Gibiteca Refil
#Batman80anos – Melhores histórias do Batman: a escolha da audiência
Eita audiência que não me decepciona!
Nós chamamos, e vocês responderam: foram quase quarenta títulos mais votados de quase cem histórias do nosso morcego favorito. Entre revistas mensais, graphic novels e especiais, vamos destacar cinco (daqueles que foram possível o ranqueamento). São eles:
5º Lugar – Batman: Asilo Arkham, por Eldes
Olhe aqui o Grant Morison, forte apoiador da teoria do final trágico da Piada Mortal!
Ele foi autor do texto, enquanto Dave McKean foi autor das ilustrações e o motivo por eu ter investido meu dinheiro (dessa vez Cruzeiros – Cr$) na compra dessa graphic novel em 90: além da estética característica desse artista, o que mais me chamou a atenção nas ilustrações do Dave McKean é que, diferente dos outros personagens, como o Coringa e o Amadeus Arkham, o Batman não era mostrado de forma clara, mas sempre como uma silhueta, uma sombra, ou sem rosto definido.
Eu achei isso o máximo na ocasião, porque ia em direção totalmente oposta à de outras histórias do personagem que eu havia lido até então.
Eu interpreto isso como uma intenção do Dave McKean de mostrar o Batman sendo mais um símbolo, uma ideia, do que realmente uma pessoa. Mas isso é uma interpretação pessoal. O que vocês acham? Viajei muito?
Além disso, como Batman é um personagem forte, creio que esse desenho mais neutro dele, propicia uma imersão maior do leitor na história, se imaginando no lugar do personagem, andando pelos corredores do Asilo, apreensivo pelo que vai encontrar na próxima curva ou porta.
4º Lugar – Batman: Gotham City 1889, por Andreia D’Oliveira
O serial killer que se autodenomina Jack, o Estripador parece ter deixado Londres e partido rumo à America, indo parar mais especificamente na cidade de Gotham City. O filho mais ilustre da cidade, Bruce Wayne, também está na cidade, depois de cinco anos no velho continente, estudando com ninguém menos que Dr. Freud e com um certo detetive de Londres… Os hábitos noturnos de Bruce, um comissário pressionado e uma opinião pública histérica fazem o milionário ser condenado pelos assassinatos das prostitutas da cidade.
O roteiro de Brian Augustyn é bem amarrado, mas não chega a ser complexo, sendo em alguma medida bastante previsível, mas nada que estrague a experiência de leitura – talvez apenas para aqueles que, assim como eu, leu uma infinidade de histórias de investigação.
Já os cenários, as roupas e, principalmente, o uniforme do Batman criados por Michael Mignola nos carrega para uma crível Gotham City do século XIX, cheia de caleças e ruas estreitas.
O grande trunfo de Gotham City 1889 é a narrativa visual, que não se limita apenas aos quadrinhos, lembrando, inclusive, livros e charges do período em que não eram utilizados balões.
3º Lugar – Batman: Ano Um, por Bruno Lagana
Depois do mega evento Crise nas Infinitas Terras a ordem na linha editorial da DC Comics era recontar as origens de seus principais personagens, tanto para alcançar uma nova geração de leitores, quanto para se adequar à nova realidade editorial. A santíssima trindade (Superman, Batman e Mulher-Maravilha) iriam ser o centro dessa reformulação. John Byrne ficou encarregado de recontar a origem do Homem-de-Aço enquanto que George Pérez ficou com a nossa querida Amazona de Themyscira. Mas e quanto ao Batman?
A origem dele realmente precisava de uma reformulação? Os editores da DC entenderam que ele ainda continuava popular demais e que sua história era a mais sólida dos três personagens. Por isso, a missão de Frank Miller era diferente. Ele deveria desenvolver o primeiro ano de Bruce Wayne atuando como o cruzado embuçado, mantendo a origem da morte dos pais e a inspiração na figura do morcego para meter medo nos criminosos.
Para os desenhos, Frank Miller teve a maravilhosa contribuição de David Mazzuchelli. Ambos aproveitaram o sucesso que Miller teve com a icônica O Cavaleiro das Trevas e trouxeram novamente o tom cru e realista do submundo de Gotham para o quadrinho.
Em Batman Ano Um acompanhamos o retorno de Bruce Wayne à Gotham City, anos depois do assassinato de seus pais. O herdeiro da fortuna agora é um homem disposto a tocar os negócios da família. Isso para o público geral, pois em seu âmago, reina a vontade de enfrentar o crime e salvar a cidade que seu pai tanto amava. Ao mesmo tempo acompanhamos a chegada do policial James Gordon, que encontra uma polícia de Gotham corrupta e uma cidade ainda mais suja. Enquanto Gordon tenta acabar com a criminalidade, Bruce aceita seu destino como Batman.
