Reviews e Análises
Assassino da Lua das Flores – Crítica

Ahhhh que honra! Hoje estamos falando de um Scorsese original e com assinatura. Um filme cuja qualidade é proporcional ao tempo de exibição. Uma obra com texto e contexto necessários para um olhar para o passado e uma reflexão sobre o hoje. Difícil não ser impactado por tudo que é visto na telona. Agora, vá preparado, é uma obra que vai capturar sua atenção e vai pedir bastante tempo. Mas é Scorsese e a gente sabe que ele goooosta de filme longo.
O diretor dispensa apresentações. Com mais de 69 filmes como diretor, entre eles “Bons companheiros” e “Gangues de Nova York”, tem também uma boa coleção de prêmios incluindo um Oscar pelo filme “Os Infiltrados” de 2007. Sua condução aqui foi primorosa tanto na condução dos atores quanto na forma como as cenas são mostradas. Apesar do filme ser grande o ritmo não se ralenta. São cenas grandes e ricas de conteúdo. Os contrastes entre os personagens são muito bem explorados e nas sutilezas valorizam muito a história contada. Ainda que seja um filme que tem cheiro de Oscar, não se perde no conceitual e abstrato de emoções. O filme mostra e gera emoções reais.

A história do filme tem as assinaturas de Eric Roth (“O curioso caso de Benjamin Button” de 2008 e “Nasce uma Estrela” de 2018) e David Grann (Autor da Obra que inspira o filme), além do próprio Martin Scorsese. E que história! Esse filme olha para o passado americano abrindo mão de uma boa dose de romantismo e encarando as feridas de sua construção. A forma como é apresentado o contexto histórico e o drama dos personagens apresentam um cinismo fluído, uma manipulação brutal e uma maldade disfarçada de boas intenções que constrange.
O elenco está primoroso e não estamos falando de atuações quaisquer. Os coadjuvantes e elenco de apoio não deixam a desejar em nada mostrando uma atuação precisa e cativante. Inclusive os que cativam seu ranço. Já a trinca principal fazem um trabalho impressionante. Lily Gladstone como Molly Burkhart entrega uma atuação minuciosa, detalhista, com uma força expressiva destacável em olhares e movimentos mínimos. E entrega uma explosão de emoções precisa e potente nos picos dramáticos na história da sua personagem. Robert De Niro como William Hale, ou King, apresenta uma bondade cínica construída com tamanha qualidade que realmente não percebemos suas intenções, assim como os personagens também não. King é benevolente, dissimulado, interesseiro e apesar de palavras torpes as mãos estão limpas. E por fim Leonardo DiCaprio como Ernest Burkhart, está indiscutivelmente maravilhoso. A atuação do DiCaprio está rica, complexa, profunda e viva. Desde uma certa dose de inocência até a profundidade da angústia é trabalhada em um espectro de emoções muito bem trabalhadas. Definitivamente posso fazer coro com os que afirmam ser esse a melhor atuação de Leonardo DiCaprio.

O filme conta a história do povo Osage que começa a ver suas tradições ameaçadas pela chegada do homem brando, mas isso toma proporções muito maiores quando se descobre petróleo nas suas terras. Eles se tornaram o povo mais próspero da região tendo os homens brancos como seus funcionários. Mas sabemos como os homens brancos podem ser ambiciosos, e logo eles acham um jeito limpo e tranquilo de enriquecer e tomar as terras dos Indígenas: Casamento é um bom negócio. Mas não basta casar para herdar… e uma série de crimes vem acontecendo sem ser investigado. E essa não investigação tem uma intenção. Mas chega ao conhecimento do presidente que manda uma equipe de investigadores pra descobrir melhor. E uma fofoca aqui: essa equipe de investigadores, vai dar origem no futuro ao que conhecemos como FBI.
E fica a dica para quem quer ler o livro que inspirou o filme, tem o link aí embaixo pra compra direto na Amazon.
A nota para esse filme é sem dúvida 5 de 5.
O filme estreia dia 19 de Outubro nos cinemas.
Reviews e Análises
Lispectorante – Crítica

Lispectorante de Renata Pinheiro, diferente de outras produções baseadas na obra de Clarice Lispector – A Hora da Estrela (1985), de Suzana Amaral e A Paixão Segundo G.H. (2023) de Luiz Fernando Carvalho – não tem foco, especialmente, em nenhum texto da autora, mas consegue captar seu universo e soluciona o fluxo de consciência, característica primeira de sua literatura, através de cenas marcadas pelo fantástico.
Durante o longa acompanhamos Glória Hartman – uma artista plástica em crise, recém-divorciada e sem dinheiro – que retorna para sua terra natal, indo visitar sua tia Eva. Ao encontrar um guia de turismo com um grupo acaba interessando-se pelas informações sobre a casa de Clarice Lispector que, a partir daqui será o lugar do onírico e de profundas e solitárias discussões existenciais, preenchido por ruinas de um mundo apocalíptico.
Lispectorante, palavra inventada tradução do intraduzível, Oxe, pra mim listectorante é uma droga ilegal feita numa manhã de um Carnaval que se aproxima. Pra expectorar mágoas, prazeres, visgos e catarros num rio que vira charco
Entre o fazer artístico – sempre mostrado de forma fantástica, surrealista – e a necessidade de sustento, Glória se apaixona por Guitar, um artista de rua mais jovem com quem inicia um romance.
A escolha de Marcélia Cartaxo para viver Glória nos ajuda a encaixá-la no mundo de Clarice: é como se ela sempre tivesse estado ali, vivendo e sentindo todas aquelas subjetividades, mesmo sendo uma personagem de atitudes muito diferentes de Macabéa, que a atriz viveu em A Hora da Estrela. Glória é livre, mas seu momento de vida – uma mulher madura, recém-divorciada, sem dinheiro e em um “lance” com um homem mais jovem – nos remete as inseguranças de Macabéa – jovem, tímida e descobrindo o mundo. Ambas estão em transição!
Lispectorante é poético e tem um desfecho que não surpreende e nisso ele é excelente: não há outro caminho para o sentir do artista que as suas incertezas.
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