Reviews e Análises
Encanto – Crítica
O mais recente filme da Disney, seu sexagésimo longa-metragem de animação, é talvez um de seus mais poderosos em termos de mensagem. Encanto conta a história da família Madrigal, colombianos que recebem uma vela mágica que ajuda a construir uma casa, também mágica. De tempos em tempos a casa e a vela oferecem um dom especial aos membros da família. Luísa é super forte, Isabela tem uma magia envolvendo flores e por aí vai. Só que o que acontece quando um de seus membros não recebe o seu dom? É o que acontece com a nossa protagonista Mirabel, que passa a ser a “esquisitinha” da família.
Ao tentar entender porque ficou sem seu dom, Mirabel acaba indo atrás de outro membro da família que se auto isolou: Bruno. O tio esquisito que ninguém comenta sobre. Daí pra frente, a história leva a uma jornada interna de metáforas, autodestruição, reconstrução e ressignificação, tudo de uma maneira lúdica o suficiente para que a criança fique distraída e o adulto saia fungando da sala de cinema, carregando o verdadeiro significado do filme em seu coração.
Tecnicamente é um dos filmes mais belos da Disney. A direção de arte, escolha de cores e brilhos fazem o filme ser vistoso. Parece que tudo vai sair da tela e a gente deseja visitar aquela casa Madrigal. A escolha de Lin-Manuel Miranda para a criação dos números musicais só melhora a obra, que apesar de não ter canções memoráveis demais e chicletes como Frozen, são muito divertidas e pontualmente integradas à trama.
Mas é no subtexto que Encanto decola. Quem nunca teve a impressão de que sua família é de um bando de loucos e você é o mais normal ali? Ou ao contrário, que todo mundo na sua família bate bem e você é o maior destrambelhado? A imagem que toda família gosta de passar para a sociedade de perfeição, pureza e nobreza, cai por terra quando a gente se reúne para o almoço e os podres vão sendo revelados. E aquele tio que resolveu expor aquelas verdades e teve que ser expulso do grupo da família no zap? O filme é sobre como toda família é desajustada, mas também sobre como a cura está no amor, na compreensão, no diálogo, no respeito e na união. Não vou falar mais senão estraga.
É daqueles filmes pra colocar na prateleira de cima e ficar em destaque na coleção.
Reviews e Análises
Lispectorante – Crítica

Lispectorante de Renata Pinheiro, diferente de outras produções baseadas na obra de Clarice Lispector – A Hora da Estrela (1985), de Suzana Amaral e A Paixão Segundo G.H. (2023) de Luiz Fernando Carvalho – não tem foco, especialmente, em nenhum texto da autora, mas consegue captar seu universo e soluciona o fluxo de consciência, característica primeira de sua literatura, através de cenas marcadas pelo fantástico.
Durante o longa acompanhamos Glória Hartman – uma artista plástica em crise, recém-divorciada e sem dinheiro – que retorna para sua terra natal, indo visitar sua tia Eva. Ao encontrar um guia de turismo com um grupo acaba interessando-se pelas informações sobre a casa de Clarice Lispector que, a partir daqui será o lugar do onírico e de profundas e solitárias discussões existenciais, preenchido por ruinas de um mundo apocalíptico.
Lispectorante, palavra inventada tradução do intraduzível, Oxe, pra mim listectorante é uma droga ilegal feita numa manhã de um Carnaval que se aproxima. Pra expectorar mágoas, prazeres, visgos e catarros num rio que vira charco
Entre o fazer artístico – sempre mostrado de forma fantástica, surrealista – e a necessidade de sustento, Glória se apaixona por Guitar, um artista de rua mais jovem com quem inicia um romance.
A escolha de Marcélia Cartaxo para viver Glória nos ajuda a encaixá-la no mundo de Clarice: é como se ela sempre tivesse estado ali, vivendo e sentindo todas aquelas subjetividades, mesmo sendo uma personagem de atitudes muito diferentes de Macabéa, que a atriz viveu em A Hora da Estrela. Glória é livre, mas seu momento de vida – uma mulher madura, recém-divorciada, sem dinheiro e em um “lance” com um homem mais jovem – nos remete as inseguranças de Macabéa – jovem, tímida e descobrindo o mundo. Ambas estão em transição!
Lispectorante é poético e tem um desfecho que não surpreende e nisso ele é excelente: não há outro caminho para o sentir do artista que as suas incertezas.
-
Livros em Cartaz3 semanas ago
Livros em Cartaz 074 – Pedro Páramo
-
QueIssoAssim2 semanas ago
QueIssoAssim 325 – Operação Documentário – Um papo com Rodrigo Astiz
-
CO22 semanas ago
CO2 358 – O Resgate Duplo e o Contrabando
-
Notícias3 semanas ago
Nova série do Disney+ sobre Jean Charles com participação de atriz paulistana Carolina Baroni