Reviews e Análises
Pelo direito de gostar de coisas ruins
Alguns dias não queremos pensar na função narrativa do monolito em 2001 – Uma Odisseia no Espaço ou identificar os planos de câmera inovadores de Alfred Hitchcock. Às vezes, queremos apenas esquecer o dia a dia cruel, mesmo que para tanto esse desejado conforto atente contra nossa dignidade cultural. Sim senhoras e senhores, estou falando dos famigerados guilty pleasures (prazeres com culpa, em tradução livre) e, por favor não finja: sabe aquela série, música ou aquele filme que você não confessa pra ninguém que gosta? Pois bem, é disso mesmo que estou falando. Em um desprendimento – motivado, talvez pela idade ou simplesmente por não me importar muito com a opinião dos outros – listo abaixo produções das quais não me orgulho de gostar, mas que, em determinados dias, fazem-me muito bem!
Só quem foi adolescente nos anos 90 vai entender porque Wayne’s World – ou Quanto Mais Idiota Melhor – é emblemático para nossa geração. Certo, emblemático talvez tenha sido um adjetivo e tanto, mas o longa baseado na esquete do Saturday Night Live, traz Mike Myers em sua melhor forma vivendo Wayne que – junto com seu amigo Garth (interpretado por Dana Carvey) – é tentado a levar seu programa de TV indie para o mundo comercial.
Se você ainda não viu, fica o desafio: tente ouvir Bohemian Rhapsody depois de assisti-lo e não lembrar dessa cena!
Com míseros 34% de aprovação no Rotten Tomatoes e um Christopher Lambert mais canastrão que nunca, o filme baseado no game criado por Ed Boon teve um relativo sucesso em seu lançamento e não é para menos: de todos os filmes baseados em jogos que tínhamos visto até então, era quase uma obra prima. Exagero? veja a lista: Super Mario Bros., Double Dragon e Street Fighter.
É difícil pensar que Kevin Sorbo tenha convencido tanta gente como o filho do todo-poderoso Zeus e da humana Alcmena, mas aconteceu. Foram seis temporadas, cinco telefilmes, dois spins-off (Jovem Hércules e Xena – princesa Guerreira) e exibição em duas emissoras aqui no Brasil, SBT e Record. A premissa era simples: Hércules e seu amigo Iolaus (Michael Hurst) percorriam o mundo conhecido vivendo aventuras baseadas nas façanhas mitológicas do herói.
Se é difícil imaginar como engolimos Kevin Sorbo na pele de Hércules, não há dúvidas que Lucy Lawless tinha nascido para viver uma guerreira. Xena teve seis temporadas e um fandom apaixonado, ativo ainda hoje, mesmo após quinze anos do término da série (o último episódio foi exibido em 18 de junho de 2001).
Assim como em Hércules, a série acompanhava a viagem da protagonista e sua amiga (ou um ambíguo interesse amoroso) Gabrielle, vivida por Renée O’Connor, que tinha como objetivo ajudar aos necessitados, redimindo-se de seu passado violento. Mesmo achando que a relação entre Xena e Gabrielle era menos ambígua que costumam dizer, adorava mesmo quando o lindo deus da carnificina guerra, Ares, interpretado pelo já saudoso Kevin Tod Smith, aparecia. O desejo entre os dois era, além de físico, simbólico: era Ares que incitava Xena a matar e ao delírio da batalha. Não só Ares apareceu em Xena, outros deuses também atrapalharam sua jornada como Afrodite (Alexandra Tydings) e Eros, vivido pelo ainda desconhecido Karl Urban (que também deu vida a Júlio César, a partir da quarta temporada).
Nem só de Sherlock Holmes viveu o autor Arthur Conan Doyle. Além do seu detetive mais famoso o escritor também criou Professor Challenger que tem sua primeira aventura narrada no romance O mundo perdido em que, ao aventurar-se em uma expedição na bacia amazônica, encontra um lugar onde dinossauros e outras criaturas já extintas ainda vivem. Na série homônima Challenger é vivido pelo ator Peter McCauley.
O mundo perdido teve três temporadas que foram exibidas entre 1999 a 2002.
