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Gibiteca Refil

#Batman80Anos – O caso da sociedade química ou como tudo começou

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Já sabemos qual foi a motivação para a criação do nosso Cruzado Encapuzado favorito e quais as referências e inspirações que ajudaram Bob Kane a dar-lhe vida, mas por que Batman, mesmo vindo da necessidade de ser “mais um Superman” tem histórias, habilidades e poderes (nesse caso, não-poderes) tão diferentes do Azulão? O contexto da época e a publicação para a qual a personagem foi idealizada respondem essas questões.

As histórias das revistas pulp povoaram a imaginação dos leitores nas décadas de 30 e 40 do século passado. Em sua maioria eram narrativas de ficção científica, fantasia e policial. O Superman era um eco das aventuras com alienígena em planetas distantes; já Batman, das histórias de crimes e detetives.

Como o nome já sugere, a revista Detective Comics, criada em março de 1937, publicava antologias de histórias de detetives em quadrinhos, sendo o último veículo criado pela pioneira National Allied Publication, que viria tornar-se a DC Comics. Em 1939, surge sua personagem mais icônica e a que a faria ser uma das publicações continuadas mais longevas da história, chegando em junho de 2019 ao 1005º número.

O caso da sociedade química 

Além de Speed Saunders, Buck Marshall e do Vingador Escarlate, a Detective Comics número 27 trazia, após seu costumeiro quiz sobre técnicas forenses, a história intitulada o caso da sociedade química. 

O que você esperaria ler no debut de Batman? Talvez a história de um casal e seu filho saindo do cinema; os três sendo abordados por um marginal; colar de pérolas quebrando-se espalhando as contas brancas no chão; adultos mortos e a criança jurando vingança, certo? Errado!

CUIDADO: pode conter revelações do enredo.

Em vez disso temos 6 páginas nas quais somos apresentados ao jovem Bruce Wayne e a seu amigo, o comissário de polícia Gordon, quando a conversa é interrompida por um telefonema: o rei das indústrias químicas, Lambert, foi assassinado. Sem “nada melhor pra fazer” Bruce acompanha Gordon até o local do crime. Após presenciar as investigações e saber que mais pessoas foram ameaçadas, acha melhor ir para a casa para que o comissário termine seu trabalho.

Vemos Batman pela primeira vez quando ele acua os marginais e lê o contrato que eles subtraíram do cofre da segunda vítima, o que o leva a desvendar o caso.

Pouca coisa lembra o Batman ou as histórias que lemos hoje, mas é nessa primeira aparição que já nos são apresentados elementos do que seria cânone da personagem como a relação com o Comissário Gordon,  as habilidades em combates corpo a corpo, a sua inteligência – afinal ele é um detetive, ouviu Senhor Zack Snyder – e a mania de sumir no meio das frases dos outros.

Agora, se você tem a intensão de ler essa pequena aventura, esqueça traumas juvenis, mordomo, sidekicks, código de ética ou bat-caverna. Aqui vemos Batman naquilo que foi criado para protagonizar: uma simples e honesta história de detetive. 

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Gibiteca Refil

#MulherMaravilha80anos – Do Polígrafo ao Laço da Verdade

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“Bela como Afrodite; sagaz como Atena; dotada da velocidade de Mercúrio e da força de Hércules – nós a conhecemos como Mulher-Maravilha. Mas quem pode nos dizer quem é ela ou de onde ela veio?” – All-Star Comics, dezembro de 1941

A Mulher-Maravilha não foi a primeira super-heroína dos quadrinhos e definir esse posto é algo bastante complexo. Levando-se em conta o que entendemos como super-herói (ter uma identidade secreta, poderes e usar um uniforme) o consenso é que a primeira super-heroína dos quadrinhos é a Hawkgirl, conhecida por aqui como Mulher-Gavião. Como explicar, então, que tamanha popularidade de Diana faça com que nem cogitemos acreditar nisso? É simples: o conceito.

Muitas personagens femininas foram criadas a partir do clichê Ms. Male Character, isto é, a versão feminina de uma personagem masculina. Shiera era a versão feminina do Gavião Negro, além de sua parceira amorosa, assim como as primeiras concepções de Miss Marvel e Batwoman. A Mulher-Maravilha já foi criada como uma personagem independente, com seu próprio mundo fictício e histórias em consonância com as discussões do período.

A primeira aparição de Diana no universo DC se deu em dezembro de 1941 na All-Star Comics número 8. Essa ainda não contava a origem da personagem, mas a história das Amazonas e o motivo delas irem parar em Themyscira. A narrativa do nascimento de Diana, que permaneceria intacta até sua reformulação pós-Crise, seria apresentada apenas em Wonder Woman número 1: esculpida por Hipólita, a partir do barro de Themyscira, a escultura desperta na Rainha das Amazonas um sentimento profundamente maternal e o desejo de que a forma tome vida, em uma releitura do mito de Pigmaleão e Galatéia. Afrodite atende ao pedido de Hipólita, trazendo a criança à vida, dando-lhe o nome de Diana, em homenagem a irmã gêmea de Apolo, deusa da Lua e da caça. O que nos faz pensar: como seus criadores chegaram a essas referências?

“Sinceramente, a Mulher-Maravilha é propaganda psicológica com vistas ao novo tipo de mulher que, na minha opinião, deveria dominar o mundo.”  William Moulton Marston, março de 1945

A criação da personagem é atribuída ao roteirista Charles Moulton, pseudônimo do psicólogo William Moulton Marston, conhecido também como o inventor do polígrafo (a máquina da verdade). Já a concepção visual ficou a cargo de Harry G. Peter. Sempre esquecida nesta equação, porém, estava Elizabeth Holloway Marston esposa de William Marston e a quem o próprio se referia como coautora da personagem.

A luta pela igualdade feminina, presente nas primeiras histórias da Mulher-Maravilha – segundo Jill Lepore na biografia A história secreta da Mulher-Maravilha – remonta os primeiros anos de Marston em Harvard com o movimento pelo voto feminino e, principalmente, após ele ter ouvido a palestra da sufragista inglesa Emmeline Pankurst. Quase impedida de falar na universidade, simplesmente por ser mulher, Pankurst deixou Marston “fascinado, emocionado”. Já as referências gregas, possivelmente vieram de Holloway que amava a língua e as histórias que estudou em seus anos no ensino médio.

Desde a palestra de Emmeline Pankurst, a Mulher-Maravilha levou três décadas para aparecer, quando o seu principal idealizador já tinha 48 anos. Marston, após afirmar que via nos quadrinhos um grande potencial educacional, tornou-se uma espécie de psicólogo consultor da DC Comics. Foi aí que sugeriu ao editor Max Gaines uma super-heroína. A resposta inicial de Gaines foi dizer que personagens pulp e de quadrinhos femininas sempre eram um fracasso. Marston engendrou em argumento todos os anos em que defendeu os direitos das mulheres, recebendo a resposta “fiquei com o Superman depois que todo syndicate do país recusou. Vou dar uma chance a sua Mulher-Maravilha!”. Como condição o próprio Marston deveria escrever as histórias e se depois de seis meses os leitores não gostassem, essa seria descontinuada. Parece que acabou dando certo!

Como dito, Mulher-Maravilha não foi a primeira super-heroína, de fato, mas acredito que se tornou a primeira super-heroína por direito. Assim, convido você a comemorar durante os próximos meses os 80 anos de suas histórias e imaginário criados para a princesa amazona.

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