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Reviews e Análises

Paloma – Crítica

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É preciso um olhar de humanidade pra assistir esse filme. “Eu quero a benção de Deus pra nossa casa, zé.” E assim Paloma expressa seu principal anseio como criatura. O filme é excelente, não é vulgar, traz um aroma forte de ingenuidade e fé no amor. É um bom filme, mas sem aquela característica primeira, você não vai gostar do filme nos primeiros 5 min. Mas é um filme realmente emocionante.

Paloma, “Paloma”, Pandora Filmes, 2022

Com direção de Marcelo Gomes, mesmo diretor de “Viajo porque preciso, volto porque te amo” de 2009 e “Joaquim” de 2017, esse filme consegue passar a resistência para viver e ser feliz que a personagem passa. As escolhas técnicas são muito bem executadas, como som direto e trilha, o trabalho da câmera e com os atores. 

Paloma e Jenifer, “Paloma”, Pandora filmes, 2022

O roteiro tem a presença de Marcelo Gomes, mas com a parceria de Gustavo Campos, em sua primeira grande experiência, e Armando Praça, que foi escritor de alguns episódios de “Me chame de Bruna”. Aqui eles apresentam um roteiro sóbrio, onde não só o contexto pesa muito como também as vozes de fundo encorpam o filme de modo excelente. Vou chamar de segunda camada. O jogo dessas duas camadas do roteiro quanto a jornada dos personagens é emocionante e tira o excesso de doce romântico da primeira camada. Que apesar de triste na realidade, pra ficção acaba por render e provocar emoções no espectador.

No elenco temos Samya de Lavor (“Boi Neon”, de 2015, “O Ultimo Trago”, 2016), Suzy Lopes (Bacurau”, 2019, “Salamandra”, 2021), Ridson Reis (“Ilha”, 2018, “Artista suburbano”, 2021) e a protagonista Kika Sena, que apresenta um ótimo trabalho. E traz uma questão que é muito pouco visto ainda e que há pouco tem ganhado lugar, que são pessoas trans no cinema. O elenco não deixa nada a desejar e entrega tudo que promete.

“Paloma, Pandora filmes, 2022

E para que você não se perca sem saber sobre o que se trata o filme. É a história de uma mulher trabalhadora rural que nas horas vagas faz bico e cabelereira. De origem humilde, Paloma luta pra manter sua casa e conseguir um certo equilíbrio financeiro. E principalmente, sonha em casar com seu homem, mas casar na igreja, querendo a benção de Deus pra sua casa. E por fim a esse relacionamento “amigado”. Seria uma história simples se Paloma não fosse uma mulher trans em uma cidade do interior do nordeste. E existe um dilema aqui: o que vale mais sua visibilidade ou sua voz? A personagem não é uma beata, tem seu passado, mas mostra o coração puro de uma pessoa sonhadora em contraste com uma realidade que não tem nada de pureza e mostra bem seu murmúrio da crueldade. Assista porque eu mesmo não vou dar spoiler aqui e vale beeem a pena

Paloma, “Paloma”, Pandora filmes, 2022

Esse filme ganha um 4/5  muito bem merecido e conquistado. E por falar em conquista o filme está indicado ao Oscar de 2023 como melhor filme internacional.

Avaliação: 4 de 5.

O filme estreia dia 10 de novembro nos cinemas.

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Ainda Estou Aqui – Crítica

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ainda estou aqui

Existem alguns filmes que ao assistirmos apenas os primeiros dez minutos já temos a percepção de estarmos diante de um clássico ou de uma obra-prima. É o caso de O Poderoso Chefão, por exemplo. Ou de Cidade de Deus, para trazer mais perto da nossa realidade brasileira. Não é o caso de Ainda Estou Aqui, novo filme de Walter Salles que chega aos cinemas dia 7 de novembro.

Não. Ainda Estou Aqui demora um pouco mais para percebermos que estamos diante de um dos melhores filmes brasileiros já feitos. E isso é fácil de entender, simplesmente porque a história é contada no tempo dela, sem pressa de acontecer. Mas quando você chegar na cena em que a personagem principal se vê presa, você não vai esquecer desse filme nunca mais na sua vida.

Baseado no livro de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva, o filme conta a história da família de Marcelo, que em 1970 passou pela traumatizante experiência de ter o pai, o ex-deputado e engenheiro Rubens Paiva, simplesmente levado arbitrariamente pela Ditadura Militar e nunca mais retornar.

Ainda Estou Aqui começa te estabelecendo como um observador da família. E como ele leva tempo para te mostrar todo o cotidiano e te apresenta os personagens aos poucos, o espectador vai se tornando parte daquele núcleo familiar. Quando as coisas vão ficando sinistras, você já está envolvido e consegue sentir a mesma angústia e desespero que a família sentiu.

Fernanda Torres está simplesmente deslumbrante como Eunice Paiva. Forte, aguerrida, destemida, o que essa mulher aguentou não foi brincadeira. E Fernanda transmite isso como nenhuma outra atriz seria capaz. Selton Mello interpreta Rubens Paiva com muita simpatia e tenacidade. Simples sem ser simplório. Você literalmente quer ser amigo dele.

O elenco da família, crianças e adolescentes também está simplesmente perfeito. Todos impecáveis, assim como todo o elenco de apoio. Destaque também para a ponta da diva Fernanda Montenegro, como a Eunice idosa que, em no máximo cinco minutos de tela e sem dizer uma palavra, mostra porque é a maior atriz de todos os tempos.

Com um roteiro muito bem escrito e uma direção impecável, aliados a uma fotografia perfeita, é impossível apontar qualquer defeito neste filme. Com uma temática ainda necessária nos dias de hoje, é um dever cívico assistir a Ainda Estou Aqui, o melhor filme de 2024, sem sombra de dúvida.

Nota 5 de 5

Avaliação: 5 de 5.
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