Reviews e Análises
Besouro Azul – Crítica

Eu sou muito suspeito para falar de filmes de super-heróis. Cresci lendo quadrinhos da DC e da Marvel. Esses personagens fazem parte de quem eu sou. Por isso, o filme desse gênero tem que ser muito ruim ou totalmente fora de propósito para que eu desgoste dele. Quem leu minha resenha sabe que gostei de Flash (apesar do CGI) e nem achei Shazam: Fúria dos Deuses esse desastre todo. Afinal de contas, eu já vi Batman & Robin no cinema. Então, respeita meu passado.
Isto posto, preciso dizer: Besouro Azul me surpreendeu. Esperava um filme bem pior e, na realidade, acabou sendo uma grata surpresa. É óbvio que não passa de um filme bobo de super-herói, com todos os clichês que a gente já cansou de ver em diversos exemplares do gênero. Mas aqui, pelo menos, há coração. Percebe-se que o filme foi feito com muito cuidado e isso influencia no produto final.
Besouro Azul tem como foco o personagem de Jaime Reyes (Xolo Maridueña), jovem que retorna à Palmera City (uma espécie de Miami da DC), ao se formar na faculdade e descobre que a família está passando por dificuldades. A oficina mecânica que provia o sustento precisou ser fechada e eles vão perder a casa se não conseguirem pagar o aluguel. Ao mesmo tempo, somos introduzidos a Jenny Kord, personagem interpretada com muito carisma e competência pela brasileira Bruna Marquezine e herdeira de Ted Kord, um inventor e magnata que foi dado como desaparecido.

Jenny acaba sendo colocada de lado nos negócios da família quando sua tia, Victoria (Susan Sarandon), assume a empresa e investe na tecnologia para criação de novas armas. Victoria inclusive consegue recuperar um artefato alienígena, o Escaravelho, que promete dar super-poderes a quem se conectar a ele, e, obviamente, pretende usá-lo para o mal.
Um bom destaque no filme é a carismática família de Jaime. A vó (Adriana Barraza), a mãe (Elpidia Carrillo), o pai (Damián Alcázar), o tio Rudy (George Lopez) e a irmã Milagro (Belissa Escobedo) fazem a diferença em um roteiro que carrega na latinidade e foca no tema para se conectar com o público. Referências a Maria do Bairro e Chapolin Colorado se misturam ao jeito latino de ser, gerando muitas risadas e drama, dando um charme todo único. Outras referências ao passado do personagem nos quadrinhos me pegaram em cheio e afagaram o coração desse velho leitor com boa e velha nostalgia.
Apesar disso, percebe-se claramente que a produção mais baratinha (principalmente nos cenários de externas) pretendiam que o projeto original não fosse para o cinema. Mas a armadura do personagem ter muitos elementos práticos e o CGI estar bem decente, ajudam a dar a cara de filme pipoca de final de semana. A trilha sonora compõe bem todo o filme e a direção de arte e fotografia entregam um trabalho interessante.

Besouro Azul é um filme divertido, engraçado, que mexe com a nossa latinidade e dá um quentinho no coração. É uma daquelas boas opções de sessão da tarde que, se não vão mudar a sua vida ou revolucionar a arte, pelo menos fazem a gente esquecer os nossos problemas do lado de fora.
Reviews e Análises
Lispectorante – Crítica

Lispectorante de Renata Pinheiro, diferente de outras produções baseadas na obra de Clarice Lispector – A Hora da Estrela (1985), de Suzana Amaral e A Paixão Segundo G.H. (2023) de Luiz Fernando Carvalho – não tem foco, especialmente, em nenhum texto da autora, mas consegue captar seu universo e soluciona o fluxo de consciência, característica primeira de sua literatura, através de cenas marcadas pelo fantástico.
Durante o longa acompanhamos Glória Hartman – uma artista plástica em crise, recém-divorciada e sem dinheiro – que retorna para sua terra natal, indo visitar sua tia Eva. Ao encontrar um guia de turismo com um grupo acaba interessando-se pelas informações sobre a casa de Clarice Lispector que, a partir daqui será o lugar do onírico e de profundas e solitárias discussões existenciais, preenchido por ruinas de um mundo apocalíptico.
Lispectorante, palavra inventada tradução do intraduzível, Oxe, pra mim listectorante é uma droga ilegal feita numa manhã de um Carnaval que se aproxima. Pra expectorar mágoas, prazeres, visgos e catarros num rio que vira charco
Entre o fazer artístico – sempre mostrado de forma fantástica, surrealista – e a necessidade de sustento, Glória se apaixona por Guitar, um artista de rua mais jovem com quem inicia um romance.
A escolha de Marcélia Cartaxo para viver Glória nos ajuda a encaixá-la no mundo de Clarice: é como se ela sempre tivesse estado ali, vivendo e sentindo todas aquelas subjetividades, mesmo sendo uma personagem de atitudes muito diferentes de Macabéa, que a atriz viveu em A Hora da Estrela. Glória é livre, mas seu momento de vida – uma mulher madura, recém-divorciada, sem dinheiro e em um “lance” com um homem mais jovem – nos remete as inseguranças de Macabéa – jovem, tímida e descobrindo o mundo. Ambas estão em transição!
Lispectorante é poético e tem um desfecho que não surpreende e nisso ele é excelente: não há outro caminho para o sentir do artista que as suas incertezas.
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