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Reviews e Análises

SNOWDEN | CRÍTICA

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Dirigido por Oliver Stone e
roteirizado por Stone e Keiran Fitzgerald. Com: Joseph Gordon-Levitt, Shailene
Woodley, Zachary Quinto, Melissa Leo, Tom Wilkinson, Rhys Ifans e Nicolas Cage.

Snowden conta a história verídica
do ex-analista de sistemas da CIA e NSA que, em 2013, tornou públicos os
documentos que comprovam a existência do sistema de vigilância e espionagem
gerido pelo governo dos Estados Unidos.

Assim como a maior parte de sua
filmografia (os excelentes Nascido em 4 de Julho, JFK – A pergunta que não quer
calar, e o documentário Ao Sul da Fronteira), Stone produz mais um filme
político e que casa muito bem com as perguntas feitas nos anos em que vivemos,
questionamentos sobre a ascensão de líderes autoritários ao poder e efeitos da
hegemonia de grandes potências sobre nações emergentes.

Snowden, em um interessante
recurso de narrativa, conta a história de seu protagonista a partir de uma
entrevista, remetendo à própria maneira como o personagem real se fez valer
para tornar públicas as suas denúncias. Mais inteligente ainda, os takes das cenas da entrevista criam uma
rima visual com o principal objeto das denúncias: a espionagem. Se nestas cenas
nos colocamos sob o olhar da câmera que observa as conversas no quarto de hotel
onde a denúncia é feita, nas cenas do segundo e terceiro ato nos sentimos
diante da mesma posição, mas já como o olhar da Inteligência dos EUA que vigia
os seus alvos. Mérito de Stone e de seu diretor de fotografia, o ganhador do
Oscar Anthony Dod Mantle.

A maneira como Stone conduz sua
direção ao longo do filme é o que dá o peso e o clima de tensão que se cria a
partir do segundo ato. Tal tensão é potencializada quando, com recursos de
linguagem, os realizadores empurram nossos pés ao chão e respondem o quão
impossível é lidar com essa estrutura global de controle de informação, o
“vilão” da história. Em uma cena em que Snowden (Gordon-Levitt) é interrogado
por seu antigo mentor, Corbin (Ifans), por meio de uma videoconferência, Stone
e Mantle filmam sob uma perspectiva que engrandece a figura de Corbin,
elucidando o poder massacrante do Estado diante de qualquer ameaça ou
questionamento aos seus métodos utilizados, enquanto a silhueta de Snowden é
filmada sob uma escala muito menor em relação ao personagem da videoconferência,
apequenando as capacidades do analista frente à robustez e opressão do sistema
representado por Corbin. 

Interpretando o jovem
denunciante, Gordon-Levitt confere uma atuação muito digna da personalidade que
apresenta o real Edward Snowden, oferecendo um trabalho vocal extremamente
verossímil (você se sente ouvindo o próprio Snowden) e que é muito fiel com os
seus trejeitos e postura.

Assim, Snowden se mostra um
documento essencial para os dias atuais, onde as liberdades individuais voltam
a serem cerceadas pelo Estado e as motivações para derrubada de governos
progressistas se tornam cada vez mais claras. É a síntese do que é uma guerra
cibernética e da descomunal supremacia dos EUA sobre as demais nações do mundo.
Nas palavras do próprio Stone, “guerra digital vira guerra física”.

 Nota: 4.0/5.0

 Por Antônio Junio P. de Araújo.

“Cinéfilo por dedicação. Gosta de arte, música e política. Pode ser
encontrado no Instagram.”

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Reviews e Análises

Lispectorante – Crítica

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Lispectorante de Renata Pinheiro, diferente de outras produções baseadas na obra de Clarice Lispector – A Hora da Estrela (1985), de Suzana Amaral e A Paixão Segundo G.H. (2023) de Luiz Fernando Carvalho – não tem foco, especialmente, em nenhum texto da autora, mas consegue captar seu universo e soluciona o fluxo de consciência, característica primeira de sua literatura, através de cenas marcadas pelo fantástico.

Durante o longa acompanhamos Glória Hartman – uma artista plástica em crise, recém-divorciada e sem dinheiro – que retorna para sua terra natal, indo visitar sua tia Eva. Ao encontrar um guia de turismo com um grupo acaba interessando-se pelas informações sobre a casa de Clarice Lispector que, a partir daqui será o lugar do onírico e de profundas e solitárias discussões existenciais, preenchido por ruinas de um mundo apocalíptico.

Lispectorante, palavra inventada tradução do intraduzível, Oxe, pra mim listectorante é uma droga ilegal feita numa manhã de um Carnaval que se aproxima. Pra expectorar mágoas, prazeres, visgos e catarros num rio que vira charco
Entre o fazer artístico – sempre mostrado de forma fantástica, surrealista – e a necessidade de sustento, Glória se apaixona por Guitar, um artista de rua mais jovem com quem inicia um romance.

A escolha de Marcélia Cartaxo para viver Glória nos ajuda a encaixá-la no mundo de Clarice: é como se ela sempre tivesse estado ali, vivendo e sentindo todas aquelas subjetividades, mesmo sendo uma personagem de atitudes muito diferentes de Macabéa, que a atriz viveu em A Hora da Estrela. Glória é livre, mas seu momento de vida – uma mulher madura, recém-divorciada, sem dinheiro e em um “lance” com um homem mais jovem – nos remete as inseguranças de Macabéa – jovem, tímida e descobrindo o mundo. Ambas estão em transição!

Lispectorante é poético e tem um desfecho que não surpreende e nisso ele é excelente: não há outro caminho para o sentir do artista que as suas incertezas.

Avaliação: 3 de 5.
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Burburinho

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