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Reviews e Análises

Animais Fantásticos e Onde Habitam | Crítica

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Lembro-me bem quando em 2001 fui ao cinema para ser apresentado ao mundo mágico criado por J. K. Rowling. Como foi encantador acompanhar a jornada de Harry, Rony e Hermione por 10 anos! Em 2016, após cinco anos de espera desde o último filme da saga de Harry, Animais Fantásticos e Onde Habitam trás de volta aos cinemas o mundo mágico de Rowling – e como é bom visitar essa magia novamente, mesmo que em um contexto completamente diferente. Dessa vez a história se passa em outra época, noutro lugar e com personagens desconhecidos que possuem diferentes desafios. Mas é claro que as referências (sutis e naturais) aos filmes originais não foram deixadas de lado (para a alegria dos fãs).

Newt Scamander (Eddie Redmayne) é um magizoologista (estudioso das criaturas mágicas) que viaja o mundo catalogando animais fantásticos. No ano de 1926, numa viagem aos Estados Unidos, Newt esbarra em Jacob Kowalski (Dan Fogler), um não-mágico ou “trouxa”, e acidentalmente escapam alguns animais de sua maleta. Em meio aos perversos ataques de um poderoso bruxo das trevas, Newt e Jacob saem em busca dos animais perdidos e para isso contam com a ajuda de Porpentina Goldstein (Katherine Waterston), uma funcionária do Congresso Mágico dos Estados Unidas da América (MACUSA) e sua irmã Queenie Goldstein (Alison Sudol).

J. K. Rowling, que já se mostrou uma ótima escritora de livros, aqui assina pela primeira vez um roteiro cinematográfico – e que bela estreia faz a britânica! Rowling escreve um roteiro inteligente ao conectar linhas narrativas (em suas tramas e subtramas) e personagens com diferentes ambições, completando os arcos destes e deixando bem clara a função de cada um no decorrer da narrativa. Merece crédito também pela ótima ambientação que faz aos anos vinte nova-iorquinos (e nesse aspecto o figurino do filme faz um trabalho fabuloso) em pleno período de Lei Seca (onde era proibido o comércio e consumo de bebidas alcoólicas). Bate de frente também com o sistema político dos EUA e suas leis retrógradas, além de combater o preconceito de forma sutil. Tem um pouco de tudo no roteiro de Rowling – e o melhor: nada é gratuito, tudo tem função. Os recursos de construção são usados com maestria, aproveitando todas as camadas do roteiro. Arrisco dizer que não teria pessoa melhor para roteirizar o filme do que a própria criadora do universo mágico, que agora tem a liberdade de criar uma história nova em cima do próprio roteiro, já que este não é uma adaptação de seus livros (como na saga Harry Potter) e sim uma inspiração do livreto didático que dá o mesmo nome ao filme.

É encantador ver as curiosidades do mundo-bruxo que seriam equivalentes aos do mundo não-bruxo. Como por exemplo na cena do bar bruxo clandestino, onde os elfos domésticos atuam como garçons, cantores e bartenders ou no plano em que os elfos “engraxam” as varinhas dos bruxos, polindo-as. Ponto positivo para o diretor David Yates (responsável pelos últimos quatro filmes da saga Harry Potter) que retrata o funcionamento de certos artifícios como roupas sendo lavadas sozinhas, máquinas escrevendo e papéis se auto-picotando de maneira natural, sempre em segundo plano, como se fosse um bônus para os fãs – e toda as cenas de magia e com os animais fantásticos são extremamente bem trabalhadas com efeitos visuais dignos de Oscar, proporcionando uma ótima experiência visual (recomendo inclusive o uso da boa versão 3D do filme).

