Reviews e Análises
A História da Minha Mulher – Crítica

Sabe quando te falta métrica para falar de um filme, mas por outro lado sobra interesse? Pois é. O filme é bom, muito bem construído, tu percebe o monte de conceito embutido ali, e desperta o interesse de ficar. Ainda mais que toda hora você muda de opinião sobre a esposa do cara, e até sobre ele também. E o que é uma boa obra senão conectar com seu público e mexer com suas emoções? Esse filme é bom em fazer isso. E vale adiantar também que é uma adaptação de um romance lançado em Fevereiro de 1989.

O filme tem direção de Ildikó Enyedi, uma diretora e autora húngara que também dirigiu “O meu século XX” de 1989 e “Corpo e alma” de 2017. Neste filme ela faz um trabalho belíssimo. A fotografia do filme é bonita, as escolhas de câmera em movimento são muito bem executadas, e eu poderia passar a tarde elogiando as boas escolhas que foram conduzidas por ela. Realmente o filme não deixa a desejar em nada tecnicamente. Nem mesmo nas inserções mais conceituais de referências de imagem. Sendo simples e direto: Excelente trabalho!
O roteiro tem as mãos adaptadoras de Ildikó sobre a obra literária de Milán Füst. Eu gostaria de dizer que o roteiro é delicado, mas não é. É um texto áspero, com cenas densas, com um rítmo que ora é turbulento e tempestuoso e outra hora calmo e fluido. Realmente não tenho referência da obra literária, mas a adaptação foi muito ajustada e feita com muita qualidade. Os segredos e viradas dos personagens, prendem você e fazem realmente você querer tomar partido na história.

Atuando temos Gijs Naber (“A Espiã” de 2006 e “Fiéis” de 2022) como o Capitão Jakob Störr e Léa Seydoux (“Azul é a cor mais quente” de 2013 e “007: Sem tempo pra morrer” de 2021) como Lizzy, o par que protagoniza o filme. Louis Garrel (“Um pequeno grande Plano” de 2021 e “Os três Mosqueteiro: D’Artagnan” de 2023) como Dedin e Luna Wedler (“Invasão de campo” de 2017 e “O falsificador” de 2022) como Grete, personagens que participam do relacionamento do casal principal. E Sergio Rubini como Kodor, amigo de Störr. Um show de atuação. Me impressionou a qualidade do trabalho de todos eles. Eu nem sei o que dizer, além de muitos aplausos.

Aqui conhecemos a história de um habilidoso capitão que se encontra em momento da vida onde deseja constituir uma família e contando isso para um amigo propõe: “me casarei com a primeira mulher que entrar pela porta do restaurante.” Cuidado com o que você deseja, rapaz. Assim conhecemos Lizzy, Uma bela mulher que já se apresenta sendo uma mulher, que não era bem o que o capitão esperava. Esse relacionamento é mostrado através de sete passos. A Lealdade de Störr em contrastante a Lizzy é palpável, e isso incomoda inclusive ela. Mas a trama se desenrola num crescente até que… Espera, melhor parar aqui. senão vou acabar revelando spoiler. Mais uma coisa. A analogia ao Störr com uma jubarte é maravilhosa e durante toda a história faz muito sentido.
Essa crítica da nota 5 de 5 pra esse filme sem nem tremer.
O filme estreia dia 15 de junho nos cinemas
Reviews e Análises
Lispectorante – Crítica

Lispectorante de Renata Pinheiro, diferente de outras produções baseadas na obra de Clarice Lispector – A Hora da Estrela (1985), de Suzana Amaral e A Paixão Segundo G.H. (2023) de Luiz Fernando Carvalho – não tem foco, especialmente, em nenhum texto da autora, mas consegue captar seu universo e soluciona o fluxo de consciência, característica primeira de sua literatura, através de cenas marcadas pelo fantástico.
Durante o longa acompanhamos Glória Hartman – uma artista plástica em crise, recém-divorciada e sem dinheiro – que retorna para sua terra natal, indo visitar sua tia Eva. Ao encontrar um guia de turismo com um grupo acaba interessando-se pelas informações sobre a casa de Clarice Lispector que, a partir daqui será o lugar do onírico e de profundas e solitárias discussões existenciais, preenchido por ruinas de um mundo apocalíptico.
Lispectorante, palavra inventada tradução do intraduzível, Oxe, pra mim listectorante é uma droga ilegal feita numa manhã de um Carnaval que se aproxima. Pra expectorar mágoas, prazeres, visgos e catarros num rio que vira charco
Entre o fazer artístico – sempre mostrado de forma fantástica, surrealista – e a necessidade de sustento, Glória se apaixona por Guitar, um artista de rua mais jovem com quem inicia um romance.
A escolha de Marcélia Cartaxo para viver Glória nos ajuda a encaixá-la no mundo de Clarice: é como se ela sempre tivesse estado ali, vivendo e sentindo todas aquelas subjetividades, mesmo sendo uma personagem de atitudes muito diferentes de Macabéa, que a atriz viveu em A Hora da Estrela. Glória é livre, mas seu momento de vida – uma mulher madura, recém-divorciada, sem dinheiro e em um “lance” com um homem mais jovem – nos remete as inseguranças de Macabéa – jovem, tímida e descobrindo o mundo. Ambas estão em transição!
Lispectorante é poético e tem um desfecho que não surpreende e nisso ele é excelente: não há outro caminho para o sentir do artista que as suas incertezas.
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