Gibiteca Refil
O Corvo ou como “esses prazeres violentos tem fins violentos”?
Não é morte se você recusá-la.
Eric e Shelly nunca estiveram tão felizes: eles irão se casar. Voltando da comemoração do noivado, porém, o carro de Eric enguiça e eles ficam parados em uma rodovia. Um bando de marginais acaba aparecendo. Talvez por culpa das drogas ou pelo mal que carregam em si, eles matam Eric com um tiro na cabeça, não sem depois estuprar e matar Shelly. O que ninguém poderia prever é que o Corvo, aquele que leva a alma dos mortos, daria uma segunda chance a Eric, para acertar as contas com aqueles que acabaram com sua felicidade.
Não existe motivador mais eficiente para uma história que a vingança. Desde de O Conde de Monte Cristo de Alexandre Dumas tem sido assim. Dúvida? O que dizer de Batman, Kill Bill, Cabo do Medo e (até) Avenida Brasil? A lista de histórias é gigantesca e só expõe uma verdade: que somos grandes revanchistas e mais do que a justiça – que tem uma dose de humanidade – queremos que o outro sofra na mesma proporção que sofremos. A história de James O’Barr é sobre vingança, mas toda ela motivada por algo realmente maior: o amor.
Recheada de poesias – próprias e de autores como Arthur Rimbaud e Rose Fyleman – e referências – Sete Samurais, Hieronymus Bosch, The Cure e Joy Division – a obra nos apresenta um protagonista complexo, que transforma-se naquilo que mais odeia, mas sem deixar a matéria do que é feito para trás. Eric, agora Corvo, é cheio de nuances que vão além do ódio, construindo um dos mais incríveis arcos de desenvolvimento de personagem das HQs.
Por vezes a arte incomoda, e é proposital. Quando o protagonista está em ação, os desenhos parecem extremamente sólidos, pesados e fora de proporção e é aí que a violência predomina. É como se o artista quisesse nos mostrar todo aquele mar de violência e drogas em sua forma mais crua.
Quando saltamos para um dos vários flashbacks, a arte parece querer nos contar outra história: tudo é lírico, delicado e fluido.
Assim é o interior do nosso trágico herói, essa conjunção de amor e violência, que pode parecer paradoxal, mas que O Bardo – que não é referido na história, acho que seria fácil demais – resume muito bem, não por acaso em Romeu e Julieta, na boca de Frei Lorenço
Esses prazeres violentos tem fins violentos,
E morrem em seu triunfo, como o fogo e a pólvora,
Que, ao se beijarem, se consomem.
O mais doce mel repugna por sua própria doçura,
e seu sabor confunde o paladar.
No Brasil, O Corvo foi lançado pela Pandora Books (selo Planetário), de 2003, com um prefácio lindo, escrito pelo autor especialmente para a edição brasileira. Ano passado a Darkside lançou uma nova edição, com todo o cuidado que já conhecemos da editora: luxo e em capa dura.
Título: O Corvo
Autor: James O’Barr
Tradução: Érico Assis
Editora: Darkside
Ano: 2018
ISBN: 9788594541185
Ficha técnica completa no Guia dos Quadrinhos
Gibiteca Refil
#MulherMaravilha80anos – Do Polígrafo ao Laço da Verdade
“Bela como Afrodite; sagaz como Atena; dotada da velocidade de Mercúrio e da força de Hércules – nós a conhecemos como Mulher-Maravilha. Mas quem pode nos dizer quem é ela ou de onde ela veio?” – All-Star Comics, dezembro de 1941
A Mulher-Maravilha não foi a primeira super-heroína dos quadrinhos e definir esse posto é algo bastante complexo. Levando-se em conta o que entendemos como super-herói (ter uma identidade secreta, poderes e usar um uniforme) o consenso é que a primeira super-heroína dos quadrinhos é a Hawkgirl, conhecida por aqui como Mulher-Gavião. Como explicar, então, que tamanha popularidade de Diana faça com que nem cogitemos acreditar nisso? É simples: o conceito.
Muitas personagens femininas foram criadas a partir do clichê Ms. Male Character, isto é, a versão feminina de uma personagem masculina. Shiera era a versão feminina do Gavião Negro, além de sua parceira amorosa, assim como as primeiras concepções de Miss Marvel e Batwoman. A Mulher-Maravilha já foi criada como uma personagem independente, com seu próprio mundo fictício e histórias em consonância com as discussões do período.
A primeira aparição de Diana no universo DC se deu em dezembro de 1941 na All-Star Comics número 8. Essa ainda não contava a origem da personagem, mas a história das Amazonas e o motivo delas irem parar em Themyscira. A narrativa do nascimento de Diana, que permaneceria intacta até sua reformulação pós-Crise, seria apresentada apenas em Wonder Woman número 1: esculpida por Hipólita, a partir do barro de Themyscira, a escultura desperta na Rainha das Amazonas um sentimento profundamente maternal e o desejo de que a forma tome vida, em uma releitura do mito de Pigmaleão e Galatéia. Afrodite atende ao pedido de Hipólita, trazendo a criança à vida, dando-lhe o nome de Diana, em homenagem a irmã gêmea de Apolo, deusa da Lua e da caça. O que nos faz pensar: como seus criadores chegaram a essas referências?
“Sinceramente, a Mulher-Maravilha é propaganda psicológica com vistas ao novo tipo de mulher que, na minha opinião, deveria dominar o mundo.” William Moulton Marston, março de 1945
A criação da personagem é atribuída ao roteirista Charles Moulton, pseudônimo do psicólogo William Moulton Marston, conhecido também como o inventor do polígrafo (a máquina da verdade). Já a concepção visual ficou a cargo de Harry G. Peter. Sempre esquecida nesta equação, porém, estava Elizabeth Holloway Marston esposa de William Marston e a quem o próprio se referia como coautora da personagem.
A luta pela igualdade feminina, presente nas primeiras histórias da Mulher-Maravilha – segundo Jill Lepore na biografia A história secreta da Mulher-Maravilha – remonta os primeiros anos de Marston em Harvard com o movimento pelo voto feminino e, principalmente, após ele ter ouvido a palestra da sufragista inglesa Emmeline Pankurst. Quase impedida de falar na universidade, simplesmente por ser mulher, Pankurst deixou Marston “fascinado, emocionado”. Já as referências gregas, possivelmente vieram de Holloway que amava a língua e as histórias que estudou em seus anos no ensino médio.
Desde a palestra de Emmeline Pankurst, a Mulher-Maravilha levou três décadas para aparecer, quando o seu principal idealizador já tinha 48 anos. Marston, após afirmar que via nos quadrinhos um grande potencial educacional, tornou-se uma espécie de psicólogo consultor da DC Comics. Foi aí que sugeriu ao editor Max Gaines uma super-heroína. A resposta inicial de Gaines foi dizer que personagens pulp e de quadrinhos femininas sempre eram um fracasso. Marston engendrou em argumento todos os anos em que defendeu os direitos das mulheres, recebendo a resposta “fiquei com o Superman depois que todo syndicate do país recusou. Vou dar uma chance a sua Mulher-Maravilha!”. Como condição o próprio Marston deveria escrever as histórias e se depois de seis meses os leitores não gostassem, essa seria descontinuada. Parece que acabou dando certo!
Como dito, Mulher-Maravilha não foi a primeira super-heroína, de fato, mas acredito que se tornou a primeira super-heroína por direito. Assim, convido você a comemorar durante os próximos meses os 80 anos de suas histórias e imaginário criados para a princesa amazona.
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