Reviews e Análises
Venom: Tempo de Carnificina – Crítica
Venom: Tempo de Carnificina (Venom: Let There Be Carnage) pega a história de Eddie Brock (Tom Hardy) e do simbionte anti-herói Venom de onde o deixamos no filme anterior. Brock tenta reconstruir sua carreira como jornalista ao entrevistar Cletus Kasady, um psicopata perigoso interpretado por Woody Harrelson. A entrevista envolve um recado que Kasady quer enviar para sua amada parceira no crime Frances Barrison (Naomie Harris), que está em uma prisão para seres com poderes especiais. Só que o plano vai por água abaixo quando Brock pega as dicas dadas por Kasady e descobre corpos que o casal teria escondido em um crime não resolvido. Com isso, Kassady acaba indo para a execução. Mas, como todo vilão de quadrinhos, ele acaba se libertando, se juntando a um pedaço do simbionte e atacando a cidade em busca de vingança como a nova ameaça Carnificina. E é óbvio que cabe ao Venom e a Eddie Brock, confrontá-lo.
Parece que eu disse muito sobre a trama de Venom: Tempo de Carnificina. Mas praticamente tudo isso descrito acima está em todos os trailers lançados e cenas inéditas antecipadas. E digo mais, se você já assistiu a qualquer filme de ação na vida, sabe de tudo o que vai acontecer no filme sem precisar assisti-lo. Mais previsível do que especial de fim de ano do Roberto Carlos, o novo filme do Aranha-verso da Sony está aqui somente com dois propósitos: ganhar toneladas de dinheiro e tentar conectar Venom ao universo do Homem-Aranha. O roteiro parece ter sido escrito por um roteirista de quadrinhos dos anos 90, o que não é um elogio.

Venom: Tempo de Carnificina consegue ter piadas mais sem graça do que o filme original, e consegue isso com a ajuda da atuação histriônica de Tom Hardy. O simbionte é uma caricatura do que é o personagem dos quadrinhos, sem passar o terror ou o medo que o original alguma vez já apresentou. Eu me lembro quando li os quadrinhos em que Venom aparecia para aterrorizar a vida de Peter Parker/Homem-Aranha, a coisa era tensa. Como Eddie Brock e o simbionte sabiam a identidade de Parker, ameaçavam Mary Jane, a Tia May e todo mundo que fizesse parte da vida de Peter. Já no filme, Eddie é o Zacarias e o Venom é o Mussum. Dois trapalhões, literalmente. A relação dos dois, que poderia ser levada para algo pesado, é desperdiçada com piadas idiotas e texto pueril. E se você acha que eu estou exagerando, espere para ver o começo da luta dos dois com o Carnificina e me diga se não parece que estamos vendo a um filme dos Trapalhões com um baita orçamento.
Nem o vilão consegue salvar o filme. Woody Harrelson está atuando no automático, apesar de claramente se divertir muito com toda essa palhaçada. Nos quadrinhos, Cletus Kasady é um psicopata que tentava copiar o Coringa da DC. Um personagem doentio e sádico. Aqui, não mete medo em uma mosca, mesmo parecendo um palhaço tentando fazer graça. E o Carnificina em si, é mais um desastre de construção de personagem, sendo jogado de qualquer jeito, sem profundidade nenhuma. Mesmo que a gente não precise de algo assim em um filme de super-heróis, era um personagem que dava para construir de uma forma muito melhor.
O filme ainda tenta dar relevância para personagens secundários como Anne, a ex-namorada de Brock, vivida por Michelle Williams, que retorna para ser tratada como a donzela em perigo no final. O outro personagem que tenta ser importante para a trama é o Detetive Mulligan, interpretado por Stephen Graham, que no frigir dos ovos só está lá para ser a escada para as piadas dos outros personagens.

Há uma cena no meio dos créditos que é vergonhosa de tão malfeita e mal escrita. Não passa de uma tentativa canalha de inserir o Venom em um Universo maior, se é que vocês me entendem. Eu normalmente diria que é a única coisa que presta do filme, mas nesse caso a patifaria é tão escancarada que eu nem recomendo.
Venom: Tempo de Carnificina é apenas um produto para as massas. Nada contra ganhar dinheiro. É apenas triste fazer isso com um produto tão ruim, pois infelizmente não serve nem como entretenimento, nem como capítulo de algo maior, muito menos como comédia. Um dos piores filmes de super-herói feito nos últimos anos. Me lembrou tragédias anteriores como Demolidor (com o Ben Affleck), Lanterna Verde (com o Ryan Reynolds) e Quarteto Fantástico (qualquer um deles). Um filme feito sem cuidado com o roteiro, sem desenvolver personagens, onde o espectador não se empolga com nada, não se relaciona com ninguém, e somente assiste àquele espetáculo de patifaria. Uma pena, pois Eddie Brock e seu simbionte dariam um excelente nêmesis para o Homem-Aranha em um futuro filme e agora só servirão de escada mesmo para uma futura piada escatológica. Mas como vai fazer muito dinheiro, vamos ser obrigados a aturar.
Reviews e Análises
Lispectorante – Crítica

Lispectorante de Renata Pinheiro, diferente de outras produções baseadas na obra de Clarice Lispector – A Hora da Estrela (1985), de Suzana Amaral e A Paixão Segundo G.H. (2023) de Luiz Fernando Carvalho – não tem foco, especialmente, em nenhum texto da autora, mas consegue captar seu universo e soluciona o fluxo de consciência, característica primeira de sua literatura, através de cenas marcadas pelo fantástico.
Durante o longa acompanhamos Glória Hartman – uma artista plástica em crise, recém-divorciada e sem dinheiro – que retorna para sua terra natal, indo visitar sua tia Eva. Ao encontrar um guia de turismo com um grupo acaba interessando-se pelas informações sobre a casa de Clarice Lispector que, a partir daqui será o lugar do onírico e de profundas e solitárias discussões existenciais, preenchido por ruinas de um mundo apocalíptico.
Lispectorante, palavra inventada tradução do intraduzível, Oxe, pra mim listectorante é uma droga ilegal feita numa manhã de um Carnaval que se aproxima. Pra expectorar mágoas, prazeres, visgos e catarros num rio que vira charco
Entre o fazer artístico – sempre mostrado de forma fantástica, surrealista – e a necessidade de sustento, Glória se apaixona por Guitar, um artista de rua mais jovem com quem inicia um romance.
A escolha de Marcélia Cartaxo para viver Glória nos ajuda a encaixá-la no mundo de Clarice: é como se ela sempre tivesse estado ali, vivendo e sentindo todas aquelas subjetividades, mesmo sendo uma personagem de atitudes muito diferentes de Macabéa, que a atriz viveu em A Hora da Estrela. Glória é livre, mas seu momento de vida – uma mulher madura, recém-divorciada, sem dinheiro e em um “lance” com um homem mais jovem – nos remete as inseguranças de Macabéa – jovem, tímida e descobrindo o mundo. Ambas estão em transição!
Lispectorante é poético e tem um desfecho que não surpreende e nisso ele é excelente: não há outro caminho para o sentir do artista que as suas incertezas.
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