Gibiteca Refil
The Wicked + The Divine
Faça o seguinte exercício: imagine que os X-Men, em vez de desenvolverem seus poderes mutantes na puberdade, descobrissem que são reencarnações de divindades que surgem a cada 90 anos – evento chamado de Recorrência – e que, a partir da descoberta, viveriam como astros do POP, mas teriam apenas dois anos de vida. Imaginou? Pois essa é a premissa de The Wicked + The Divine, escrita por Kieron Gillen e ilustrada por Jamie McKelvie.
No primeiro arco intitulado A lei de Faust acompanhamos Laura, uma fã do recente panteão, em sua investigação para provar a inocência de Luci (a personificação de Lúcifer em uma mistura de David Bowie e Madonna) que foi responsabilizada pelos assassinatos de duas pessoas que atentaram contra os deuses e do juiz que julgou esse crime.
A arte de McKelvie, colaborador recorrente de Gillen, é limpa e realista, como já conhecida dos leitores da Marvel: o artista é responsável pelo redesigned da Capitã Marvel (em 2012) e pela criação do visual de Kamala Khan’s, antes dela tornar-se a Ms Marvel. A narrativa gráfica também é muito competente, principalmente na distinção entre as divindades e seus domínios.
Além de Luci/Lúcifer outras divindades nos são apresentadas. Neste primeiro arco temos: Amaterasu (personificação da deusa do sol homônima do Xintoísmo), Baal (Baal-Hadad, deus semita das tempestades e trovões), Morrigan (personificação da deusa tríplice celta), Woden (representa Odin com um visual totalmente Daft Punk), Baphomet (personificação do deus semita homônimo), Sakhmet (deusa egípcia da guerra que é a cara da Rihanna) e a mais nova, Minerva (personificação da deusa romana da sabedoria e estratégia bélica). Entre essas divindades também está Ananke (baseada na deusa grega do destino), sendo responsável por encontrar os novos deuses e cuida deles durante os dois anos que lhes restam.
Tudo isso lembra alguma coisa? Muitas coisas, eu diria, porém, mais diretamente, Deuses Americanos. A comparação com o romance de Neil Gaiman é inevitável, mas confie em mim: não avança muito! O que é subterrâneo em Gaiman, é superficial em Gillen, mas não raso. Se Gaiman trata, de forma intrincada a formação identitária dos Estados Unidos através dos imigrantes e as crenças trazidas por eles, a grande discussão de Gillem é sobre a função das celebridades e das redes sociais, da ocidentalização de tudo e, principalmente, como a geração dos millennials sentem e se relacionam com tudo isso.
Título: THE WICKED + THE DIVINE
Autora: Kieron Gillen (roteiro) e Jamie McKelvie (arte).
Tradução: Maurício Muniz
Editora: Geekpedia (selo da Novo Século)
Ano: 2016
ISBN: 9788542809992
Ficha técnica completa no Skoob
Gibiteca Refil
#MulherMaravilha80anos – Do Polígrafo ao Laço da Verdade
“Bela como Afrodite; sagaz como Atena; dotada da velocidade de Mercúrio e da força de Hércules – nós a conhecemos como Mulher-Maravilha. Mas quem pode nos dizer quem é ela ou de onde ela veio?” – All-Star Comics, dezembro de 1941
A Mulher-Maravilha não foi a primeira super-heroína dos quadrinhos e definir esse posto é algo bastante complexo. Levando-se em conta o que entendemos como super-herói (ter uma identidade secreta, poderes e usar um uniforme) o consenso é que a primeira super-heroína dos quadrinhos é a Hawkgirl, conhecida por aqui como Mulher-Gavião. Como explicar, então, que tamanha popularidade de Diana faça com que nem cogitemos acreditar nisso? É simples: o conceito.