O que é interessante nesse quadrinho é ver a inexperiência tanto de Gordon quanto do próprio Batman, que sangra muitas vezes e ainda possui poucos equipamentos e traquitanas que podem ajudar a facilitar o combate ao crime e, por muitas vezes, salvar sua vida. O uso da teatralidade para assustar os bandidos é mostrada de uma forma muito interessante, grande parte por conta do texto preciso de Miller, mas também muito pelo desenho simples porém fluido de Mazzuchelli.
Fica o destaque também na inclusão de outros personagens importantes da mitologia de Batman como Selina Kyle/Mulher-Gato, que aqui é mais do que uma simples ladra de jóias, e a participação pequena porém importante de Harvey Dent, ainda atuando como promotor público antes de se transformar em Duas Caras.
A graphic novel serviu como base para o filme Batman Begins, que adapta de forma decente esse quadrinho, que graças ao texto de Miller e o desenho apurado de Mazzuchelli, pode ser considerado um dos grandes clássicos do nosso querido morcegão.
2º Lugar – Batman: A Piada Mortal, por Eldes
De autoria de Alan Moore (história), Brian Bolland (ilustrações), John Higgins (cores) e Clayton Montichel (letras), foi publicada em 88.
O meu exemplar comprei — por 550 cruzados — quando foi publicada pela Abril, como parte da pioneira série Graphic Novel.
Tempos atrás, um amigo meu me perguntou se eu também cheguei à conclusão que o Batman mata o Coringa no final da história. Nunca havia passado pela minha cabeça a possibilidade de alguém achar isso!!! Mas depois fiquei sabendo que outros tantos leitores também chegaram a essa conclusão e que o próprio Brian Bolland, em um posfácio da edição comemorativa de 20 anos, alimentou essa teoria com um texto provocativo, vago, mas sugestivo.
Aparentemente, de acordo com roteiro de Alan Moore, do qual o original pode ser visto integralmente pelo link https://killingjokescript.tumblr.com, esse fato não aconteceu. Contudo, como Brian Bolland também é autor desse quadrinho, pode ter sua própria interpretação e tomado a liberdade de incluir esse fato nas suas ilustrações da página final.
Grant Morrison, quadrinista conhecido por trabalhos para a DC, é um dos que defende essa teoria, tomando por base: 1) a ideia principal da história é um ciclo de violência envolvendo Batman e Coringa, e 2) o desenho dos quadros da sequência final da história, onde são mostradas duas risadas no início, de ambos personagens, mas apenas uma, do Batman, no final. Morrison diz “(…) a risada para, simplesmente para.”.
Sinceramente, acho uma teoria forçada.
Como curiosidade, aqui tem uma cópia da arte original, que aparentemente não foi aprovada pela DC, mostrando que a violência sofrida por Bárbara Gordon poderia ter sido mais sexual do que foi mostrada na arte final publicada: https://bigcomicpage.com/2013/12/03/original-killing-joke-art-courts-controversy-once-again-for-alan-moore/
1º Lugar – Batman: O Cavaleiro das Trevas, por Andreia D’Oliveira
Sim, Cavaleiro das Trevas foi a história mais votada pela audiência do Portal Refil e eu não me assustaria se quem votou nela nunca a tivesse lido. Calma, eu explico: tudo o que vimos no cinema, de Tim Burton a Zack Snyder compartilha do imaginário que Frank Miller criou para esta obra. Se antes as HQs tentavam aproximar seus assuntos e personagens de seu público alvo, Cavaleiro das Trevas nos aproximas do mundo a nossa volta, tendo tempo ainda de apresentar que lugar o vigilantismo teria nele. É por isso que em nosso especial de 80 anos do Batman, Cavaleiro das Trevas tem um artigo próprio, não apenas analisando a história, mas explicando a sua importância não só para a personagem, mas para a nona arte em sua totalidade.
A lista dos demais títulos mais votados, não ranqueáveis (que tiveram empate no número de votos) são: Batman: Ano 100; Batman: O Messias; A noite do lobo; As muitas mortes do Batman; O livro do Juízo Final; Um conto de Batman: Shaman; Batman versus Predador; Batman: Retorno ao Asilo Arkhan; Batman: O retorno de Bruce Wayne; Cavaleiro das Trevas, Cidade das Trevas; Justiça Cega; Batman: Corte da Coruja; Gerações; O Caso da Sociedade Química; Batman: O longo Dia das Bruxas; Liga da Justiça: Torre de Babel; Batman: Estufa; O Duende Morcego encontra Mr. Mxyzptlk; Batman: Louco amor e outras histórias; O tempo e o Batman; Um conto de Batman: Gothic; Um lugar solitário para morrer; O primeiro Homem-Morcego; Batman: Absolvição; Batman: Ego; Robin: Ano Um; O Jardim da Morte; Terra de Ninguém; Batman: O homem que ri; Contos do demônio; Batman: Silêncio; Batman: Bruce Wayne – Fugitivo; Batman: Bruce Wayne – Assassino e; Batman: Terra Um.
