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Desobediência (Disobedience) 2018 – Por Maria Eduarda Senna

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Desobediência, é um longa adaptado de um livro com o mesmo nome, escrito por Naomi Alderman e conta a historia de Ronit (Rachel Weisz), que retorna para a comunidade judaica ortodoxa, após receber notícias sobre a morte do pai que é um Rabino, amado por todos. Lá ela reencontra Esti (Rachel McAdams), a amiga de infância com a qual teve um romance durante a adolescência. Ronit descobre que Esti está casada com Dovid (Alessandro Nivola) que também era amigo das duas na adolescência, e que se tornou “filho de criação” de seu pai, após a sua partida para NYC. A volta de Ronit a comunidade ortodoxa acaba reacendendo a paixão entre as duas, fazendo com que elas acabem vendo até onde vai o limite da religião e da sexualidade.

A direção e o roteiro de “Desobediência” que é assinado por pelo chileno Sebastián Lelio ( que venceu o Oscar com o filme “Uma Mulher Fantástica) casam perfeitamente, de uma maneira muito bonita e que passa todas as sensações exploradas no longa por cada um dos personagens, principalmente as de Ronit (Rachel Weisz). 

A câmera até a metade do filme está sempre acompanhando a personagem de Rachel, nos mostrando o quanto ela se sente deslocada e não pertencente aquele lugar, aquela cultura, é isso começa a ser explorado na personagem da Rachel McAdams também. 

Parece que cada plano foi perfeitamente pensado para se entrelaçar com as emoções, os questionamentos e impulsos dos personagem, é lindo é impressionante, de uma qualidade absurda.

Logo no começo do filme também, temos a imagem do Rabino que é o pai de Ronit interpretará pela Rachel Weisz, discursando (para os outros fiéis que seguem fervorosamente o judaísmo) sobre liberdade, quando ele passa mal e vai no chão, vindo a falecer. Logo nessa primeira cena podemos reparar um plano muito interessante do Rabino que vem a ser o que no cinema chamamos de “Rima visual”, que faz com que essa cena se repita la no final do filme quando Dovid (Alessandro Nivola) é apresentado como aprendiz desse Rabino e é convidado a discursar para os fiéis.

Outro ponto muito interessante e o mais importante de todos, é a representatividade LGBTQ+, de uma forma bonita e questionadora, porque não mostram apenas a dificuldade normal de um casal homossexual, mostram a dificuldade em cima de uma comunidade ortodoxa que vive apenas um único tipo de vida, digamos assim, seguem à risca a religião e a submissão da mulher, mas o contraponto é justamente esse, Ronit é uma mulher extremamente decidida, bem resolvida, forte, independente e ela mostra tudo isso para a personagem da Rachel McAdams (que já existe dentro dela tbm, só que por uma questão de não conhecer outra “vida” além da comunidade ortodoxa, ela meio que deixa isso adormecido).

As cenas de sexo entre as duas inclusive é muito bem dirigida e bonita, mostrando o quanto as duas estão entregues é realmente sentem amor e prazer uma pela outra.

Como sempre o questionamento entre a maioria dos filmes com a temática LGBT, é que o casal homossexual nunca fica junto por uma tragédia, ou um trai o outro ( e vale reforçar que até hoje nunca fizeram um filme

personagem bissexuais) mas nesse filme surpreende (NÃO VOU CONTAR O FINAL), no começo logo que acabou eu tive uma opinião diferente da que vou escrever agora, óbvio porque estava envolvida com a história, mas achei incrível observando melhor o contexto que o filme nos apresenta. E adorei ver mulheres mostrando que podem e são empoderadas e fortes sem precisar de um homem (apesar do contexto religioso que o filme aborda), pois o filme aborda essa questão de sexualidade e religião de uma forma que eu nunca tinha visto na história do cinema até hoje.

O filme é muito bem construído em vários sentidos, sem precisar ser clichê, ou apelativo, e de fato te faz refletir sobre as questões abordadas de uma forma muito interessante. A Rachel Weisz para mim é uma das atrizes mais completas e metódicas da indústria, por isso ela é tão incrível. Ela fez questão de participar ativamente de todo o processo do filme incluindo a cena linda de sexo entre as duas, além de ser a produtora do longa. Todos os atores merecem os parabéns pelas atuações, mas a Rachel Weisz da um banho de atuação e o Lelio uma aula de cinema. Este para mim, é até hoje um dos melhores filmes de representatividade LGBTQ+ feminina.

NOTA: 5,0

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Ainda Estou Aqui – Crítica

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ainda estou aqui

Existem alguns filmes que ao assistirmos apenas os primeiros dez minutos já temos a percepção de estarmos diante de um clássico ou de uma obra-prima. É o caso de O Poderoso Chefão, por exemplo. Ou de Cidade de Deus, para trazer mais perto da nossa realidade brasileira. Não é o caso de Ainda Estou Aqui, novo filme de Walter Salles que chega aos cinemas dia 7 de novembro.

Não. Ainda Estou Aqui demora um pouco mais para percebermos que estamos diante de um dos melhores filmes brasileiros já feitos. E isso é fácil de entender, simplesmente porque a história é contada no tempo dela, sem pressa de acontecer. Mas quando você chegar na cena em que a personagem principal se vê presa, você não vai esquecer desse filme nunca mais na sua vida.

Baseado no livro de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva, o filme conta a história da família de Marcelo, que em 1970 passou pela traumatizante experiência de ter o pai, o ex-deputado e engenheiro Rubens Paiva, simplesmente levado arbitrariamente pela Ditadura Militar e nunca mais retornar.

Ainda Estou Aqui começa te estabelecendo como um observador da família. E como ele leva tempo para te mostrar todo o cotidiano e te apresenta os personagens aos poucos, o espectador vai se tornando parte daquele núcleo familiar. Quando as coisas vão ficando sinistras, você já está envolvido e consegue sentir a mesma angústia e desespero que a família sentiu.

Fernanda Torres está simplesmente deslumbrante como Eunice Paiva. Forte, aguerrida, destemida, o que essa mulher aguentou não foi brincadeira. E Fernanda transmite isso como nenhuma outra atriz seria capaz. Selton Mello interpreta Rubens Paiva com muita simpatia e tenacidade. Simples sem ser simplório. Você literalmente quer ser amigo dele.

O elenco da família, crianças e adolescentes também está simplesmente perfeito. Todos impecáveis, assim como todo o elenco de apoio. Destaque também para a ponta da diva Fernanda Montenegro, como a Eunice idosa que, em no máximo cinco minutos de tela e sem dizer uma palavra, mostra porque é a maior atriz de todos os tempos.

Com um roteiro muito bem escrito e uma direção impecável, aliados a uma fotografia perfeita, é impossível apontar qualquer defeito neste filme. Com uma temática ainda necessária nos dias de hoje, é um dever cívico assistir a Ainda Estou Aqui, o melhor filme de 2024, sem sombra de dúvida.

Nota 5 de 5

Avaliação: 5 de 5.
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