Gibiteca Refil
#Batman80anos – Bat-Man
Batman. Há oitenta anos surgia uma das personagens mais populares do mundo dos quadrinhos. Dúvida? Segundo o TOP 500 da Diamond Comics, a maior distribuidora de quadrinhos dos Estados Unidos, a Marvel Comics foi a editora que mais faturou em número de vendas em 2018, mas adivinha qual foi a personagem que liderou o posto de mais números vendidos?
Este ano Batman completa 80 primaveras – ou invernos sombrios, se você preferir – e para começar a entender o poder dessa personagem que não tem superpoder nenhum, que tal voltarmos no tempo, mais especificamente para o ano de 1938?
Enquanto no Brasil acontecia o Levante Legalista contra o Estado Novo, nos Estados Unidos nascia o que seria chamada de a Era de Ouro dos Quadrinhos com a publicação da Action Comics, que trazia o primeiro grande super-herói: o Superman. A personagem tornou-se, imediatamente, um grande fenômeno de vendas.Por causa desse sucesso todo mundo queria um super-herói para chamar de seu. Daí surgiram o Wonder-Man, Minute-Man e Capitão Marvel (não o da Marvel Comics, mas o verdadeiro, da Fawcett Comics, que hoje chamamos de Shazam!).
Para não ficar de fora, em 1939 a Detective Comics encomendou ao desenhista Bob Kane um herói mascarado. Kane se serviu de algumas inspirações para criar o Homem Morcego, como, por exemplo, o Sombra.
Quem sabe o mal que se esconde nos corações humanos? O Sombra sabe…
Em 1930 ia ao ar pela primeira vez o seriado radiofônico O Sombra, que narrava as aventuras do vingador mascarado, alter-ego do milionário Lamont Cranston. A personagem tornou-se tão popular que em 1931 ganhou romances pulps escritos por Walter B. Gibson e, com o passar do tempo, apareceu em mídias muito variadas como quadrinhos, seriados para TV, games, filmes, mas só percebemos como isso tinha ido longe demais quando vimos Alec Baldwin na pele do detetive em 1994. Outra personagem que serviu de inspiração para a criação do Cavaleiro das Trevas foi o Zorro.
Ambientada no século XIX, durante o domínio mexicano, a história criada por Johnston McCulley e publicada em 1919, narra as façanhas de Don Diego de La Vega, um aristocrata que decide colocar uma máscara e defender os mais necessitados.
Além de O Sombra e Zorro, estão entre as referências de Kane o Ornitóptero – um esboço de Leonardo Da Vinci para uma máquina voadora que utilizava o movimento de asas como as das aves e dos morcegos – e o filme mudo de 1926, The Bat.
Em The Bat um criminoso que se veste como um morcego está solta. Cabe a Dra. Wells, sua criada e o detetive Moletti solucionar este caso. Se você for assistir ao filme, não verá muitas semelhanças com o nosso Cruzado Encapuzado, mas, com certeza, o bat-sinal foi inspirado nele!
Bob Kane não teve ajuda apenas de suas inspirações, mas do escritor Bill Finger que raramente é creditado como co-criador, mas que foi de suma importância para o desenvolvimento das primeiras histórias do Morcego.
Depois de saber que Batman foi uma personagem encomendada, que é uma colcha de retalhos de referências e que ainda carrega uma polêmica sobre a quem deve ser creditado, talvez fique ainda mais difícil entender por que, mesmo depois de todo esse tempo, ele ainda bate personagens como o Homem-Aranha, criado 23 anos depois dele. Talvez todos nós estivemos cegos durante todo esse tempo e o superpoder do herói que não tem poder nenhum seja manter a nós, leitores, sempre ávidos para suas próximas aventuras!
