Reviews e Análises
O Pastor e o Guerrilheiro – Crítica

Filme nacional na área, galera! Já vou adiantar que o filme está bom sim. Tem uma temática histórico-política, mas a trama do filme funciona demais, uma muito bem feita e executada. E me surpreendeu. Não esperava que fosse tão bem.

O filme é dirigido por José Eduardo Belmonte, mesmo diretor de “Se nada mais der certo” de 2008 e “Carcereiros: o filme” de 2019. O filme tá tecnicamente muito bem executado. As cenas conceituais se encaixam perfeitamente, sem ficar parecendo que o diretor ta querendo mostrar o que aprendeu na faculdade. O ritmo está bom das cenas, se bem que eu senti que no fim do segundo terço do filme ele começou a parecer longo, mas logo reata o ânimo e foi bem até o final. Enfim de direção, apenas elogios.
O roteiro é de José Eduardo Belmonte junto com Nilson Rodrigues, em seu primeiro grande trabalho como roteirista, e Josefina Trotta (“3%” de 2011 e “Meu nome é Bagdá” de 2020). A premissa é bem interessante e conseguiu ser passado com uma boa fluidez. O roteiro parte basicamente de três frentes diferentes que vão convergindo para um ponto e uma data. E as histórias são muito bem apresentadas, explicadas e conduzidas. Sem exageros e sem amenizações. Inclusive penso que é esse equilíbrio que colabore para essa fluidez e somado ao trabalho do diretor tanto as mensagens de primeiro plano, quanto as de pano de fundo sejam envolventes sem uma sensação de que estão me empurrando algo. Claro que quando se fala de uma temática política, haverão falas de viés ideológicos mais explícitos e diretos, contudo isso não sobrepõe a força dos dramas das personagens.

De elenco, como morador de Brasília, fico muito feliz com o trabalho dos artistas da cidade. Temos Johnny Massaro (“O filme da minha vida” de 2017 e “Dr Gama” de 2021) como Miguel Souza (João), um jovem idealista político de 1973. Cesar Mello (“A glória e a graça” de 2017 e “Minha vida em Marte” de 2018) como Zaqueu, o pastor. Julia Dalavia (“Até que a sorte nos separe” de 2012 e “Minha Família perfeita” de 2022) como Juliana, uma jovem universitária de 1999, que busca por respostas após a morte do seu pai biológico. Temos ainda: Gabriela Correia como Rachel e William costa como Jeremias, ambos filhos do pastor; Similião Aurélio como o ex soldado Oswaldo; Antônio Grassi como O advogado da família do Coronel; Túlio Starling como Diogo, namorado de Juliana; Ana Hartmann como Helena (Marta), companheira e namorada de Miguel Souza (João); Ricardo Gelli como Coronel Cruz, militar e pai de Juliana; e Cássia Kiss como Dona Ivani, avó de Juliana. E nesse ponto vocês sabem que sou chato, porém tirando raros momentos, não tenho mesmo o que reclamar do trabalho de atuação. Realmente muito bom.

E sobre o que é o filme? Tudo começa com um coronel brasileiro e reformado, encerra sua vida. Logo descobrimos que Juliana é sua filha bastarda e tem uma parte na herança. Entre os pertences pessoais que ela teve acesso, Juliana descobre um livro autobiográfico de um guerrilheiro brasileiro da década de 70. Em paralelo a descoberta de Juliana, temos a história de um pastor em um dilema familiar de fundo ético-religioso. Juliana começa a ler o livro e a revisitar alguns lugares, pesquisar nomes e encontrar provas dos fatos narrados. E revivendo esses lugares, vamos vendo a história de Miguel Souza, e que ele não foi uma ficção. E ela vai buscando até que… bom, vou ter que parar por aqui senão vou acabar dando spoiler. Acho que você deveria mesmo ir assistir esse filme pois vale muito a pena.
Essa crítica da 4 de 5 para esse filme, sendo bem justo e sem forçar a barra.
O filme estreia dia 30 de março nos cinemas.
Reviews e Análises
Lispectorante – Crítica

Lispectorante de Renata Pinheiro, diferente de outras produções baseadas na obra de Clarice Lispector – A Hora da Estrela (1985), de Suzana Amaral e A Paixão Segundo G.H. (2023) de Luiz Fernando Carvalho – não tem foco, especialmente, em nenhum texto da autora, mas consegue captar seu universo e soluciona o fluxo de consciência, característica primeira de sua literatura, através de cenas marcadas pelo fantástico.
Durante o longa acompanhamos Glória Hartman – uma artista plástica em crise, recém-divorciada e sem dinheiro – que retorna para sua terra natal, indo visitar sua tia Eva. Ao encontrar um guia de turismo com um grupo acaba interessando-se pelas informações sobre a casa de Clarice Lispector que, a partir daqui será o lugar do onírico e de profundas e solitárias discussões existenciais, preenchido por ruinas de um mundo apocalíptico.
Lispectorante, palavra inventada tradução do intraduzível, Oxe, pra mim listectorante é uma droga ilegal feita numa manhã de um Carnaval que se aproxima. Pra expectorar mágoas, prazeres, visgos e catarros num rio que vira charco
Entre o fazer artístico – sempre mostrado de forma fantástica, surrealista – e a necessidade de sustento, Glória se apaixona por Guitar, um artista de rua mais jovem com quem inicia um romance.
A escolha de Marcélia Cartaxo para viver Glória nos ajuda a encaixá-la no mundo de Clarice: é como se ela sempre tivesse estado ali, vivendo e sentindo todas aquelas subjetividades, mesmo sendo uma personagem de atitudes muito diferentes de Macabéa, que a atriz viveu em A Hora da Estrela. Glória é livre, mas seu momento de vida – uma mulher madura, recém-divorciada, sem dinheiro e em um “lance” com um homem mais jovem – nos remete as inseguranças de Macabéa – jovem, tímida e descobrindo o mundo. Ambas estão em transição!
Lispectorante é poético e tem um desfecho que não surpreende e nisso ele é excelente: não há outro caminho para o sentir do artista que as suas incertezas.
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