Gibiteca Refil
Artists’ Alley: a minha CCXP
Se você não estava em uma caverna ou em Naboo no último fim de semana, deve saber que aconteceu, aqui em São Paulo, a 6º edição da Comic Con Experience.
Com todos os ingressos esgotados, andar pelos corredores nos quatro dias de evento nos deu a sensação de ser sempre sábado, o dia – historicamente – mais lotado dos anos anteriores. Nossa atenção era disputada em não tropeçar nas armaduras dos cosplayers e stands de empresas como Netflix, Prime Vídeo e Globoplay.
Os guerreirinhos que se empenharam para assistir os painéis mais esperados do evento – o do MCU, com a presença do todo poderoso Kevin Feige, e o de Star Wars: A ascensão Skywalker, que além de J.J. Abrams contou com a presença de Daisy Ridley, John Boyega e Oscar Isaac – passaram quase 48 horas na fila para conseguir seu lugar aos dois sóis no auditório Cinemark XD.
Fora as surpresas, como Henry Cavill divulgando The Witcher (ou como chamo carinhosamente, o Bruxeiro).
Pra mim, porém, o evento se resume a um lugar muito específico: o Artists’ Alley.
O Artists’ Alley é onde podemos nos encontrar com o pessoal que produz quadrinhos no Brasil, seja de forma autoral ou para grandes editoras.
Toda edição conheço algum artista novo. O ano passado, por exemplo, conheci o incrível Michel Ramalho e seu Légume e o Tempo (obrigada Valdir!), mas sempre acabo fazendo uma visita a velhos conhecidos, nem que seja só para comprar um print ou pedir um autógrafo em alguma edição passada. Abaixo cinco destes artistas e roteiristas que você deveria começar a conhecer:
A primeira vez que entrei em contato com a produção de Raphael Fernandes foi em abril de 2014, quando comprei meu primeiro número de Ditadura no ar, roteirizado por ele e com arte de Abel. Depois de uma busca frustrada pelo terceiro volume – sempre compensada com outras publicações como a coletânea Delirium Tremens da qual o Raphael é organizador – este ano consegui minha linda e autografada edição do encadernado.
Em Ditadura no ar – ganhador do prêmio Troféu HQ Mix em 2016 – o repórter fotográfico Felix tenta fazer o possível para encontrar sua namorada Nina, presa pelo Estado em um protesto contra a Ditadura. O canal Meteoro Brasil fez uma resenha maravilhosa da história.
Outra publicação que comprei este ano das mãos do autor foi a coletânea Sangue no Olho, com histórias de bang-bang à brasileira. Além de assinar o roteiro da história Chave de Cadeia, Raphael também é o organizador da coletânea.
“O Mal não triunfará enquanto o bem puder pagar”
Há alguns anos, em um tempo mais simples em que a internet discada e as contas absurdas de telefone eram uma realidade, existia uma publicação chamada Dragão Brasil, focada no público que jogava RPG. Nela, mais especificamente nas edições 44 a 46, foi publicada uma aventura chamada Holy Avengers que, mais tarde, teria sua revista própria em estilo mangá, com a maioria dos roteiros de Marcelo Cassaro e arte de Érica Awano. Nesse contexto nasce Mercenário$ – ou Merc$, como apelidado por seus criadores – também ambientada no mundo de Tormenta. Eu li essa revista na época de lançamento (2004) pela extinta Talismã e adorei. Infelizmente, por causa da “morte” da editora, fiquei órfã precocemente: apenas uma edição foi publicada.
Imagine minha surpresa ao encontrar, no Artist’s Alley da #CCXP2015, entre as mesas 12 e 13, esses meus velhos amigos – na verdade só conhecia o Domi :p – acompanhados das criadoras da sua mais nova história. O que fiz? Trouxe-os para casa!
O humor – principalmente aqueles que se utilizam da narrativa iconográfica, isto é, dos desenhos – lembrou-me muito Holy Avengenrs, mas as semelhanças param por aí. Domi é aquelo tipo de personagem que amamos odiar. Ele nunca será o boa-praça Sandro Galtran, e isso, para mim, é excelente.
Mercenários está em seu 4 volume, seguindo com delicioso texto de Fran Briggs e a linda arte de Anna Giovannini.
Conheci muitos artistas pelas webcomics (será que devo fazer um post com uma lista? Vou pensar nisso…), mas foi uma pequena viking que saqueou o nobre coração desta pobre camponesa que vai todos os dias ao bosque colher lenha: Navio Dragão é uma das coisas mais engraçadas que li em anos!
Criado por Rebeca Prado, Navio Dragão traz as aventuras da menininha nada fofa Leif, sempre acompanhada por seu cachorro Carne, em tirinhas de humor ácido, delicadamente aquareladas em verde, marrom e muito vermelho.
As primeiras tirinhas ainda podem ser acessadas em https://naviodragao.wordpress.com/. O título foi publicado pela primeira vez via financiamento coletivo em 2015 e hoje ganha nova edição, em capa dura e tirinhas inéditas.