Muitas personagens femininas foram criadas a partir do clichê Ms. Male Character, isto é, a versão feminina de uma personagem masculina. Shiera era a versão feminina do Gavião Negro, além de sua parceira amorosa, assim como as primeiras concepções de Miss Marvel e Batwoman. A Mulher-Maravilha já foi criada como uma personagem independente, com seu próprio mundo fictício e histórias em consonância com as discussões do período.
A primeira aparição de Diana no universo DC se deu em dezembro de 1941 na All-Star Comics número 8. Essa ainda não contava a origem da personagem, mas a história das Amazonas e o motivo delas irem parar em Themyscira. A narrativa do nascimento de Diana, que permaneceria intacta até sua reformulação pós-Crise, seria apresentada apenas em Wonder Woman número 1: esculpida por Hipólita, a partir do barro de Themyscira, a escultura desperta na Rainha das Amazonas um sentimento profundamente maternal e o desejo de que a forma tome vida, em uma releitura do mito de Pigmaleão e Galatéia. Afrodite atende ao pedido de Hipólita, trazendo a criança à vida, dando-lhe o nome de Diana, em homenagem a irmã gêmea de Apolo, deusa da Lua e da caça. O que nos faz pensar: como seus criadores chegaram a essas referências?
“Sinceramente, a Mulher-Maravilha é propaganda psicológica com vistas ao novo tipo de mulher que, na minha opinião, deveria dominar o mundo.” William Moulton Marston, março de 1945
A criação da personagem é atribuída ao roteirista Charles Moulton, pseudônimo do psicólogo William Moulton Marston, conhecido também como o inventor do polígrafo (a máquina da verdade). Já a concepção visual ficou a cargo de Harry G. Peter. Sempre esquecida nesta equação, porém, estava Elizabeth Holloway Marston esposa de William Marston e a quem o próprio se referia como coautora da personagem.
A luta pela igualdade feminina, presente nas primeiras histórias da Mulher-Maravilha – segundo Jill Lepore na biografia A história secreta da Mulher-Maravilha – remonta os primeiros anos de Marston em Harvard com o movimento pelo voto feminino e, principalmente, após ele ter ouvido a palestra da sufragista inglesa Emmeline Pankurst. Quase impedida de falar na universidade, simplesmente por ser mulher, Pankurst deixou Marston “fascinado, emocionado”. Já as referências gregas, possivelmente vieram de Holloway que amava a língua e as histórias que estudou em seus anos no ensino médio.
Desde a palestra de Emmeline Pankurst, a Mulher-Maravilha levou três décadas para aparecer, quando o seu principal idealizador já tinha 48 anos. Marston, após afirmar que via nos quadrinhos um grande potencial educacional, tornou-se uma espécie de psicólogo consultor da DC Comics. Foi aí que sugeriu ao editor Max Gaines uma super-heroína. A resposta inicial de Gaines foi dizer que personagens pulp e de quadrinhos femininas sempre eram um fracasso. Marston engendrou em argumento todos os anos em que defendeu os direitos das mulheres, recebendo a resposta “fiquei com o Superman depois que todo syndicate do país recusou. Vou dar uma chance a sua Mulher-Maravilha!”. Como condição o próprio Marston deveria escrever as histórias e se depois de seis meses os leitores não gostassem, essa seria descontinuada. Parece que acabou dando certo!
Como dito, Mulher-Maravilha não foi a primeira super-heroína, de fato, mas acredito que se tornou a primeira super-heroína por direito. Assim, convido você a comemorar durante os próximos meses os 80 anos de suas histórias e imaginário criados para a princesa amazona.
-
Reviews e Análises2 semanas ago
Megalópolis – Crítica
-
Reviews e Análises2 semanas ago
Ainda Estou Aqui – Crítica
-
CO23 semanas ago
CO2 333 – Multa no Vulcão e o Pai Congelado
-
Notícias2 semanas ago
Warner Bros. Pictures anuncia novas datas de lançamento para os filmes Acompanhante Perfeita e Mickey 17