Agora, se você não conhece muito e quer uma lista de histórias para começar a ler, baixe o checklist que serviu de lista para a votação.
Gibiteca Refil
#MulherMaravilha80anos – Do Polígrafo ao Laço da Verdade
“Bela como Afrodite; sagaz como Atena; dotada da velocidade de Mercúrio e da força de Hércules – nós a conhecemos como Mulher-Maravilha. Mas quem pode nos dizer quem é ela ou de onde ela veio?” – All-Star Comics, dezembro de 1941
A Mulher-Maravilha não foi a primeira super-heroína dos quadrinhos e definir esse posto é algo bastante complexo. Levando-se em conta o que entendemos como super-herói (ter uma identidade secreta, poderes e usar um uniforme) o consenso é que a primeira super-heroína dos quadrinhos é a Hawkgirl, conhecida por aqui como Mulher-Gavião. Como explicar, então, que tamanha popularidade de Diana faça com que nem cogitemos acreditar nisso? É simples: o conceito.
Muitas personagens femininas foram criadas a partir do clichê Ms. Male Character, isto é, a versão feminina de uma personagem masculina. Shiera era a versão feminina do Gavião Negro, além de sua parceira amorosa, assim como as primeiras concepções de Miss Marvel e Batwoman. A Mulher-Maravilha já foi criada como uma personagem independente, com seu próprio mundo fictício e histórias em consonância com as discussões do período.
A primeira aparição de Diana no universo DC se deu em dezembro de 1941 na All-Star Comics número 8. Essa ainda não contava a origem da personagem, mas a história das Amazonas e o motivo delas irem parar em Themyscira. A narrativa do nascimento de Diana, que permaneceria intacta até sua reformulação pós-Crise, seria apresentada apenas em Wonder Woman número 1: esculpida por Hipólita, a partir do barro de Themyscira, a escultura desperta na Rainha das Amazonas um sentimento profundamente maternal e o desejo de que a forma tome vida, em uma releitura do mito de Pigmaleão e Galatéia. Afrodite atende ao pedido de Hipólita, trazendo a criança à vida, dando-lhe o nome de Diana, em homenagem a irmã gêmea de Apolo, deusa da Lua e da caça. O que nos faz pensar: como seus criadores chegaram a essas referências?
“Sinceramente, a Mulher-Maravilha é propaganda psicológica com vistas ao novo tipo de mulher que, na minha opinião, deveria dominar o mundo.” William Moulton Marston, março de 1945
A criação da personagem é atribuída ao roteirista Charles Moulton, pseudônimo do psicólogo William Moulton Marston, conhecido também como o inventor do polígrafo (a máquina da verdade). Já a concepção visual ficou a cargo de Harry G. Peter. Sempre esquecida nesta equação, porém, estava Elizabeth Holloway Marston esposa de William Marston e a quem o próprio se referia como coautora da personagem.
A luta pela igualdade feminina, presente nas primeiras histórias da Mulher-Maravilha – segundo Jill Lepore na biografia A história secreta da Mulher-Maravilha – remonta os primeiros anos de Marston em Harvard com o movimento pelo voto feminino e, principalmente, após ele ter ouvido a palestra da sufragista inglesa Emmeline Pankurst. Quase impedida de falar na universidade, simplesmente por ser mulher, Pankurst deixou Marston “fascinado, emocionado”. Já as referências gregas, possivelmente vieram de Holloway que amava a língua e as histórias que estudou em seus anos no ensino médio.
Desde a palestra de Emmeline Pankurst, a Mulher-Maravilha levou três décadas para aparecer, quando o seu principal idealizador já tinha 48 anos. Marston, após afirmar que via nos quadrinhos um grande potencial educacional, tornou-se uma espécie de psicólogo consultor da DC Comics. Foi aí que sugeriu ao editor Max Gaines uma super-heroína. A resposta inicial de Gaines foi dizer que personagens pulp e de quadrinhos femininas sempre eram um fracasso. Marston engendrou em argumento todos os anos em que defendeu os direitos das mulheres, recebendo a resposta “fiquei com o Superman depois que todo syndicate do país recusou. Vou dar uma chance a sua Mulher-Maravilha!”. Como condição o próprio Marston deveria escrever as histórias e se depois de seis meses os leitores não gostassem, essa seria descontinuada. Parece que acabou dando certo!
Como dito, Mulher-Maravilha não foi a primeira super-heroína, de fato, mas acredito que se tornou a primeira super-heroína por direito. Assim, convido você a comemorar durante os próximos meses os 80 anos de suas histórias e imaginário criados para a princesa amazona.
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