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Reviews e Análises

Fé e Fúria – Crítica

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Diga-me com quem tu andasss…. “fé cega, faca amolada” (Beto Guedes e Milton Nascimento) Pois é. E é assim que eu começo esse texto de um documentário que gera no mínimo um incômodo. E há de se esperar que não seja um incômodo religioso, mas filosófico e social. Como religião e política não se discutem, vamos falar da violência.

Fé e Fúria, Embaúba filmes, 2022

Dirigido por Marcus Pimentel (“Pele”, 2021, “A parte do mundo que me pertence”, 2017, “Sopro”, 2013), que fez um trabalho de pesquisa riquíssimo e com uma montagem maravilhosa, consegue trazer ao espectador um incômodo que é parte cotidiana às personas do filme. Matheus Rocha fez também um trabalho muito bem construído na fotografia, merece esse elogio. Lembrando como linguagem impar, documentários tem ritmo códigos próprios de execução, que quando bem executados, prendem o expectador. E aqui é o caso.

Fé e Fúria, Embaúba filmes, 2022

Para o caso de roteiro, sob os cuidados de Marcus Pimentel e Ivan Morales Jr (“Ossos da Saudade”, 2021, “A parte do mundo que me pertence”, 2017, “Sopro”, 2013), houve uma construção organizada de apresentação da questão e o escalonamento do problema apresentado de maneira clara e bem separada sobre as desigualdades e violências geradas a partir de um poder indireto. A estruturação do roteiro é clara e muito bem apresentada, embasada, inclusive com contrapontos, em todas as etapas. Sobre elenco não cabe falar, a não ser que todas as partes testemunhais tem propriedade para apresentar os pontos do filme.

Fé e Fúria, Embaúba filmes, 2022

Tudo muito bom, tudo não muito bem… mas do que se trata este documentário? Se trata de mostrar que não somos um estado laico. E mais do que isso: como existe um apoio de políticas públicas para privilegiar algumas religiões. E se isso não fosse o bastante, mostra que não só políticas públicas, mas também facções criminosas se aliam a grupos religiosos para obter vantagens e praticar intolerância religiosa. Sim, isso mesmo que você leu, de político a líder de morro propagando violências físicas, verbais, desapropriação de terras e etc, contra grupos religiosos. Problemas que se estendem desde sala de aula até atendimento em hospitais.

Fé e Fúria, Embaúba filmes, 2022

Tendo como referências bairros e comunidades do Rio de Janeiro e Belo Horizonte, o documentário mostra relatos colhidos entre 2016 e 2018, por pessoas que passam por situações de constrangimento ou violência por expressarem sua religiosidade. Ou para que justamente não expressem. O documentário não traz uma linguagem complexa e nem fatos secretos, muitas das situações são vistas claramente ou de fácil conferência e traz frases pungentes que facilmente nos atingem a reflexão. 

Fé e Fúria, Embaúba Filmes, 2022

Essa crítica dá um 3,5 para esse documentário, muito bem feito e tema importante de ser discutido. Tem uma boa qualidade e vale muito a pena assistir.

Avaliação: 3.5 de 5.

Filme estreia dia 12 de outubro de 2022.

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Reviews e Análises

Lispectorante – Crítica

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Lispectorante de Renata Pinheiro, diferente de outras produções baseadas na obra de Clarice Lispector – A Hora da Estrela (1985), de Suzana Amaral e A Paixão Segundo G.H. (2023) de Luiz Fernando Carvalho – não tem foco, especialmente, em nenhum texto da autora, mas consegue captar seu universo e soluciona o fluxo de consciência, característica primeira de sua literatura, através de cenas marcadas pelo fantástico.

Durante o longa acompanhamos Glória Hartman – uma artista plástica em crise, recém-divorciada e sem dinheiro – que retorna para sua terra natal, indo visitar sua tia Eva. Ao encontrar um guia de turismo com um grupo acaba interessando-se pelas informações sobre a casa de Clarice Lispector que, a partir daqui será o lugar do onírico e de profundas e solitárias discussões existenciais, preenchido por ruinas de um mundo apocalíptico.

Lispectorante, palavra inventada tradução do intraduzível, Oxe, pra mim listectorante é uma droga ilegal feita numa manhã de um Carnaval que se aproxima. Pra expectorar mágoas, prazeres, visgos e catarros num rio que vira charco
Entre o fazer artístico – sempre mostrado de forma fantástica, surrealista – e a necessidade de sustento, Glória se apaixona por Guitar, um artista de rua mais jovem com quem inicia um romance.

A escolha de Marcélia Cartaxo para viver Glória nos ajuda a encaixá-la no mundo de Clarice: é como se ela sempre tivesse estado ali, vivendo e sentindo todas aquelas subjetividades, mesmo sendo uma personagem de atitudes muito diferentes de Macabéa, que a atriz viveu em A Hora da Estrela. Glória é livre, mas seu momento de vida – uma mulher madura, recém-divorciada, sem dinheiro e em um “lance” com um homem mais jovem – nos remete as inseguranças de Macabéa – jovem, tímida e descobrindo o mundo. Ambas estão em transição!

Lispectorante é poético e tem um desfecho que não surpreende e nisso ele é excelente: não há outro caminho para o sentir do artista que as suas incertezas.

Avaliação: 3 de 5.
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Burburinho

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