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Jurassic Park de Michael Crichton: muito além dos dinossauros

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Não é exagero dizer que Jurassic Park é um reflexo de seu tempo: a década de 1990 foi marcada pelos avanços na biotecnologia que iniciaram com a criação do Projeto Genoma (1990) conquistando seu ápice com a clonagem da ovelha Dolly (1997), tendo nesse percurso, discussões acaloradas sobre ética, geradas, principalmente, pela participação de empresas privadas e não só de universidades nas pesquisas. 

Porque, vamos encarar os fatos – respondeu Hammond –, universidades já não são mais os centros intelectuais do país. A própria ideia é um absurdo. Universidade são o fim do mundo. Não me olhe com tanto espanto. Não estou dizendo nada que você não saiba. Desde a Segunda Guerra Mundial, todas as descobertas importantes têm saído de laboratórios particulares. O laser, o transístor, a vacina para pólio, o microchip, o holograma, o computador pessoal, as imagens de ressonância magnética, a tomografia computadorizada, a lista interminável. Universidades simplesmente não são mais o lugar onde as coisas acontecem. E não tem sido já há quarenta anos. Se você quer fazer algo importante em computação ou genética, você não vai a uma universidade. Poxa vida, não mesmo. 

Para refletir sobre esses temores e extrapolar suas questões, o autor e roteirista Michael Crichton trouxe de volta os animais extintos mais fascinantes da história em sua maior obra – não podemos esquecer que Crichton também é autor de Congo, Esfera, A Linha do Tempo e O Décimo Terceiro Guerreiro – adaptada para as telas de cinemas através do olhar de Steven Spielberg em 1992. 

Em sinopse, o livro aproxima-se muito do filme: John Hammond, acionista majoritário e criador da empresa InGen, começa a ter problemas com sua nova empreitada e pede que especialistas visitem seu novo parque – que em vez de navios piratas e montanhas encantadas tem como atrações dinossauros trazidos a vida a partir da clonagem genética – para endossá-lo. Após uma tempestade e um defeito “acidental” no sistema do parque, seus visitantes se veem cercados de monstros pré-históricos que não tem a menor ideia da época em que estão, ansiando apenas saciar o instinto mais primordial: o da sobrevivência.

A maior diferença entre as duas produções, é o tom: enquanto Spielberg transforma a fuga desenfreada de dinossauros em um filme “para toda a família”, Crichton tenta discutir os efeitos que a manipulação da vida terá em nossa permanência no planeta a partir dessas descobertas.

A ideia de criaturas vivas sendo numeradas como softwares, sujeitas a atualizações e revisões, perturbou Grant. Ele não podia dizer exatamente o porquê – era um pensamento novo demais -, mas ficou instintivamente desconfortável com isso. Tratava-se, afinal, de criaturas vivas…

Para leitores menos pacientes e que não estão acostumados com o gênero de Ficção Científica, a notícia não é uma das melhores: o T-Rex só aparece na metade do livro, que é quando a ação realmente começa. Crichton quer ter certeza que entendemos todos os conceitos e as implicações desses. Talvez esse seja o maior problema de se conhecer primeiro o filme: o trabalho de pesquisa do autor pode tornar-se enfadonho aos desavisados.

As personagens também são bem diferentes entre as obras, com a única exceção de Ian Malcon, que continua tagarelando sobre sua “teoria do caos”. Hammond um avozinho simpático? Dr. Grant, um frazino Sam Neil? Esqueça! O dono da InGen é tão asqueroso quanto rico e Alan tem características bem distintas de sua contraparte cinematográfica.

Se leu até aqui, você deve estar se perguntando: “então o que é melhor: ler o livro ou ficar com as lembranças afetivas do filme?” São duas experiências distintas para uma mesma história. Uma não sobrepõe ou anula a outra. É, mais ou menos, o que acontece com Blade Runner, mas isso é assunto para um outro post 😉

 Título Original: Jurassic Park
 Autor: Michael Crichton
 Tradução: Márcia Men
 Editora: Aleph
 Ano: 2015
 ISBN: 9788576572152
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Ainda Estou Aqui – Crítica

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ainda estou aqui

Existem alguns filmes que ao assistirmos apenas os primeiros dez minutos já temos a percepção de estarmos diante de um clássico ou de uma obra-prima. É o caso de O Poderoso Chefão, por exemplo. Ou de Cidade de Deus, para trazer mais perto da nossa realidade brasileira. Não é o caso de Ainda Estou Aqui, novo filme de Walter Salles que chega aos cinemas dia 7 de novembro.

Não. Ainda Estou Aqui demora um pouco mais para percebermos que estamos diante de um dos melhores filmes brasileiros já feitos. E isso é fácil de entender, simplesmente porque a história é contada no tempo dela, sem pressa de acontecer. Mas quando você chegar na cena em que a personagem principal se vê presa, você não vai esquecer desse filme nunca mais na sua vida.

Baseado no livro de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva, o filme conta a história da família de Marcelo, que em 1970 passou pela traumatizante experiência de ter o pai, o ex-deputado e engenheiro Rubens Paiva, simplesmente levado arbitrariamente pela Ditadura Militar e nunca mais retornar.

Ainda Estou Aqui começa te estabelecendo como um observador da família. E como ele leva tempo para te mostrar todo o cotidiano e te apresenta os personagens aos poucos, o espectador vai se tornando parte daquele núcleo familiar. Quando as coisas vão ficando sinistras, você já está envolvido e consegue sentir a mesma angústia e desespero que a família sentiu.

Fernanda Torres está simplesmente deslumbrante como Eunice Paiva. Forte, aguerrida, destemida, o que essa mulher aguentou não foi brincadeira. E Fernanda transmite isso como nenhuma outra atriz seria capaz. Selton Mello interpreta Rubens Paiva com muita simpatia e tenacidade. Simples sem ser simplório. Você literalmente quer ser amigo dele.

O elenco da família, crianças e adolescentes também está simplesmente perfeito. Todos impecáveis, assim como todo o elenco de apoio. Destaque também para a ponta da diva Fernanda Montenegro, como a Eunice idosa que, em no máximo cinco minutos de tela e sem dizer uma palavra, mostra porque é a maior atriz de todos os tempos.

Com um roteiro muito bem escrito e uma direção impecável, aliados a uma fotografia perfeita, é impossível apontar qualquer defeito neste filme. Com uma temática ainda necessária nos dias de hoje, é um dever cívico assistir a Ainda Estou Aqui, o melhor filme de 2024, sem sombra de dúvida.

Nota 5 de 5

Avaliação: 5 de 5.
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