Gibiteca Refil
A Corte das Corujas ou como continuar criando vilões para o Batman?
O amanhã está a um sonho de distância.
Acho que existe um ponto em todas as discussões sobre quadrinhos que nem o marvete mais xiita discorda: nenhum super-herói tem uma galeria de vilões melhor que a do Batman. Sem pensar muito, alguns nomes pulam da nossa memória como Mulher-Gato, Charada, Espantalho, Hera-Venenosa, Bane, Ra’s al Ghul, Duas-Caras, Senhor Frio, Chapeleiro Louco e – claro – Coringa. Porém, a impressão que temos é que para Scott Snyder e Greg Capullo – que assumiram o reboot “Os Novos 52”, em 2011 – todo esse catálogo de personagens era pouco…
A partir de um misterioso assassinato envolvendo facas de arremesso e uma quadrinha infantil, conhecemos a lenda da Corte das Corujas, uma espécie de sociedade secreta originada em uma Gotham antiga, que parece, em determinado momento, empoleirar sua trajetória a árvore genealógica da família Wayne.
Cuidado com a Corte das Corujas sempre alerta, vigiando Gotham de seu poleiro, por trás da rocha e do mau cheiro, ela o vigia em seu lar, o vigia em sua cama. Sobre ela nada diga ou o garra vem tomar sua vida.”
A solução que Snyder encontrou para manter durante tanto tempo no anonimato a Corte das Corujas e outros acontecimentos quase infantis (como Batman tirar quase que cirurgicamente o dente do Asa Noturna com um soco) exigem um pouco mais da nossa suspensão de descrença, que pra mim é compensada quando ele entrega um Batman detetive, cheio de apetrechos tecnológicos – como gostamos de ver – e que se superestima a ponto de cair. E é exatamente aí, nessa queda, que a arte mediana de Greg Capullo e sua diagramação tem seu grande momento. Um pequeno gostinho do que quero dizer:
A Corte das Corujas não segue o padrão de vilões do Batman. Não são simplesmente psicopatas ou sociopatas. Talvez essa sociedade secreta, no fundo rivalize não com o herói, mas com a herança de sua contraparte: Bruce Wayne.
Título: Batman: A corte das corujas
Autores: Scott Snyder (roteiro) e Greg Capullo (arte).
Tradução: Bernardo Santana e Levi Trindade
Editora: Panini Comics
Ano: 2014
Ficha técnica completa no Guia de Quadrinhos
Gibiteca Refil
#MulherMaravilha80anos – Do Polígrafo ao Laço da Verdade
“Bela como Afrodite; sagaz como Atena; dotada da velocidade de Mercúrio e da força de Hércules – nós a conhecemos como Mulher-Maravilha. Mas quem pode nos dizer quem é ela ou de onde ela veio?” – All-Star Comics, dezembro de 1941
A Mulher-Maravilha não foi a primeira super-heroína dos quadrinhos e definir esse posto é algo bastante complexo. Levando-se em conta o que entendemos como super-herói (ter uma identidade secreta, poderes e usar um uniforme) o consenso é que a primeira super-heroína dos quadrinhos é a Hawkgirl, conhecida por aqui como Mulher-Gavião. Como explicar, então, que tamanha popularidade de Diana faça com que nem cogitemos acreditar nisso? É simples: o conceito.
Muitas personagens femininas foram criadas a partir do clichê Ms. Male Character, isto é, a versão feminina de uma personagem masculina. Shiera era a versão feminina do Gavião Negro, além de sua parceira amorosa, assim como as primeiras concepções de Miss Marvel e Batwoman. A Mulher-Maravilha já foi criada como uma personagem independente, com seu próprio mundo fictício e histórias em consonância com as discussões do período.
A primeira aparição de Diana no universo DC se deu em dezembro de 1941 na All-Star Comics número 8. Essa ainda não contava a origem da personagem, mas a história das Amazonas e o motivo delas irem parar em Themyscira. A narrativa do nascimento de Diana, que permaneceria intacta até sua reformulação pós-Crise, seria apresentada apenas em Wonder Woman número 1: esculpida por Hipólita, a partir do barro de Themyscira, a escultura desperta na Rainha das Amazonas um sentimento profundamente maternal e o desejo de que a forma tome vida, em uma releitura do mito de Pigmaleão e Galatéia. Afrodite atende ao pedido de Hipólita, trazendo a criança à vida, dando-lhe o nome de Diana, em homenagem a irmã gêmea de Apolo, deusa da Lua e da caça. O que nos faz pensar: como seus criadores chegaram a essas referências?
“Sinceramente, a Mulher-Maravilha é propaganda psicológica com vistas ao novo tipo de mulher que, na minha opinião, deveria dominar o mundo.” William Moulton Marston, março de 1945
A criação da personagem é atribuída ao roteirista Charles Moulton, pseudônimo do psicólogo William Moulton Marston, conhecido também como o inventor do polígrafo (a máquina da verdade). Já a concepção visual ficou a cargo de Harry G. Peter. Sempre esquecida nesta equação, porém, estava Elizabeth Holloway Marston esposa de William Marston e a quem o próprio se referia como coautora da personagem.
A luta pela igualdade feminina, presente nas primeiras histórias da Mulher-Maravilha – segundo Jill Lepore na biografia A história secreta da Mulher-Maravilha – remonta os primeiros anos de Marston em Harvard com o movimento pelo voto feminino e, principalmente, após ele ter ouvido a palestra da sufragista inglesa Emmeline Pankurst. Quase impedida de falar na universidade, simplesmente por ser mulher, Pankurst deixou Marston “fascinado, emocionado”. Já as referências gregas, possivelmente vieram de Holloway que amava a língua e as histórias que estudou em seus anos no ensino médio.
Desde a palestra de Emmeline Pankurst, a Mulher-Maravilha levou três décadas para aparecer, quando o seu principal idealizador já tinha 48 anos. Marston, após afirmar que via nos quadrinhos um grande potencial educacional, tornou-se uma espécie de psicólogo consultor da DC Comics. Foi aí que sugeriu ao editor Max Gaines uma super-heroína. A resposta inicial de Gaines foi dizer que personagens pulp e de quadrinhos femininas sempre eram um fracasso. Marston engendrou em argumento todos os anos em que defendeu os direitos das mulheres, recebendo a resposta “fiquei com o Superman depois que todo syndicate do país recusou. Vou dar uma chance a sua Mulher-Maravilha!”. Como condição o próprio Marston deveria escrever as histórias e se depois de seis meses os leitores não gostassem, essa seria descontinuada. Parece que acabou dando certo!
Como dito, Mulher-Maravilha não foi a primeira super-heroína, de fato, mas acredito que se tornou a primeira super-heroína por direito. Assim, convido você a comemorar durante os próximos meses os 80 anos de suas histórias e imaginário criados para a princesa amazona.
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