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Reviews e Análises

Argylle – O Superespião – Crítica

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Argylle - O Superespião

Existem filmes que irritam demais por tratarem o espectador como um idiota. É o caso de Argylle – O Superespião que estreia essa semana nos cinemas brasileiros. O filme conta a história de Elly Conway (Bryce Dallas Howard), uma escritora de livros de espionagem que acabou de entregar o seu quarto livro, de extremo sucesso. Crítica e público são unânimes em dizer que ela escreve melhor que Ian Fleming, John Le Carré e Frederick Forsyth. Quem trabalha com espionagem lê as histórias dela sobre o personagem Argylle (Henry Cavill) e acha que ela já deve ter trabalhado no meio, tamanha a precisão e riqueza de detalhes. Só daí já deu pra perceber aonde vamos, não é?

Ao entrar em um trem para visitar sua mãe, Elly é abordada pelo espião Aidan (Sam Rockwell) que a salva de um atentado. Segundo ele, as histórias dela estariam falando sobre coisas secretas reais envolvendo uma agência inimiga e que eles decidiram atacá-la antes que mais segredos sejam revelados por ela em seu próximo livro.

Sim, a premissa é nesse nível de doidera e inverossimilhança. Mas calma, que piora. Elly se vê envolvida em diversas situações com outros personagens, até que uma reviravolta que eu não vou contar aqui deixa tudo ainda mais absurdo e irreal.

Só podem estar tirando uma com a minha cara

Até aí, você diria, tudo bem, afinal desde o começo fica meio claro que o clima do filme pretende ser galhofa. Mas existe uma linha nada tênue entre a esculhambação completa e a galhofa divertida. E Argylle – o Superespião decide ir pela esculhambação completa. E não é no nível de um Austin Powers, um Duro de Espiar ou Johnny English. Não, o filme vai pro lado esculhambado mas parece querer fazer com que a gente acredite em todas aquelas maluquices que o roteirista inventou.

E é tanto malabarismo de roteiro que em determinado momento você se cansa e fica só esperando pelo final dessa bomba. Foram tantas as conveniências de roteiro com a desculpa de “ah é pra ser uma piada” que você não sabe mais se está realmente no cinema vendo essa aberração ou se está tendo um pesadelo. Teve um momento que a personagem respondeu com um frustrado “ai, eu não acredito” que eu tive que responder em voz alta: “eu também não”.

L to R: Sam Rockwell as Aiden and Bryce Dallas Howard is Elly Conway in ARGYLLE, directed by Matthew Vaughn

Argylle – O Superespião possui um elenco estrelado

Além dos já citados temos ainda Dua Lipa, Sofia Boutella, Samuel L. Jackson, John Cena, Ariana DeBose, Catherine O´Hara e Bryan Cranston. Cada um desses com papéis importantes e que somam mais confusão ao roteiro já estrambólico, frenético e escalafobético escrito por Jason Fuchs.

A direção de Matthew Vaughn foi o que mais me decepcionou. Em apenas um ou dois momentos lembrou a sombra do excelente diretor do primeiro Kingsman. Há cenas plásticas belíssimas, mas que perdem o impacto por terem sido finalizadas mirando o público adolescente, com uma violência pasteurizada sem sangue. É a violência sem violência, a comédia sem graça, a ação sem a emoção.

Porque Hollywood faz isso? Gasta toneladas de dinheiro em filmes bobocas sem o menor sentido, que parecem simplesmente querer ocupar uma sala de cinema sem fazer o mínimo? E sabe o que é pior? Vai ter gente sem referencial de filmes realmente bons, que cresceu assistindo porcarias como Venom, Morbius e Batman Vs Superman, que vai dizer que Argylle – O Superespião é excelente.

Só me resta repetir aqui as eternas palavras do meme da Renata Vasconcellos no JN: o filme é “xoxo, capenga, manco, anêmico, frágil e inconsistente”.

Avaliação: 1 de 5.

Nota 1 de 5

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1 Comment

1 Comment

  1. VALDIR FUMENE JUNIOR

    31 de janeiro de 2024 at 17:43

    Se fala muito em crise de criatividade de Hollywood, mas parece mais que o negócio é preguiça mesmo. E a preguiça tá levando a pobre de histórias.

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A Hora da Estrela – Crítica

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Quando se é aficionado por livros é comum alguma mania: ler a última página, tentar não “quebrar” a lombada de calhamaços enquanto se lê ou usar qualquer coisa que estiver a mão como marcador de páginas. Eu coleciono primeiros parágrafos: escrevo em pequenos cadernos que guardo na estante junto com os volumes que lhes deram origem. Claro que existem os favoritos como o de Orgulho e Preconceito (“É uma verdade universalmente conhecida que um homem solteiro, possuidor de uma boa fortuna, deve estar necessitado de uma esposa.”) e Anna Karenina (“Todas as famílias felizes são iguais, mas cada família infeliz é infeliz à sua maneira.”), mas nenhum fala tanto ao meu coração quanto o de “A Hora da Estrela”:

Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.

Agora, se você nunca leu “A Hora da Estrela”, pode dar uma chance a obra da autora ucrano-brasileira Clarice Lispector assistindo a adaptação realizada em 1985 pela cineasta Suzana Amaral, que voltou aos cinemas no último 16 de maio em cópias restauradas digitalmente em 4K.

O longa conta a história da datilógrafa Macabéa (vivida magistralmente por Marcélia Cartaxo, ganhadora do Urso de Prata de melhor atuação em Berlim) uma migrante vai do Nordeste para São Paulo tentar a vida. Órfã, a personagem parece pedir perdão o tempo todo por estar viva, quase se desculpando por ter sobrevivido a sina dos pais. Macabéa é invisível, invisibilizada e desencaixada do mundo.

A interação com as outras personagens acentua o caráter de estranheza que Macabéa sente de sua realidade (“O que você acha dessa Macabéa, hein?” “Eu acho ela meio esquisita”) onde a proximidade física reservada a ela é oferecida apenas pelas viagens de metrô aos domingos.

As coisas parecem mudar quando ao mentir ao chefe – copiando sua colega de trabalho Glória – dizendo que no dia seguinte irá tirar um dente para, na verdade, tirar um dia de folga. Passeia pela cidade e encontra Olímpico (José Dumont) a quem passa a ver com frequência. Infelizmente, mesmo ele, não entende a inocência e esse desencaixe de Macabéa, deixando-a.

“A Hora da Estrela” de Suzana Amaral traz a estética da fome tão cara ao Cinema Novo de Glauber Rocha não apenas na falta, ressaltada em oposição as personagens que orbitam a curta vida de Macabéa, mas no desalento, no desamparo e, principalmente, no abandono que, quando negado em certa altura pela mentira esperançosa da cartomante charlatã (vivida por Fernanda Montenegro), culmina na estúpida tragédia que ocorre com a protagonista.

Se no começo de tudo, como disse Clarice, sempre houve o nunca e o sim, para Macabéa e os seus “sim senhor” o universo reservou apenas o grande não que Suzana Amaral captou como ninguém.

Nota 5 de 5

Avaliação: 5 de 5.
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