Reviews e Análises
Os vinte anos de X-Men: O Filme
O dia 14 de julho de 2000 pode ser considerado um marco no gênero de filmes de super-heróis. Foi nessa data que estreou, nos Estados Unidos, X-Men de Bryan Singer, o filme que carimbou o selo de que o mundo estava pronto para finalmente conhecer o universo Marvel nos cinemas. Ok, lá vem você dizer que eu estou errado e que tiveram filmes baseados em super-heróis da Marvel antes. Sim, tivemos filmes horrorosos como Capitão América (piloto de episódio de televisão), filmes do Hulk para a televisão com um cara pintado de verde (Lou Ferrigno), Howard o super-herói que dispensa apresentações, e Blade, o caçador de vampiros.
Apesar de Blade, que é de 1998, poder ser considerado o filme que abriu as portas realmente para que filmes de super-heróis pudessem ser feitos, o grande público não fazia ideia de que o personagem era de quadrinhos, muito menos um super-herói. Já com X-Men, a coisa mudava de figura. O grupo de mutantes da Marvel já era popular e conhecido, principalmente entre o público que nunca abriu um gibi na vida, mas que tiveram contato com o excelente desenho animado que passava nos anos 90. O desenho adaptava de maneira decente vários arcos dos quadrinhos e ajudou a tornar conhecidos os heróis para um público que nunca ouvira falar deles. Imagina o filme, então!
X-Men: O filme tinha uma missão duríssima: fazer com que um grupo de heróis pudessem tratar de temas adultos e funcionar em um filme dirigido para um público acima dos 13 anos e convencer sem parecer ridículo. A aposta da Fox na época era ousada, mas sem gastar demais. O orçamento do filme era de ridículos US$ 75 milhões. Para se ter uma ideia, na última temporada de Game Of Thrones, a HBO investiu US$ 15 milhões por episódio. Hoje um filme de super-herói da Marvel possui um orçamento entre US$ 165 milhões (Homem-Formiga) e US$ 365 milhões (Vingadores Ultimato). Outra questão que pesava era exatamente os resultados de filmes baseados em quadrinhos realizados anteriormente. O último filme do Batman, por exemplo, Batman e Robin, conseguiu recuperar seu orçamento de US$ 238 milhões, mas não fez muito além disso. Pesa o fato também de que o filme foi um fracasso de crítica e foi indicado a 11 Framboesas de Ouro. O filme meio que decretava que o público não tinha mais muito interesse em filmes de super-heróis.
Felizmente, eles estavam errados. O público tinha muito interesse sim, desde que o produto final tivesse uma boa história e respeitasse o material base no qual se baseava.
Com o orçamento reduzido, restava apenas uma opção: o roteiro tinha que funcionar. X-Men sempre foi uma das revistas mais “fáceis” de adaptar para outras mídias. Os temas de preconceito e racismo encaixam como uma luva para se desenvolver uma história, pois é fácil com que o espectador entenda e se relacione com os protagonistas. E no caso dos X-men, há ainda mais um paralelo com a realidade. Os personagens de Professor Xavier e Magneto são os dois lados da mesma moeda e suas linhas de pensamentos foram influenciadas por pessoas reais: Martin Luther King Jr. e Malcom X. Um acredita na busca pelo convívio pacífico e o outro acredita que só serão conquistados os seus direitos e liberdade na base da força. O diretor Bryan Singer e o produtor Tom DeSanto pensaram na história e David Hayter ficou responsável pelo roteiro.
Para que o filme funcionasse também era importante o grupo já estar estabelecido e termos um membro novo (ou dois) que entrassem nesse universo de paraquedas. Foram escolhidos para isso os personagens de Vampira (que faria parte do plano do vilão Magneto) e do mais popular dos mutantes, Wolverine. A escolha de Logan como personagem que iria descobrir o universo mutante junto com o espectador funcionou muito bem, também muito por conta da interpretação precisa e escalação incrível do novato (na época) Hugh Jackman.
O elenco também ajudou muito o filme a funcionar. Escalar Patrick Stewart como Professor Xavier e Ian McKellen como Magneto foi brilhante. Outras escalações perfeitas foram Famke Janssen, que apesar de bem desconhecida, caiu bem como Jean Grey; e Rebecca Romjin, que como Mística também deu muito certo, principalmente devido à adaptação de seu figurino, mais ficção científica do que quadrinhos. Essa também foi uma opção acertada na época. O filme resolveu trazer os X-Men para algo mais próximo da realidade para que eles pudessem funcionar com o público. Precisamos lembrar que na época os figurinos de couro de Matrix estavam em alta e aquele era o visual da “virada do século”. Ao aposentar os “colants” espalhafatosos coloridos e optar por uniformes de batalha de couro, o filme faz com que a equipe se afaste mais do tema infantil e tenha um pé no mundo adulto. Hoje pode até ser um erro apostar nisso, mas na época ajudou o filme a ser vendido como algo mais sério e adulto, longe da imagem de filme infantil que poderia passar.
