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Outlander, ou como uma adaptação pode ser melhor que a obra original

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Poucas vezes tive o ímpeto de abandonar uma leitura. Parar uma narrativa no meio é como congelar as personagens em um ponto da história, para sempre. Imagine se Sherlock Holmes nunca avançasse para a conclusão de um caso; se Liz Bennet nunca lesse a angustiante carta de Mr. Darcy; se Bentinho nunca descobrisse se Capitu o traiu ou não… Certo, esse talvez não seja o melhor exemplo, mas você entendeu… No entanto, no meio do caminho, apareceu Outlander.

A vontade de ler o primeiro livro da saga, A viajante do tempo, criada por Diana Gabaldon veio ao assistir os dois primeiros episódios da série de TV. Produzida e exibida nos EUA pelo canal a cabo Starz (também responsável por Deuses Americanos) Outlander narra a trajetória de Claire, uma enfermeira inglesa da Segunda Grande Guerra, que, quando o conflito chega ao fim, viaja em uma segunda Lua de Mel com seu marido Frank Randall, em uma tentativa de recuperar a intimidade perdida após o tempo que estiveram afastados. O destino do casal é Inverness, na Escócia, pois Frank está pesquisando sobre seu antepassado, um soldado inglês chamado Jonathan Randall. Eis que algo – literalmente – mágico acontece: Claire, após presenciar uma dança druida em Craigh na Dun (uma espécie de Stonehenge escocesa), toca em uma das pedras e é levada duzentos anos no passado, encontrando o antepassado cruel de seu marido e o jovem guerreiro escocês Jamie Fraser, que acaba tornando-se seu marido.

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A produção é tomada de ótimas atuações, sendo impossível não simpatizar com a protagonista e, talvez, um dos problemas seja exatamente esse: a Claire, narradora em primeira pessoa do romance não tem metade do carisma da atriz Caitriona Balfe, sua contraparte na série. A cada descrição do corpo de alguma personagem masculina, me pagava enrubescendo de vergonha. Não pelas características das partes “interessantes” desses, mas da falta de elegância literária ao tentar criar tais imagens. 

Continuei, sendo deliberadamente rude, até que ele teve uma súbita convulsão, com um gemido que parecia que eu havia arrancado seu coração do peito. Ficou deitado de costas, tremendo e respirando pesadamente. Murmurou alguma coia em gaélico, os olhos fechados.
– O que disse?
– Eu disse – respondeu ele, abrindo os olhos – que achei que meu coração fosse explodir.

As construções narrativas também não ajudam, sendo recheadas de clichês e reviravoltas que, depois de um tempo, tornam-se repetitivas pelo pouco sentido de urgência e de ameaça, presentes todo o tempo na série e possivelmente na vida de alguém que aparece em uma época passada, num passe de mágica, tendo que dar muitas explicações.

Reclamamos de descrições longas, certo? Pois as descrições do livro não dão conta das Highlands. Comparar com as tomadas de tirar o fôlego da série pode parecer injusto, mas  as Terras Altas e o modo de vida nesta parte da Escócia no século VIII são matéria da narrativa. Nada mais justo que as descrições não apenas nos situem, mas que nos transporte para esse novo-velho mundo.

Era um lindo dia, com a florescente vegetação das margens íngremes refletindo-se nebulosamente na superfície ondulado do lago. Nosso guia, apesar do ar severo, era comunicativo e bem informado, apontando ilhas, castelos e ruínas que ladeavam o lago longo e estreito.

Outra coisa que irá deixar você maluco — tudo bem, pode ter sido só a mim, a doida das línguas antigas — são os discursos em gaélico escocês. o idioma chegou ao país no século V, trazido pelos irlandeses e atualmente é falado apenas por 2% dos habitantes da Escócia (regiões setentrionais). No livro, a narradora apenas diz “falaram tal coisa em gaélico”. Sei que é uma narradora em primeira pessoa e que ela, assim como nós, não conhece o idioma, mas queria alguma coisa, uma canção, um poema, uma epitáfio que fosse, escrito em gaélico.

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No fim das contas SIM, eu TERMINEI de ler Outlander: A viajante do tempo, mas será o único livro da série (composta por mais 7 livros: A libélula no âmbar, O resgate no mar, Os tambores de outono, A cruz de fogo, Um sopro de neve e cinzas, Ecos do futuro e Escrito com o sangue do meu próprio coração) que vou ler. Depois das mais de 700 páginas (sim, senhoras e senhores, 797 páginas para ser mais exata!) acho que já li Diana Gabaldon por uma vida inteira.

 

Título: Outlander: A viajante do tempo
 Autora: Diana Gabaldon
 Tradução: Geni Hirata
 Editora: Arqueiro
 Ano: 2016
 ISBN: 9788580416039
Ficha técnica completa no Skoob



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Ainda Estou Aqui – Crítica

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ainda estou aqui

Existem alguns filmes que ao assistirmos apenas os primeiros dez minutos já temos a percepção de estarmos diante de um clássico ou de uma obra-prima. É o caso de O Poderoso Chefão, por exemplo. Ou de Cidade de Deus, para trazer mais perto da nossa realidade brasileira. Não é o caso de Ainda Estou Aqui, novo filme de Walter Salles que chega aos cinemas dia 7 de novembro.

Não. Ainda Estou Aqui demora um pouco mais para percebermos que estamos diante de um dos melhores filmes brasileiros já feitos. E isso é fácil de entender, simplesmente porque a história é contada no tempo dela, sem pressa de acontecer. Mas quando você chegar na cena em que a personagem principal se vê presa, você não vai esquecer desse filme nunca mais na sua vida.

Baseado no livro de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva, o filme conta a história da família de Marcelo, que em 1970 passou pela traumatizante experiência de ter o pai, o ex-deputado e engenheiro Rubens Paiva, simplesmente levado arbitrariamente pela Ditadura Militar e nunca mais retornar.

Ainda Estou Aqui começa te estabelecendo como um observador da família. E como ele leva tempo para te mostrar todo o cotidiano e te apresenta os personagens aos poucos, o espectador vai se tornando parte daquele núcleo familiar. Quando as coisas vão ficando sinistras, você já está envolvido e consegue sentir a mesma angústia e desespero que a família sentiu.

Fernanda Torres está simplesmente deslumbrante como Eunice Paiva. Forte, aguerrida, destemida, o que essa mulher aguentou não foi brincadeira. E Fernanda transmite isso como nenhuma outra atriz seria capaz. Selton Mello interpreta Rubens Paiva com muita simpatia e tenacidade. Simples sem ser simplório. Você literalmente quer ser amigo dele.

O elenco da família, crianças e adolescentes também está simplesmente perfeito. Todos impecáveis, assim como todo o elenco de apoio. Destaque também para a ponta da diva Fernanda Montenegro, como a Eunice idosa que, em no máximo cinco minutos de tela e sem dizer uma palavra, mostra porque é a maior atriz de todos os tempos.

Com um roteiro muito bem escrito e uma direção impecável, aliados a uma fotografia perfeita, é impossível apontar qualquer defeito neste filme. Com uma temática ainda necessária nos dias de hoje, é um dever cívico assistir a Ainda Estou Aqui, o melhor filme de 2024, sem sombra de dúvida.

Nota 5 de 5

Avaliação: 5 de 5.
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