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Reviews e Análises

Som da Liberdade – Crítica

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Mesmo que você não acompanhe política, talvez já saiba que Som da Liberdade é o filme mais polêmico de 2023. Abraçado com entusiasmo pelo público conservador norte-americano e acusado de ser embasado em teorias conspiracionistas QAnon, o filme conta a história, alegadamente baseada em fatos, de Tim Ballard (Jim Caviezel), um agente federal dos Estados Unidos que combate uma rede de pedofilia e tráfico sexual infantil.

Para poder resgatar crianças em outro país, Tim larga seu trabalho e funda a ONG Operation Underground Railroad e, com a ajuda de Vampiro (Bill Camp), se infiltra junto aos bandidos para montar uma armadilha e poder desmontar a rede como um todo.

Dirigido pelo mexicano Alejandro Monteverde, o filme aborda o tema da pedofilia de forma séria e, ao mesmo tempo, com um melodrama pungente, necessário para a história, mas que acaba ficando meio brega com o decorrer da projeção. Mesmo assim, as boas atuações seguram a tensão, principalmente nos momentos das operações de resgate, o que gera uma boa impressão no geral.

O filme possui uma mensagem com um foco meio religioso (cristão) e isso pode não conversar com algumas parcelas do público. O tema por si só do combate a um dos crimes mais absurdos da humanidade já deveria ser suficiente para tocar quem vai assistir.

Patrocinado de forma independente e por meio de financiamento coletivo, em momento algum o filme é amador ou deixa a desejar a grandes thrillers de Hollywood. Na verdade, em alguns momentos, supera diversos filmes de estúdios experientes que foram lançados nos últimos 20 anos. Mas isso também não é muito difícil, convenhamos.

O que sobressai em Som da Liberdade, ainda bem, é a história, que é bem conduzida e com um clima tenso, sem espaço para distrações, piadas ou qualquer coisa que o valha. Apesar de ter sido abraçado por uma vertente política, eu não percebi nenhum tipo de discurso político mais contundente ou radical durante a projeção, a não ser nos créditos finais, quando surge Jim Caviezel para falar sobre a rede de tráfico sexual infantil que precisa ser combatida e que o filme seria um alerta sobre isso.

Em um discurso emocionado, Caviezel fala sobre como Som da Liberdade teria sido boicotado por Hollywood, por críticos e pessoas que estariam envolvidas nessa rede. Mesmo assim, ele não menciona rede de túneis mundiais para transporte de bebês, “deep state” ou o caso do Pizzagate. Mas pede que o público se una e ajude o filme a alcançar outras pessoas, oferecendo a chance de “doar” ingressos. Ao clicar em um QRCode o espectador pode comprar ingressos e passar eles para a frente. Eu não vejo isso funcionando muito para o público em geral aqui no Brasil. Mas talvez explique bastante o sucesso de bilheteria lá fora.

É uma pena que um filme tão bem feitinho e com uma história tão impactante tenha sido envolvido nessa polarização política que assola o mundo nos últimos anos, pois ele acaba ganhando uma projeção desmedida e perde em impacto onde deveria realmente impressionar. Seria interessante saber como o filme se daria ao atrair o público pela história interessante e bem contada, em um thriller amarradinho e com boas atuações, sem muletas ideológicas.

Avaliação: 4 de 5.
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Reviews e Análises

Lispectorante – Crítica

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Lispectorante de Renata Pinheiro, diferente de outras produções baseadas na obra de Clarice Lispector – A Hora da Estrela (1985), de Suzana Amaral e A Paixão Segundo G.H. (2023) de Luiz Fernando Carvalho – não tem foco, especialmente, em nenhum texto da autora, mas consegue captar seu universo e soluciona o fluxo de consciência, característica primeira de sua literatura, através de cenas marcadas pelo fantástico.

Durante o longa acompanhamos Glória Hartman – uma artista plástica em crise, recém-divorciada e sem dinheiro – que retorna para sua terra natal, indo visitar sua tia Eva. Ao encontrar um guia de turismo com um grupo acaba interessando-se pelas informações sobre a casa de Clarice Lispector que, a partir daqui será o lugar do onírico e de profundas e solitárias discussões existenciais, preenchido por ruinas de um mundo apocalíptico.

Lispectorante, palavra inventada tradução do intraduzível, Oxe, pra mim listectorante é uma droga ilegal feita numa manhã de um Carnaval que se aproxima. Pra expectorar mágoas, prazeres, visgos e catarros num rio que vira charco
Entre o fazer artístico – sempre mostrado de forma fantástica, surrealista – e a necessidade de sustento, Glória se apaixona por Guitar, um artista de rua mais jovem com quem inicia um romance.

A escolha de Marcélia Cartaxo para viver Glória nos ajuda a encaixá-la no mundo de Clarice: é como se ela sempre tivesse estado ali, vivendo e sentindo todas aquelas subjetividades, mesmo sendo uma personagem de atitudes muito diferentes de Macabéa, que a atriz viveu em A Hora da Estrela. Glória é livre, mas seu momento de vida – uma mulher madura, recém-divorciada, sem dinheiro e em um “lance” com um homem mais jovem – nos remete as inseguranças de Macabéa – jovem, tímida e descobrindo o mundo. Ambas estão em transição!

Lispectorante é poético e tem um desfecho que não surpreende e nisso ele é excelente: não há outro caminho para o sentir do artista que as suas incertezas.

Avaliação: 3 de 5.
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Burburinho

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