Reviews e Análises
Não! Não Olhe! – Crítica

Não! Não Olhe! (2022) é o mais recente filme do diretor/roteirista/produtor Jordan Peele, vencedor do Oscar de melhor roteiro original em 2018 por Corra!. Dessa vez, Peele conta a história de uma família de criadores e treinadores de cavalos que, por muito tempo, prestaram seus serviços para Hollywood. Com o tempo e avanço do cinema, os trabalhos foram rareando e com a recente morte do patriarca da família, OJ Haywood (Daniel Kaluuya), herdeiro do rancho, vai se vendo obrigado a vender os cavalos para um parque temático de velho Oeste, chefiado por Ricky “Jupe” Park (Steven Yeun), um antigo ator mirim de sucesso.
A intrincada e confusa história ainda envolve um mistério que ao ser revelado perde seu impacto, mesmo com a adição da melhor personagem do filme, a irmã de OJ, Emerald Haywood, interpretada magistralmente por Keke Palmer. Por falar em interpretação, ainda estou tentando entender o caminho pelo qual o talentoso Daniel Kaluuya foi obrigado a seguir, já que parece apático e totalmente inerte durante o filme todo, sem esboçar uma emoção sequer. Isso parece orientação equivocada do diretor, que queria fazer uma crítica à interpretação sempre canastrona de heróis brancos de filmes de ação. Mas aqui, não funciona.
É claro que a obra de Peele não é um simples passeio no parque. Misturando ficção científica, com blockbuster de ação, filme de terror e suspense, Peele parece pretensioso em querer subverter os gêneros e reinventar a roda. Infelizmente, o roteiro mirabolante não decide se é ação, drama, comédia, filme b, terror e acaba se perdendo em si mesmo, esvaziando até mesmo o importante discurso racial presente tanto aqui, como em toda a sua obra. A lição de que simplicidade funciona parece ter sido deixada para trás lá em Corra!
As soluções não convencionais para o problema encontrado causam estranheza e são no mínimo originais, mas se funcionam logicamente, não sei dizer. Ao final do filme fica a sensação de roteirismo (quando tudo é conveniente demais) e, no clímax do filme, a gente já está tão de saco cheio daquela coisa toda, que a gente só quer é que acabe mesmo. Ou seja, fica claro que Peele está fazendo uma crítica aos blockbusters, mas acaba ele mesmo fazendo um, sem realmente subverter nada.
O filme ainda tem uma parte que me deixou extremamente incomodado. O que vou falar aqui pode ser considerado spoiler, então pule esse parágrafo se não quiser ter surpresas do filme estragadas. Desde o começo do filme somos apresentados a uma tragédia envolvendo um chimpanzé chamado Gordy. Ele era um animal treinado para uma sitcom que em determinado momento, por conta de um evento na hora da gravação ao vivo, entra em surto psicótico e mata parte do elenco. Um enredo secundário super intrigante, que chega com força, extremamente visceral e passional, extremamente bem executado visualmente, mas que, quando chegamos ao fim, nos perguntamos: pra quê tudo aquilo? Não há uma ligação verdadeira entre o surto do animal e a resolução da história como um todo. Ficou parecendo que Peele teve uma ótima ideia, mas não tinha sustentação para fazer um filme completo e aí resolveu colocar como subtrama, que ao final não leva a lugar nenhum. Uma pena.
No fim das contas, Não! Não Olhe! irrita mais do que diverte. Causa menos desconforto do que deveria. Se propõe a ser uma coisa, mas não alcança seu objetivo. Fica no meio do caminho. Às vezes seria bom Peele tentar retornar ao mais simples, para depois tentar ser genial. Menos é mais. E no caso de Não! Não Olhe! mais, definitivamente, foi menos.
Reviews e Análises
Lispectorante – Crítica

Lispectorante de Renata Pinheiro, diferente de outras produções baseadas na obra de Clarice Lispector – A Hora da Estrela (1985), de Suzana Amaral e A Paixão Segundo G.H. (2023) de Luiz Fernando Carvalho – não tem foco, especialmente, em nenhum texto da autora, mas consegue captar seu universo e soluciona o fluxo de consciência, característica primeira de sua literatura, através de cenas marcadas pelo fantástico.
Durante o longa acompanhamos Glória Hartman – uma artista plástica em crise, recém-divorciada e sem dinheiro – que retorna para sua terra natal, indo visitar sua tia Eva. Ao encontrar um guia de turismo com um grupo acaba interessando-se pelas informações sobre a casa de Clarice Lispector que, a partir daqui será o lugar do onírico e de profundas e solitárias discussões existenciais, preenchido por ruinas de um mundo apocalíptico.
Lispectorante, palavra inventada tradução do intraduzível, Oxe, pra mim listectorante é uma droga ilegal feita numa manhã de um Carnaval que se aproxima. Pra expectorar mágoas, prazeres, visgos e catarros num rio que vira charco
Entre o fazer artístico – sempre mostrado de forma fantástica, surrealista – e a necessidade de sustento, Glória se apaixona por Guitar, um artista de rua mais jovem com quem inicia um romance.
A escolha de Marcélia Cartaxo para viver Glória nos ajuda a encaixá-la no mundo de Clarice: é como se ela sempre tivesse estado ali, vivendo e sentindo todas aquelas subjetividades, mesmo sendo uma personagem de atitudes muito diferentes de Macabéa, que a atriz viveu em A Hora da Estrela. Glória é livre, mas seu momento de vida – uma mulher madura, recém-divorciada, sem dinheiro e em um “lance” com um homem mais jovem – nos remete as inseguranças de Macabéa – jovem, tímida e descobrindo o mundo. Ambas estão em transição!
Lispectorante é poético e tem um desfecho que não surpreende e nisso ele é excelente: não há outro caminho para o sentir do artista que as suas incertezas.
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