos Perigosos, escrita por Garth Ennis e com a perturbadora arte de Will Simpson. Para aqueles que nunca leram os quadrinhos, mas assistiram ao filme, esta é a história na qual o longa foi baseado.

Nas Hqs, assim como no filme, John Constantine está morrendo em decorrência de um câncer no pulmão, conseguido pelo consumo contumaz de incontáveis maços de cigarro. Ao receber a má notícia, ele decide visitar seu amigo Brendan, que talvez possa livrá-lo da doença. O que John não poderia adivinhar é que, assim como ele, Brendan também estava morrendo, mas de cirrose. Quando o amigo morre, ao tomar o último gole da melhor cerveja do mundo, transmutada, com magia, a partir de água benta, um dos Três Caídos vem levar a alma do defunto para o inferno. No acordo, o demônio só poderia levá-lo até a meia-noite, caso contrário, esta estaria livre.

John decide dar uma última cartada para ajudar a alma do amigo: serve a cerveja de água benta para o demônio, que não gosta nada da experiência, sumindo e não conseguindo levar Brendan, mas prometendo buscar Constantine.

Se antes John não queria morrer, agora ele não podia morrer.

A partir daqui, John pede ajuda para alguns amigos – e para outros não tão amigos assim – sem sucesso. Até que consegue elaborar um plano simples, mas audacioso, que acaba por salvá-lo, pelo menos por enquanto.

O desenhista Will Simpson – hoje mais conhecido por transformar em imagens as descrições de George R.R. Martin nos storyboards de Game Of Thrones – mantem a estética dos números anteriores, retratando uma Londres decadente, calcada no real, mesmo quando mostrar as entranhas é necessário.

Hellblazer: Hábitos Perigosos pode não ter sido a melhor coisa escrita por Garth Ennis, mas certamente foi um divisor de águas em sua carreira: ele vinha substituir Jamie Delano (que ficou 40 números no título) naquela que seria sua primeira incursão nos quadrinhos americanos.


Título:
Hellblazer: Hábitos Perigosos
Autor: Garth Ennis (roteiro) e Will Simpson (arte)
Tradução:  Fabiano Denardin e Guilherme da Silva Braga
Editora: Panini Comics
Ano: 2014
ISBN: 9788594541185
Ficha técnica completa no Guia dos Quadrinhos 

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Gibiteca Refil

#MulherMaravilha80anos – Do Polígrafo ao Laço da Verdade

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“Bela como Afrodite; sagaz como Atena; dotada da velocidade de Mercúrio e da força de Hércules – nós a conhecemos como Mulher-Maravilha. Mas quem pode nos dizer quem é ela ou de onde ela veio?” – All-Star Comics, dezembro de 1941

A Mulher-Maravilha não foi a primeira super-heroína dos quadrinhos e definir esse posto é algo bastante complexo. Levando-se em conta o que entendemos como super-herói (ter uma identidade secreta, poderes e usar um uniforme) o consenso é que a primeira super-heroína dos quadrinhos é a Hawkgirl, conhecida por aqui como Mulher-Gavião. Como explicar, então, que tamanha popularidade de Diana faça com que nem cogitemos acreditar nisso? É simples: o conceito.

Muitas personagens femininas foram criadas a partir do clichê Ms. Male Character, isto é, a versão feminina de uma personagem masculina. Shiera era a versão feminina do Gavião Negro, além de sua parceira amorosa, assim como as primeiras concepções de Miss Marvel e Batwoman. A Mulher-Maravilha já foi criada como uma personagem independente, com seu próprio mundo fictício e histórias em consonância com as discussões do período.

A primeira aparição de Diana no universo DC se deu em dezembro de 1941 na All-Star Comics número 8. Essa ainda não contava a origem da personagem, mas a história das Amazonas e o motivo delas irem parar em Themyscira. A narrativa do nascimento de Diana, que permaneceria intacta até sua reformulação pós-Crise, seria apresentada apenas em Wonder Woman número 1: esculpida por Hipólita, a partir do barro de Themyscira, a escultura desperta na Rainha das Amazonas um sentimento profundamente maternal e o desejo de que a forma tome vida, em uma releitura do mito de Pigmaleão e Galatéia. Afrodite atende ao pedido de Hipólita, trazendo a criança à vida, dando-lhe o nome de Diana, em homenagem a irmã gêmea de Apolo, deusa da Lua e da caça. O que nos faz pensar: como seus criadores chegaram a essas referências?

“Sinceramente, a Mulher-Maravilha é propaganda psicológica com vistas ao novo tipo de mulher que, na minha opinião, deveria dominar o mundo.”  William Moulton Marston, março de 1945

A criação da personagem é atribuída ao roteirista Charles Moulton, pseudônimo do psicólogo William Moulton Marston, conhecido também como o inventor do polígrafo (a máquina da verdade). Já a concepção visual ficou a cargo de Harry G. Peter. Sempre esquecida nesta equação, porém, estava Elizabeth Holloway Marston esposa de William Marston e a quem o próprio se referia como coautora da personagem.

A luta pela igualdade feminina, presente nas primeiras histórias da Mulher-Maravilha – segundo Jill Lepore na biografia A história secreta da Mulher-Maravilha – remonta os primeiros anos de Marston em Harvard com o movimento pelo voto feminino e, principalmente, após ele ter ouvido a palestra da sufragista inglesa Emmeline Pankurst. Quase impedida de falar na universidade, simplesmente por ser mulher, Pankurst deixou Marston “fascinado, emocionado”. Já as referências gregas, possivelmente vieram de Holloway que amava a língua e as histórias que estudou em seus anos no ensino médio.

Desde a palestra de Emmeline Pankurst, a Mulher-Maravilha levou três décadas para aparecer, quando o seu principal idealizador já tinha 48 anos. Marston, após afirmar que via nos quadrinhos um grande potencial educacional, tornou-se uma espécie de psicólogo consultor da DC Comics. Foi aí que sugeriu ao editor Max Gaines uma super-heroína. A resposta inicial de Gaines foi dizer que personagens pulp e de quadrinhos femininas sempre eram um fracasso. Marston engendrou em argumento todos os anos em que defendeu os direitos das mulheres, recebendo a resposta “fiquei com o Superman depois que todo syndicate do país recusou. Vou dar uma chance a sua Mulher-Maravilha!”. Como condição o próprio Marston deveria escrever as histórias e se depois de seis meses os leitores não gostassem, essa seria descontinuada. Parece que acabou dando certo!

Como dito, Mulher-Maravilha não foi a primeira super-heroína, de fato, mas acredito que se tornou a primeira super-heroína por direito. Assim, convido você a comemorar durante os próximos meses os 80 anos de suas histórias e imaginário criados para a princesa amazona.

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