Imagine se todos os artefatos mágicos que conhecemos da ficção como a Excalibur ou a Pedra Filosofal existissem. E mais: que todos esses itens mágicos estivessem protegidos em uma grande biblioteca, fora do alcance de uma organização do mal que deseja libertar novamente a magia para o mundo e que seu protetor fosse, bem, um bibliotecário? Pois bem, essa é a premissa de The Librarians, série baseada na trilogia de filmes O Guardião – Em busca da Lança Sagrada (2004), O Guardião – O Retorno as Minas do Rei Salomão (2006) e O Guardião 3 – A Maldição do Cálice de Judas (2008), todos estrelados por Noah Wyle na pele de Flynn Carsen.
A série está em sua quarta temporada.
Sou uma leitora de obras clássicas. Tenho uma resistência a leitura de Young Adults (mas gosto de Percy Jackson e os Olimpianos e Jogos Vorazes) e Best-Sellers (apesar de ter lido O Código Da Vinci). O problema é que nunca consigo engatar uma leitura muito densa em outra também muito densa. Tenho o que chamam por aí de ressaca literária: se o livro é muito complexo, preciso de um tempo para despedir-me dos amigos que conheci e que me fizeram crescer um pouquinho mais como ser humano (não é para isso que a Literatura existe?). A solução que arranjei é ler livros leves, muito parecidos com as comédias românticas americanas. Entre os que já li, vale citar O diário de Bridget Jones que é extremamente divertido, assim como sua continuação Bridget Jones: No Limite da Razão. Fuja, porém, do desnecessário Bridget Jones: Louca pelo Garoto, lançado há dois anos.
E você, quais são os seus guilty pleasures?
Reviews e Análises
Ainda Estou Aqui – Crítica
Existem alguns filmes que ao assistirmos apenas os primeiros dez minutos já temos a percepção de estarmos diante de um clássico ou de uma obra-prima. É o caso de O Poderoso Chefão, por exemplo. Ou de Cidade de Deus, para trazer mais perto da nossa realidade brasileira. Não é o caso de Ainda Estou Aqui, novo filme de Walter Salles que chega aos cinemas dia 7 de novembro.
Não. Ainda Estou Aqui demora um pouco mais para percebermos que estamos diante de um dos melhores filmes brasileiros já feitos. E isso é fácil de entender, simplesmente porque a história é contada no tempo dela, sem pressa de acontecer. Mas quando você chegar na cena em que a personagem principal se vê presa, você não vai esquecer desse filme nunca mais na sua vida.
Baseado no livro de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva, o filme conta a história da família de Marcelo, que em 1970 passou pela traumatizante experiência de ter o pai, o ex-deputado e engenheiro Rubens Paiva, simplesmente levado arbitrariamente pela Ditadura Militar e nunca mais retornar.
Ainda Estou Aqui começa te estabelecendo como um observador da família. E como ele leva tempo para te mostrar todo o cotidiano e te apresenta os personagens aos poucos, o espectador vai se tornando parte daquele núcleo familiar. Quando as coisas vão ficando sinistras, você já está envolvido e consegue sentir a mesma angústia e desespero que a família sentiu.
Fernanda Torres está simplesmente deslumbrante como Eunice Paiva. Forte, aguerrida, destemida, o que essa mulher aguentou não foi brincadeira. E Fernanda transmite isso como nenhuma outra atriz seria capaz. Selton Mello interpreta Rubens Paiva com muita simpatia e tenacidade. Simples sem ser simplório. Você literalmente quer ser amigo dele.
O elenco da família, crianças e adolescentes também está simplesmente perfeito. Todos impecáveis, assim como todo o elenco de apoio. Destaque também para a ponta da diva Fernanda Montenegro, como a Eunice idosa que, em no máximo cinco minutos de tela e sem dizer uma palavra, mostra porque é a maior atriz de todos os tempos.
Com um roteiro muito bem escrito e uma direção impecável, aliados a uma fotografia perfeita, é impossível apontar qualquer defeito neste filme. Com uma temática ainda necessária nos dias de hoje, é um dever cívico assistir a Ainda Estou Aqui, o melhor filme de 2024, sem sombra de dúvida.
Nota 5 de 5
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