Você sabia que é possível conhecer uma pessoa duas vezes? Foi o que aconteceu comigo em relação ao Cadu Simões . A primeira foi por intermédio de uma de suas criações, o Homem-Grilo, quando os meninos do MdM (Melhores do Mundo), lá nos idos de 2007, ainda faziam artigos para o site. A segunda vez foi dentro de sala de aula, quando fizemos algumas disciplinas na faculdade. Eu não sabia quem ele era até encontrá-lo em uma convenção, os dois se olharem e eu dizer “É você que faz!”.
Cadu não esteve na CCXP este ano e entendo demais os motivos, mas fez falta!
Gibiteca Refil
#MulherMaravilha80anos – Do Polígrafo ao Laço da Verdade
“Bela como Afrodite; sagaz como Atena; dotada da velocidade de Mercúrio e da força de Hércules – nós a conhecemos como Mulher-Maravilha. Mas quem pode nos dizer quem é ela ou de onde ela veio?” – All-Star Comics, dezembro de 1941
A Mulher-Maravilha não foi a primeira super-heroína dos quadrinhos e definir esse posto é algo bastante complexo. Levando-se em conta o que entendemos como super-herói (ter uma identidade secreta, poderes e usar um uniforme) o consenso é que a primeira super-heroína dos quadrinhos é a Hawkgirl, conhecida por aqui como Mulher-Gavião. Como explicar, então, que tamanha popularidade de Diana faça com que nem cogitemos acreditar nisso? É simples: o conceito.
Muitas personagens femininas foram criadas a partir do clichê Ms. Male Character, isto é, a versão feminina de uma personagem masculina. Shiera era a versão feminina do Gavião Negro, além de sua parceira amorosa, assim como as primeiras concepções de Miss Marvel e Batwoman. A Mulher-Maravilha já foi criada como uma personagem independente, com seu próprio mundo fictício e histórias em consonância com as discussões do período.
A primeira aparição de Diana no universo DC se deu em dezembro de 1941 na All-Star Comics número 8. Essa ainda não contava a origem da personagem, mas a história das Amazonas e o motivo delas irem parar em Themyscira. A narrativa do nascimento de Diana, que permaneceria intacta até sua reformulação pós-Crise, seria apresentada apenas em Wonder Woman número 1: esculpida por Hipólita, a partir do barro de Themyscira, a escultura desperta na Rainha das Amazonas um sentimento profundamente maternal e o desejo de que a forma tome vida, em uma releitura do mito de Pigmaleão e Galatéia. Afrodite atende ao pedido de Hipólita, trazendo a criança à vida, dando-lhe o nome de Diana, em homenagem a irmã gêmea de Apolo, deusa da Lua e da caça. O que nos faz pensar: como seus criadores chegaram a essas referências?
“Sinceramente, a Mulher-Maravilha é propaganda psicológica com vistas ao novo tipo de mulher que, na minha opinião, deveria dominar o mundo.” William Moulton Marston, março de 1945
A criação da personagem é atribuída ao roteirista Charles Moulton, pseudônimo do psicólogo William Moulton Marston, conhecido também como o inventor do polígrafo (a máquina da verdade). Já a concepção visual ficou a cargo de Harry G. Peter. Sempre esquecida nesta equação, porém, estava Elizabeth Holloway Marston esposa de William Marston e a quem o próprio se referia como coautora da personagem.
A luta pela igualdade feminina, presente nas primeiras histórias da Mulher-Maravilha – segundo Jill Lepore na biografia A história secreta da Mulher-Maravilha – remonta os primeiros anos de Marston em Harvard com o movimento pelo voto feminino e, principalmente, após ele ter ouvido a palestra da sufragista inglesa Emmeline Pankurst. Quase impedida de falar na universidade, simplesmente por ser mulher, Pankurst deixou Marston “fascinado, emocionado”. Já as referências gregas, possivelmente vieram de Holloway que amava a língua e as histórias que estudou em seus anos no ensino médio.
Desde a palestra de Emmeline Pankurst, a Mulher-Maravilha levou três décadas para aparecer, quando o seu principal idealizador já tinha 48 anos. Marston, após afirmar que via nos quadrinhos um grande potencial educacional, tornou-se uma espécie de psicólogo consultor da DC Comics. Foi aí que sugeriu ao editor Max Gaines uma super-heroína. A resposta inicial de Gaines foi dizer que personagens pulp e de quadrinhos femininas sempre eram um fracasso. Marston engendrou em argumento todos os anos em que defendeu os direitos das mulheres, recebendo a resposta “fiquei com o Superman depois que todo syndicate do país recusou. Vou dar uma chance a sua Mulher-Maravilha!”. Como condição o próprio Marston deveria escrever as histórias e se depois de seis meses os leitores não gostassem, essa seria descontinuada. Parece que acabou dando certo!
Como dito, Mulher-Maravilha não foi a primeira super-heroína, de fato, mas acredito que se tornou a primeira super-heroína por direito. Assim, convido você a comemorar durante os próximos meses os 80 anos de suas histórias e imaginário criados para a princesa amazona.
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