Reviews e Análises
Derren Brown: The Push. Quando o Reality Show é bem feito.
Acabei de assistir ao especial do Netflix chamado Derren Brown: The Push. Não sabia nada sobre esse tal de Derren Brown. Apenas apareceu esse programa nas minhas sugestões, eu assisti ao trailer, achei muito interessante a premissa e resolvi conferir. E ainda bem que eu o fiz.
Talvez seja importante, se você não o fez ainda, ir assistir ao programa e depois voltar a ler o artigo, pois pode ser que haja algum SPOILER.
Derren Brown é um mentalista e ilusionista britânico muito famoso no país da Rainha e do Doctor Who, mas desconhecido pelo menos para mim. Desde sua estreia na televisão bretã com Derren Brown: Mind Control nos anos 2000, ele vem produzindo uma série de shows tanto para o palco quanto para a televisão sendo séries ou especiais. Em suas performances, Brown afirma que seus feitos são alcançados através da mágica, sugestão, psicologia, direcionamento e talento.
No especial The Push, Derren Brown propõe a seguinte premissa: um experimento de consentimento social. Até que ponto uma pessoa pode ser direcionada a realizar atos considerados incorretos por simples influência ou sugestões ou até mesmo ordens de outras pessoas? O programa começa com a ideia de que eles vão realizar esse experimento com uma pessoa e levá-la ao extremo, depois de uma sucessão enorme de eventos bizarros. A ideia, no final, é descobrir se a pessoa é capaz de cometer um assassinato, somente seguindo o tal do consentimento social.
Só a premissa já parece ser suficiente para deixar a gente louco para assistir ao programa. Mas nada poderia me preparar para o que eu estava prestes a experimentar. Em pouco mais de uma hora, um frio e calculista Derren comanda um show por trás das câmeras, dirigindo mais de 70 atores e atrizes em uma encenação ao redor de uma pessoa que não sabe o que está acontecendo. É como uma gigantesca pegadinha do Silvio Santos ou do João Kléber, mas muito bem feita e totalmente real. Dá pra ver que o participante, cujo nome é Cris, não sabe que tudo ali não passa de fantasia.
O especial é extremamente bem dirigido e montado, com flashbacks que mostram a preparação de tudo o que vai acontecer, sempre nos deixando mais intrigados de como tudo foi bem montado e pensado. O programa nos conduz como voyeurs e cúmplices da degradação social de um ser humano, que a cada decisão errada vai destruindo mais e mais as suas opções de fugir de toda aquela situação, até o derradeiro final. É interessante ver por dois momentos como o participante não aceita realizar determinadas coisas pedidas pelos atores e isso deixar Derren perturbado e preocupado se no final tudo vai se encaminhar como esperado. O programa consegue deixar o telespectador no papel do próprio Cris, que passa por um episódio de Black Mirror da vida real.
A forma com que somos conduzidos junto com Cris até a sua decisão final e ainda assim somos levados a ver que nós também fomos manipulados a acreditar no andamento do programa é brilhante. É um programa de reality show totalmente diferente de tudo o que eu já tinha visto até hoje e me lembrou muito o filme Vidas Em Jogo, de David Lynch.
Apesar disso, é claro que não é um show que pode existir sem fazermos diversas perguntas. Até que ponto esse experimento pode ser considerado entretenimento? Qual é o limite da pressão social com que um ser humano que passou pelo experimento vai viver daqui para frente? Como lidar com o fato de que você realmente empurrou uma pessoa de um prédio para se safar de ser presa?
Derren Brown: The Push é exemplo de televisão bem feita, que te instiga, não te trai, te surpreende, é honesta ao mesmo tempo em que te manipula e que te faz o que poucos programas de televisão conseguem fazer: repensar o que você faria se passasse por uma situação semelhante pela qual passou Cris. E o pior de tudo é desligar a televisão acreditando que você faria tudo da mesma forma que ele, ou ainda de forma pior. Você já parou para pensar o quanto você é sugestionável? O quanto você toma as suas decisões por si mesmo? Depois de ver esse programa, com certeza vai pensar nisso.
Nota 5/5
Reviews e Análises
Ainda Estou Aqui – Crítica
Existem alguns filmes que ao assistirmos apenas os primeiros dez minutos já temos a percepção de estarmos diante de um clássico ou de uma obra-prima. É o caso de O Poderoso Chefão, por exemplo. Ou de Cidade de Deus, para trazer mais perto da nossa realidade brasileira. Não é o caso de Ainda Estou Aqui, novo filme de Walter Salles que chega aos cinemas dia 7 de novembro.
Não. Ainda Estou Aqui demora um pouco mais para percebermos que estamos diante de um dos melhores filmes brasileiros já feitos. E isso é fácil de entender, simplesmente porque a história é contada no tempo dela, sem pressa de acontecer. Mas quando você chegar na cena em que a personagem principal se vê presa, você não vai esquecer desse filme nunca mais na sua vida.
Baseado no livro de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva, o filme conta a história da família de Marcelo, que em 1970 passou pela traumatizante experiência de ter o pai, o ex-deputado e engenheiro Rubens Paiva, simplesmente levado arbitrariamente pela Ditadura Militar e nunca mais retornar.
Ainda Estou Aqui começa te estabelecendo como um observador da família. E como ele leva tempo para te mostrar todo o cotidiano e te apresenta os personagens aos poucos, o espectador vai se tornando parte daquele núcleo familiar. Quando as coisas vão ficando sinistras, você já está envolvido e consegue sentir a mesma angústia e desespero que a família sentiu.
Fernanda Torres está simplesmente deslumbrante como Eunice Paiva. Forte, aguerrida, destemida, o que essa mulher aguentou não foi brincadeira. E Fernanda transmite isso como nenhuma outra atriz seria capaz. Selton Mello interpreta Rubens Paiva com muita simpatia e tenacidade. Simples sem ser simplório. Você literalmente quer ser amigo dele.
O elenco da família, crianças e adolescentes também está simplesmente perfeito. Todos impecáveis, assim como todo o elenco de apoio. Destaque também para a ponta da diva Fernanda Montenegro, como a Eunice idosa que, em no máximo cinco minutos de tela e sem dizer uma palavra, mostra porque é a maior atriz de todos os tempos.
Com um roteiro muito bem escrito e uma direção impecável, aliados a uma fotografia perfeita, é impossível apontar qualquer defeito neste filme. Com uma temática ainda necessária nos dias de hoje, é um dever cívico assistir a Ainda Estou Aqui, o melhor filme de 2024, sem sombra de dúvida.
Nota 5 de 5
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