Reviews e Análises
O Lodo – Crítica

Finalmente chega ao circuito de cinema comercial o filme O Lodo, dirigido por Helvécio Ratton. O filme, pronto desde 2020, já percorreu diversos festivais de cinema pelo país, mas somente agora consegue chegar ao grande público. Na história, Manfredo (Eduardo Moreira) é um funcionário de uma empresa de seguros que está passando por um momento de depressão. Ao procurar a ajuda de um psiquiatra, o Dr. Pink (Renato Parara) lhe dá um diagnóstico bizarro de que há um lodo dentro dele e que as sessões de terapia serão necessárias para se livrar disso. Preocupado em remexer as questões do passado, Manfredo se recusa a participar das sessões, mas passa a ser perseguido insistentemente pelo Dr. Pink.
Manfredo é uma pessoa reservada e que almeja a independência pessoal a todo custo: só possui amantes (até mesmo a mulher do chefe), não se envolve muito no trabalho, fazendo o mínimo necessário para manter o seu trabalho. Não almeja grandes coisas. Aparentemente está anestesiado pela vida.
Helvécio Ratton (Menino Maluquinho: O Filme) tenta criar em O Lodo um clima de David Lynch: em alguns momentos a realidade é tão bizarra que parece ser um sonho, enquanto que o sonho é tão assustador que parece ser real. Infelizmente, isso fica apenas na tentativa, na intenção, pois a realização não consegue nunca chegar lá. Fica sempre no quase. Uma escultura bizarra de um ouvido no teto do consultório do Dr. Pink é reintroduzido no filme por diversas vezes mas nunca mostra a que veio a não ser permanecer como um item bizarro.
Em determinados momentos do filme, feridas se abrem nos mamilos de Manfredo, esquisitas, sem uma aparente razão, sem algo que possa dar ao espectador uma pista do que isso pode trazer para a trama. Ficam apenas como feridas, com um pequeno significado para a história, mas sem impacto para o todo.
Essa falta de ousar, de querer manter o espectro também dentro da narrativa de vida monótona, acaba deixando o filme amarrado, com cenas muito aborrecidas, emulando o sentimento do protagonista ao espectador, o que acaba tornando o filme desinteressante para aqueles acostumados com algo mais dinâmico.
O final aberto demais também pode atrapalhar um pouco o apreço do público em geral pelo filme, já que o mistério e a razão pela qual Manfredo está sofrendo o filme todo, apesar de poder ser óbvio para muitos, nunca é revelado. E quando vai ser, o filme acaba. Desinteressante, como a vida de Manfredo.
Reviews e Análises
Lispectorante – Crítica

Lispectorante de Renata Pinheiro, diferente de outras produções baseadas na obra de Clarice Lispector – A Hora da Estrela (1985), de Suzana Amaral e A Paixão Segundo G.H. (2023) de Luiz Fernando Carvalho – não tem foco, especialmente, em nenhum texto da autora, mas consegue captar seu universo e soluciona o fluxo de consciência, característica primeira de sua literatura, através de cenas marcadas pelo fantástico.
Durante o longa acompanhamos Glória Hartman – uma artista plástica em crise, recém-divorciada e sem dinheiro – que retorna para sua terra natal, indo visitar sua tia Eva. Ao encontrar um guia de turismo com um grupo acaba interessando-se pelas informações sobre a casa de Clarice Lispector que, a partir daqui será o lugar do onírico e de profundas e solitárias discussões existenciais, preenchido por ruinas de um mundo apocalíptico.
Lispectorante, palavra inventada tradução do intraduzível, Oxe, pra mim listectorante é uma droga ilegal feita numa manhã de um Carnaval que se aproxima. Pra expectorar mágoas, prazeres, visgos e catarros num rio que vira charco
Entre o fazer artístico – sempre mostrado de forma fantástica, surrealista – e a necessidade de sustento, Glória se apaixona por Guitar, um artista de rua mais jovem com quem inicia um romance.
A escolha de Marcélia Cartaxo para viver Glória nos ajuda a encaixá-la no mundo de Clarice: é como se ela sempre tivesse estado ali, vivendo e sentindo todas aquelas subjetividades, mesmo sendo uma personagem de atitudes muito diferentes de Macabéa, que a atriz viveu em A Hora da Estrela. Glória é livre, mas seu momento de vida – uma mulher madura, recém-divorciada, sem dinheiro e em um “lance” com um homem mais jovem – nos remete as inseguranças de Macabéa – jovem, tímida e descobrindo o mundo. Ambas estão em transição!
Lispectorante é poético e tem um desfecho que não surpreende e nisso ele é excelente: não há outro caminho para o sentir do artista que as suas incertezas.
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