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Reviews e Análises

Os Rejeitados – Crítica

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Os Rejeitados (The Holdovers) conta a história improvável de Paul Hunham (Paul Giamatti), um professor de história de uma escola particular preparatória para a universidade que precisa ficar internado na instituição de ensino cuidando de alguns alunos que não conseguiram ir para casa durante o recesso de Natal e Ano Novo. Ele acaba estreitando os laços com um desses alunos, o problemático Angus Tully (Dominic Sessa), e com a governanta Mary Lamb (Da’Vine Joy Randolph). Juntos, os três irão compartilhar segredos, confidências, sofrimentos, penúrias e sair transformados dessa curta jornada.

O filme é dirigido pelo ótimo Alexander Payne de “Eleição”, “Os Descendentes”, “Sideways – Entre Umas e Outras” e “As Confissões de Schmidt”. Os Rejeitados se passa exatamente na virada entre 1970 e 1971 e o diretor aposta não só na estética da época mas também no estilo de se filmar e na fotografia da época. Parece que realmente estamos assistindo a um filme feito nos anos 70. Até mesmo os créditos iniciais são montados de maneira a simular isso.

O filme não tem pressa de contar a sua história, que apesar de ser simples, é mais focada na jornada de vivência dos personagens e, por isso mesmo, é tão fascinante. Cada um dos três principais possuem suas idiossincrasias particulares tão bem definidas e são tão cativantes que é fácil de se identificar com cada um ali. Fora as performances dos três atores que estão sublimes.

Os Rejeitados é uma aula de atuação de todas as partes

Paul Giamatti é um monstro em cena. Seu professor frustrado e orgulhoso, que gosta de fazer seus alunos sofrerem é simplesmente um dos melhores personagens que já vi no cinema. Ao mesmo tempo em que você começa o filme não gostando dele, aos poucos que vai conhecendo quem ele é e o porque dele fazer o que faz, vai se afeiçoando a ele. E quando chega no final é impossível segurar as lágrimas para suas atitudes.

Dominic Sessa também engole o filme com sua performance debochada de Angus, o adolescente que tirou notas até descentes e nem precisaria ficar em detenção, mas que é rejeitado pela mãe e pelo padastro, que preferem ir em lua de mel a conviverem com o garoto. Problemático, Angus é rebelde, inquieto, depressivo, mas tudo o que precisa é de carinho e atenção. É outro personagem que, quanto mais tempo passamos com ele, mas nos afeiçoamos.

E não menos importante temos a exuberante Da’Vine Joy Randolph no papel de Mary, uma cozinheira funcionária da escola que prefere ficar para trás durante o feriado pois não quer comemorar o Natal e o ano Novo pois está de luto. A força dessa mulher em enfrentar a situação da perda e mesmo assim encarar o mundo dominado por homens, já que é um colégio somente para rapazes, sendo negra diz muito sobre ela já em seus primeiros momentos de cena. Uma performance séria e impactante, sem vitimismos ou momentos panfletários, mas que o espectador entende na hora a situação.

Os Rejeitados é um daqueles filmes que a maioria acostumada a filmes pipocas não vai entender ou vão dizer que “nada acontece”. Tudo porque é um filme sobre uma situação ordinária do cotidiano. Algo que poderia acontecer a qualquer um. Mas o que cada personagem vai passar e se transformar durante a jornada é o que torna o filme um clássico instantâneo e um dos melhores filmes que vi nos últimos tempos.

Avaliação: 5 de 5.

Nota 5 de 5

Os Rejeitados está indicado a cinco prêmios Oscar: Melhor Filme, Melhor Roteiro Original, Melhor Montagem, Melhor Ator (Paul Giamatti) e Melhor Atriz Coadjuvante (Da’Vine Joy Randolph).

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Lispectorante – Crítica

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Lispectorante de Renata Pinheiro, diferente de outras produções baseadas na obra de Clarice Lispector – A Hora da Estrela (1985), de Suzana Amaral e A Paixão Segundo G.H. (2023) de Luiz Fernando Carvalho – não tem foco, especialmente, em nenhum texto da autora, mas consegue captar seu universo e soluciona o fluxo de consciência, característica primeira de sua literatura, através de cenas marcadas pelo fantástico.

Durante o longa acompanhamos Glória Hartman – uma artista plástica em crise, recém-divorciada e sem dinheiro – que retorna para sua terra natal, indo visitar sua tia Eva. Ao encontrar um guia de turismo com um grupo acaba interessando-se pelas informações sobre a casa de Clarice Lispector que, a partir daqui será o lugar do onírico e de profundas e solitárias discussões existenciais, preenchido por ruinas de um mundo apocalíptico.

Lispectorante, palavra inventada tradução do intraduzível, Oxe, pra mim listectorante é uma droga ilegal feita numa manhã de um Carnaval que se aproxima. Pra expectorar mágoas, prazeres, visgos e catarros num rio que vira charco
Entre o fazer artístico – sempre mostrado de forma fantástica, surrealista – e a necessidade de sustento, Glória se apaixona por Guitar, um artista de rua mais jovem com quem inicia um romance.

A escolha de Marcélia Cartaxo para viver Glória nos ajuda a encaixá-la no mundo de Clarice: é como se ela sempre tivesse estado ali, vivendo e sentindo todas aquelas subjetividades, mesmo sendo uma personagem de atitudes muito diferentes de Macabéa, que a atriz viveu em A Hora da Estrela. Glória é livre, mas seu momento de vida – uma mulher madura, recém-divorciada, sem dinheiro e em um “lance” com um homem mais jovem – nos remete as inseguranças de Macabéa – jovem, tímida e descobrindo o mundo. Ambas estão em transição!

Lispectorante é poético e tem um desfecho que não surpreende e nisso ele é excelente: não há outro caminho para o sentir do artista que as suas incertezas.

Avaliação: 3 de 5.
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Burburinho

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