Outra peça fundamental para ajudar a vender o filme foi o trailer. Recheado de ação, parece que tudo está saindo direto dos quadrinhos.
https://www.youtube.com/watch?v=VNxwlx6etXI
X-Men: O Filme fez uma bilheteria mundial de quase US$ 300 milhões de dólares, um lucro absurdo para a Fox. O filme também abriu as portas para a adaptação cinematográfica de outro grande herói da Marvel: O Homem-Aranha da Sony. X-Men também gerou uma franquia com mais onze filmes, sendo três deles filmes solo do Wolverine e dois do Deadpool. E se vinte anos depois, todo ano, temos vários filmes de super-heróis entre os blockbusters esperados, uma parcela da culpa é de X-Men.
Reviews e Análises
Lispectorante – Crítica

Lispectorante de Renata Pinheiro, diferente de outras produções baseadas na obra de Clarice Lispector – A Hora da Estrela (1985), de Suzana Amaral e A Paixão Segundo G.H. (2023) de Luiz Fernando Carvalho – não tem foco, especialmente, em nenhum texto da autora, mas consegue captar seu universo e soluciona o fluxo de consciência, característica primeira de sua literatura, através de cenas marcadas pelo fantástico.
Durante o longa acompanhamos Glória Hartman – uma artista plástica em crise, recém-divorciada e sem dinheiro – que retorna para sua terra natal, indo visitar sua tia Eva. Ao encontrar um guia de turismo com um grupo acaba interessando-se pelas informações sobre a casa de Clarice Lispector que, a partir daqui será o lugar do onírico e de profundas e solitárias discussões existenciais, preenchido por ruinas de um mundo apocalíptico.
Lispectorante, palavra inventada tradução do intraduzível, Oxe, pra mim listectorante é uma droga ilegal feita numa manhã de um Carnaval que se aproxima. Pra expectorar mágoas, prazeres, visgos e catarros num rio que vira charco
Entre o fazer artístico – sempre mostrado de forma fantástica, surrealista – e a necessidade de sustento, Glória se apaixona por Guitar, um artista de rua mais jovem com quem inicia um romance.
A escolha de Marcélia Cartaxo para viver Glória nos ajuda a encaixá-la no mundo de Clarice: é como se ela sempre tivesse estado ali, vivendo e sentindo todas aquelas subjetividades, mesmo sendo uma personagem de atitudes muito diferentes de Macabéa, que a atriz viveu em A Hora da Estrela. Glória é livre, mas seu momento de vida – uma mulher madura, recém-divorciada, sem dinheiro e em um “lance” com um homem mais jovem – nos remete as inseguranças de Macabéa – jovem, tímida e descobrindo o mundo. Ambas estão em transição!
Lispectorante é poético e tem um desfecho que não surpreende e nisso ele é excelente: não há outro caminho para o sentir do artista que as suas incertezas.
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Guilherme B
14 de julho de 2020 at 15:12
X-men começou tão bem e foi caindo com as continuações, teve um reboot maravilho com a primeira geração e depois caiu novamente, uma pena pois é um tema muito legal mas não deixa de ser um grande marco para o cinema.
Muito bom o post.
Simões Neto
14 de julho de 2020 at 15:15
Inegável a importância do Filme do X-men para o início dos “filmes de quadrinhos”. Esse primeiro filme soube criar o mundo e dá o tom para essas produções. Talvez tenha seus problemas de ritmo (faz tempo que assiti), mas foi muito bem feito para a época e respeitou muito os quadrinhos. A minha única crítica é ao excesso de foco no personagem do Wolverine, gostaria de ver um pouco mais dos outros peronagens.
VALDIR FUMENE JUNIOR
14 de julho de 2020 at 17:56
Belo texto Brunão. X-Men esse filme marcou época, agradou fãs dos quadrinhos e daquele pessoa que assistia a animação que também era do Fox.
Pode se dizer que foi um fan service bem feito, pois você percebe que não forçação de barra para incluir algum elemento, personagem, etc. Coisa que infelizmente eles não souberam repetir nos demais. Como qualquer filme bom do MCU, é aquele que você sai feliz e empolgado do cinema.
Bem, a Disney vai acabar “revoltando” os multantes, até porque as produções recentes são bem execráveis. Espero que eles caprichem da mesma maneira que esse filme de 20 anos foi feito.
Estamos ficando velhos, Magneto
Luis Alfredo
15 de julho de 2020 at 22:07
Filme que merece todas as homenagens. Abriu caminho e deu o tom rumo a um novo início para os super-heróis, com conceitos “atualizados”, mas sem perder o respeito à obra original. Embora os mais recentes tenham perdido um pouco a mão, a Marvel tem sim que “tomar benção “ a esta primeira trilogia! Que, a propósito, é também o segundo melhor filme solo do Wolverine hahahahah.