Reviews e Análises
Respiro (2002) – Crítica
Respiro (2002, Itália) conta a história de Grazia (Valeria Golino), uma mãe de três filhos que mora com o marido pescador em uma ilha na Itália. Tem uma vida simples, baseada no trabalho em cima da pesca, limpando os pescados para revenda ou até mesmo troca por outras mercadorias. O sonho dela é ir para a França, conhecer Paris, mas a vida extremamente humilde e a falta de oportunidades fazem com que o mais longe que ela consiga ir seja tomar um banho de mar. Só que Grazia não é qualquer mulher. É uma pessoa de espírito livre, presa em uma ilha com um marido que a impede de fazer o que ela quer e filhos que seguem o mesmo caminho do pai.
O filme poderia ir por um caminho onde ela lutaria contra o patriarcado e conservadorismo da sociedade, com discursos inflamados e cenas poderosas. Mas ele prefere manter o pé na realidade. Grazia não vai conseguir sair dali de forma fácil. E é essa a jornada que o filme se propõe a contar. Em uma sociedade que adora apontar o dedo e acusar uma mulher de louca somente porque ela não é submissa, Respiro mete o dedo na ferida por mostrar com cenas bastantes reais sobre como funciona o poder machista da sociedade em cima de uma mulher que quer apenas uma vida melhor.
Destaque do filme fica realmente por conta de Valéria Golino. Maravilhosa como sempre, a atriz leva o filme com um clima leve, apesar de sofrer muito. Ela internaliza muito, assim como muitas das mulheres da nossa sociedade. Outro destaque é que todos os outros atores e atrizes do filme eram amadores, escolhidos a dedo pelo roteirista e diretor Emanuele Crialese, o que surpreende bastante pois estão todos muito bem, principalmente o menino que faz o filho mais novo.
O filme estreia na quinta-feira, 1o de abril, na plataforma de streaming do Cine Belas Artes, o Belas Artes à La Carte.
Reviews e Análises
Ainda Estou Aqui – Crítica
Existem alguns filmes que ao assistirmos apenas os primeiros dez minutos já temos a percepção de estarmos diante de um clássico ou de uma obra-prima. É o caso de O Poderoso Chefão, por exemplo. Ou de Cidade de Deus, para trazer mais perto da nossa realidade brasileira. Não é o caso de Ainda Estou Aqui, novo filme de Walter Salles que chega aos cinemas dia 7 de novembro.
Não. Ainda Estou Aqui demora um pouco mais para percebermos que estamos diante de um dos melhores filmes brasileiros já feitos. E isso é fácil de entender, simplesmente porque a história é contada no tempo dela, sem pressa de acontecer. Mas quando você chegar na cena em que a personagem principal se vê presa, você não vai esquecer desse filme nunca mais na sua vida.
Baseado no livro de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva, o filme conta a história da família de Marcelo, que em 1970 passou pela traumatizante experiência de ter o pai, o ex-deputado e engenheiro Rubens Paiva, simplesmente levado arbitrariamente pela Ditadura Militar e nunca mais retornar.
Ainda Estou Aqui começa te estabelecendo como um observador da família. E como ele leva tempo para te mostrar todo o cotidiano e te apresenta os personagens aos poucos, o espectador vai se tornando parte daquele núcleo familiar. Quando as coisas vão ficando sinistras, você já está envolvido e consegue sentir a mesma angústia e desespero que a família sentiu.
Fernanda Torres está simplesmente deslumbrante como Eunice Paiva. Forte, aguerrida, destemida, o que essa mulher aguentou não foi brincadeira. E Fernanda transmite isso como nenhuma outra atriz seria capaz. Selton Mello interpreta Rubens Paiva com muita simpatia e tenacidade. Simples sem ser simplório. Você literalmente quer ser amigo dele.
O elenco da família, crianças e adolescentes também está simplesmente perfeito. Todos impecáveis, assim como todo o elenco de apoio. Destaque também para a ponta da diva Fernanda Montenegro, como a Eunice idosa que, em no máximo cinco minutos de tela e sem dizer uma palavra, mostra porque é a maior atriz de todos os tempos.
Com um roteiro muito bem escrito e uma direção impecável, aliados a uma fotografia perfeita, é impossível apontar qualquer defeito neste filme. Com uma temática ainda necessária nos dias de hoje, é um dever cívico assistir a Ainda Estou Aqui, o melhor filme de 2024, sem sombra de dúvida.
Nota 5 de 5
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