Gibiteca Refil
#MulherMaravilha80anos – Do Polígrafo ao Laço da Verdade
“Bela como Afrodite; sagaz como Atena; dotada da velocidade de Mercúrio e da força de Hércules – nós a conhecemos como Mulher-Maravilha. Mas quem pode nos dizer quem é ela ou de onde ela veio?” – All-Star Comics, dezembro de 1941
A Mulher-Maravilha não foi a primeira super-heroína dos quadrinhos e definir esse posto é algo bastante complexo. Levando-se em conta o que entendemos como super-herói (ter uma identidade secreta, poderes e usar um uniforme) o consenso é que a primeira super-heroína dos quadrinhos é a Hawkgirl, conhecida por aqui como Mulher-Gavião. Como explicar, então, que tamanha popularidade de Diana faça com que nem cogitemos acreditar nisso? É simples: o conceito.
Muitas personagens femininas foram criadas a partir do clichê Ms. Male Character, isto é, a versão feminina de uma personagem masculina. Shiera era a versão feminina do Gavião Negro, além de sua parceira amorosa, assim como as primeiras concepções de Miss Marvel e Batwoman. A Mulher-Maravilha já foi criada como uma personagem independente, com seu próprio mundo fictício e histórias em consonância com as discussões do período.
A primeira aparição de Diana no universo DC se deu em dezembro de 1941 na All-Star Comics número 8. Essa ainda não contava a origem da personagem, mas a história das Amazonas e o motivo delas irem parar em Themyscira. A narrativa do nascimento de Diana, que permaneceria intacta até sua reformulação pós-Crise, seria apresentada apenas em Wonder Woman número 1: esculpida por Hipólita, a partir do barro de Themyscira, a escultura desperta na Rainha das Amazonas um sentimento profundamente maternal e o desejo de que a forma tome vida, em uma releitura do mito de Pigmaleão e Galatéia. Afrodite atende ao pedido de Hipólita, trazendo a criança à vida, dando-lhe o nome de Diana, em homenagem a irmã gêmea de Apolo, deusa da Lua e da caça. O que nos faz pensar: como seus criadores chegaram a essas referências?
“Sinceramente, a Mulher-Maravilha é propaganda psicológica com vistas ao novo tipo de mulher que, na minha opinião, deveria dominar o mundo.” William Moulton Marston, março de 1945
A criação da personagem é atribuída ao roteirista Charles Moulton, pseudônimo do psicólogo William Moulton Marston, conhecido também como o inventor do polígrafo (a máquina da verdade). Já a concepção visual ficou a cargo de Harry G. Peter. Sempre esquecida nesta equação, porém, estava Elizabeth Holloway Marston esposa de William Marston e a quem o próprio se referia como coautora da personagem.
A luta pela igualdade feminina, presente nas primeiras histórias da Mulher-Maravilha – segundo Jill Lepore na biografia A história secreta da Mulher-Maravilha – remonta os primeiros anos de Marston em Harvard com o movimento pelo voto feminino e, principalmente, após ele ter ouvido a palestra da sufragista inglesa Emmeline Pankurst. Quase impedida de falar na universidade, simplesmente por ser mulher, Pankurst deixou Marston “fascinado, emocionado”. Já as referências gregas, possivelmente vieram de Holloway que amava a língua e as histórias que estudou em seus anos no ensino médio.
Desde a palestra de Emmeline Pankurst, a Mulher-Maravilha levou três décadas para aparecer, quando o seu principal idealizador já tinha 48 anos. Marston, após afirmar que via nos quadrinhos um grande potencial educacional, tornou-se uma espécie de psicólogo consultor da DC Comics. Foi aí que sugeriu ao editor Max Gaines uma super-heroína. A resposta inicial de Gaines foi dizer que personagens pulp e de quadrinhos femininas sempre eram um fracasso. Marston engendrou em argumento todos os anos em que defendeu os direitos das mulheres, recebendo a resposta “fiquei com o Superman depois que todo syndicate do país recusou. Vou dar uma chance a sua Mulher-Maravilha!”. Como condição o próprio Marston deveria escrever as histórias e se depois de seis meses os leitores não gostassem, essa seria descontinuada. Parece que acabou dando certo!
Como dito, Mulher-Maravilha não foi a primeira super-heroína, de fato, mas acredito que se tornou a primeira super-heroína por direito. Assim, convido você a comemorar durante os próximos meses os 80 anos de suas histórias e imaginário criados para a princesa amazona.
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