Reviews e Análises
Era Uma Vez um Gênio – Crítica

O terrível título Era Uma Vez um Gênio não traduz o sentimento de expectativa e entendimento que se tem ao se ler o título original. “Three Thousand Years of Longing” ou Três Mil Anos de Anseio ou de Espera. Esse sim seria muito mais adequado para ajudar a entender um pouco de tudo o que se pode experimentar ao se assistir ao novo filme de George Miller.
Uma fábula para adultos seria o melhor resumo. Escrito por Miller e por sua filha Augusta Gore, o filme é baseado no conto “The Djinn in the Nightingale’s Eye” de A. S. Byatt e conta a história de Alithea (Tilda Swinton), uma professora e estudiosa de literatura que, ao viajar para realizar um seminário em Istambul, descobre um Gênio (Idris Elba) dentro de uma garrafa de vidro. Como toda fábula envolvendo um gênio, ele a oferece a oportunidade de realização de três desejos, que ela reluta em usar, exatamente por estar familiarizada com toda a literatura que envolve a questão. O filme então se concentra em descontruir as histórias do gênero, enquanto o gênio conta todos os problemas em que se envolveu no decorrer de sua existência e seus relacionamentos com seus “mestres”.
Ao focar a história na relação entre o gênio e a professora, o filme acaba meio que se perdendo em alguns momentos entre fantasia, romance e conto de advertência. Mas ao mesmo tempo, o esmero visual de Miller faz com que a gente seja compelido a seguir naquela jornada junto com Alithea, querendo descobrir se ela possui mesmo a verdade ao qual seu nome se traduz.
Apesar da perceptível pouca química entre Swinton e Idris, o que mais impressiona no filme é a narrativa de Miller, ao mostrar a vida conturbada do gênio e o dilema da professora. O tema do dilema principalmente possui um subtexto e uma metáfora muito mais profunda do que parece e a relação social entre a professora, seus vizinhos e a sociedade como um todo, deixam uma sensação de realidade versus sonho dignas das obras mais bizarras de David Lynch.
Com certeza é um filme que vai ser um divisor de público e crítica e vai decepcionar muita gente que esperava outra coisa com o trailer. Não é um filme fácil de compreender e aceitar. Tudo bem que a narração em off e o ritmo lento para contar a história vão ajudar muito a piorar a aceitação da audiência. Mas isso mostra somente que George Miller chegou em um nível da carreira em que ele simplesmente pode escolher fazer o que ele quiser que está tudo bem.
Um filme para rever e passar por releituras constantes, que trará novos signos e significados a cada assistida. Vai depender somente do receptor estar aberto a isso. Assim como a professora Alithea, que sentou pacientemente e curiosamente para ouvir as histórias do Gênio.
Reviews e Análises
Lispectorante – Crítica

Lispectorante de Renata Pinheiro, diferente de outras produções baseadas na obra de Clarice Lispector – A Hora da Estrela (1985), de Suzana Amaral e A Paixão Segundo G.H. (2023) de Luiz Fernando Carvalho – não tem foco, especialmente, em nenhum texto da autora, mas consegue captar seu universo e soluciona o fluxo de consciência, característica primeira de sua literatura, através de cenas marcadas pelo fantástico.
Durante o longa acompanhamos Glória Hartman – uma artista plástica em crise, recém-divorciada e sem dinheiro – que retorna para sua terra natal, indo visitar sua tia Eva. Ao encontrar um guia de turismo com um grupo acaba interessando-se pelas informações sobre a casa de Clarice Lispector que, a partir daqui será o lugar do onírico e de profundas e solitárias discussões existenciais, preenchido por ruinas de um mundo apocalíptico.
Lispectorante, palavra inventada tradução do intraduzível, Oxe, pra mim listectorante é uma droga ilegal feita numa manhã de um Carnaval que se aproxima. Pra expectorar mágoas, prazeres, visgos e catarros num rio que vira charco
Entre o fazer artístico – sempre mostrado de forma fantástica, surrealista – e a necessidade de sustento, Glória se apaixona por Guitar, um artista de rua mais jovem com quem inicia um romance.
A escolha de Marcélia Cartaxo para viver Glória nos ajuda a encaixá-la no mundo de Clarice: é como se ela sempre tivesse estado ali, vivendo e sentindo todas aquelas subjetividades, mesmo sendo uma personagem de atitudes muito diferentes de Macabéa, que a atriz viveu em A Hora da Estrela. Glória é livre, mas seu momento de vida – uma mulher madura, recém-divorciada, sem dinheiro e em um “lance” com um homem mais jovem – nos remete as inseguranças de Macabéa – jovem, tímida e descobrindo o mundo. Ambas estão em transição!
Lispectorante é poético e tem um desfecho que não surpreende e nisso ele é excelente: não há outro caminho para o sentir do artista que as suas incertezas.
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