São perceptíveis as várias atmosferas que permeiam o filme, passando por ambientações felizes e sombrias. Com isso, a fotografia de Philippe Rousselot traz uma Nova Iorque dessaturada que reflete na personalidade dos habitantes. Aliás, James Newton Howard é extremamente feliz ao compor a trilha sonora do filme, sendo eficiente ao dar o tom “mágico” ao mesmo tempo em que homenageia os filmes da saga de Harry – e o próprio John Williams.

Com uma produção tão cuidadosa, o elenco não poderia ser mais acertado. Eddie Redmayne (A Garota Dinamarquesa, A Teoria de Tudo) aqui encarna o protagonista Newt Scamander num papel que é perfeito para seu estilo de atuação. Se em filmes anteriores ele entrega atuações estilizadas, ou até mesmo forçadas, aqui representa um Newt com naturalidade, demonstrando a dificuldade do personagem em lidar (e olhar) para as pessoas e a facilidade em lidar com animais (sua verdadeira paixão). Dan Fogler é cuidadoso o bastante para não deixar que seu Jacob seja apenas o alívio cômico do filme, sendo engraçado em momentos pontuais e fazendo de seu caráter algo bem maior. Tina é interpretada por Katherine Waterston como uma tímida funcionária da MACUSA, mas que tem a coragem necessária para agir da maneira correta. Colin Farell dá a frieza necessária a Graves, enquanto Alison Sudol concede afetividade à adorável e sorridente Queenie – e, não podendo ficar de fora da lista, Ezra Miller esconde o medo sombrio sob a apatia de Credence Barebone.

J.K. Rowling mostrou que tem uma imaginação sem limites e que há muito a ser explorado em seu universo. O resultado dessa ótima produção confirma o potencial da nova saga. Fica também o desejo de que os próximos filmes sejam tão mágicos quanto foi a jornada de Harry e seus amigos. Mal posso esperar por 2018.

Nota: 5/5.

Por Henrique Xaxá.

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Lispectorante – Crítica

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Lispectorante de Renata Pinheiro, diferente de outras produções baseadas na obra de Clarice Lispector – A Hora da Estrela (1985), de Suzana Amaral e A Paixão Segundo G.H. (2023) de Luiz Fernando Carvalho – não tem foco, especialmente, em nenhum texto da autora, mas consegue captar seu universo e soluciona o fluxo de consciência, característica primeira de sua literatura, através de cenas marcadas pelo fantástico.

Durante o longa acompanhamos Glória Hartman – uma artista plástica em crise, recém-divorciada e sem dinheiro – que retorna para sua terra natal, indo visitar sua tia Eva. Ao encontrar um guia de turismo com um grupo acaba interessando-se pelas informações sobre a casa de Clarice Lispector que, a partir daqui será o lugar do onírico e de profundas e solitárias discussões existenciais, preenchido por ruinas de um mundo apocalíptico.

Lispectorante, palavra inventada tradução do intraduzível, Oxe, pra mim listectorante é uma droga ilegal feita numa manhã de um Carnaval que se aproxima. Pra expectorar mágoas, prazeres, visgos e catarros num rio que vira charco
Entre o fazer artístico – sempre mostrado de forma fantástica, surrealista – e a necessidade de sustento, Glória se apaixona por Guitar, um artista de rua mais jovem com quem inicia um romance.

A escolha de Marcélia Cartaxo para viver Glória nos ajuda a encaixá-la no mundo de Clarice: é como se ela sempre tivesse estado ali, vivendo e sentindo todas aquelas subjetividades, mesmo sendo uma personagem de atitudes muito diferentes de Macabéa, que a atriz viveu em A Hora da Estrela. Glória é livre, mas seu momento de vida – uma mulher madura, recém-divorciada, sem dinheiro e em um “lance” com um homem mais jovem – nos remete as inseguranças de Macabéa – jovem, tímida e descobrindo o mundo. Ambas estão em transição!

Lispectorante é poético e tem um desfecho que não surpreende e nisso ele é excelente: não há outro caminho para o sentir do artista que as suas incertezas.

Avaliação: 3 de 5.
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Burburinho

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