Reviews e Análises
A Era de Ouro – Crítica
A Era de Ouro (Spinning Gold – 2023) conta a história da vida do produtor musical Neil Bogart, fundador da Casablanca Records, uma das maiores gravadoras independentes dos Estados Unidos. Nos anos 70, a empresa de Bogart foi a responsável pelo lançamento e sucesso de artistas como Donna Summer, Village People, a banda de rock KISS entre outros. Mas o filme vem para provar que nenhum desses sucessos vieram sem muitas derrotas anteriores e dedicação.
O filme é escrito e dirigido pelo filho de Neil Bogart, Timothy Scott Bogart. Na verdade, o filme também é produzido por seus outros filhos. E a vontade de homenagear o pai fica escancarada já nos minutos iniciais. O texto acaba sendo muito chapa branca por conta disso, mesmo mostrando as falhas de Neil, aqui interpretado por Jeremy Jordan.
Os problemas com drogas, adultério e bigamia são temas presentes no filme, mas em momento nenhum esses pontos parecem abalar a imagem que se quer passar de que Neil era uma espécie de Deus da genialidade, que apenas sofreu contratempos e percalços e que a sua aura divina fez com que ele superasse todos os desafios e, além de salvar a gravadora da falência, descobrisse com seu faro sobre-humano o talento irretocável de artistas que apenas precisavam que alguém acreditasse neles. Bem chapa branca.
As mais de duas horas de filme atrapalham um pouco o desenvolvimento do filme, que se perde em alguns momentos que poderiam ter ficado para uma versão do diretor futuramente. Em alguns momentos a coisa toda fica meio chata e você só quer saber como tudo aquilo vai finalizar. Ainda bem que o final é bem satisfatório e a gente sai do cinema com a sensação de que o filme cumpriu o seu papel em nos divertir.
A direção de arte está bem interessante, com destaque para os figurinos. Tem uma cena feita no chroma-key em determinado momento do filme que está vergonhosa e poderia ter sido cortada. O destaque mesmo fica para as cenas que envolvem as músicas dos artistas envolvidos com a gravadora, e que estão muito bem feitas.
Com um elenco bem decente e esforçado, Era de Ouro celebra o mundo da música e do show business, mostrando poucos podres dos artistas e poderosos e focando na mensagem positiva de que com persistência e se você tiver um pouco mais de tempo para trabalhar, seu sonho pode virar realidade.
Reviews e Análises
Ainda Estou Aqui – Crítica
Existem alguns filmes que ao assistirmos apenas os primeiros dez minutos já temos a percepção de estarmos diante de um clássico ou de uma obra-prima. É o caso de O Poderoso Chefão, por exemplo. Ou de Cidade de Deus, para trazer mais perto da nossa realidade brasileira. Não é o caso de Ainda Estou Aqui, novo filme de Walter Salles que chega aos cinemas dia 7 de novembro.
Não. Ainda Estou Aqui demora um pouco mais para percebermos que estamos diante de um dos melhores filmes brasileiros já feitos. E isso é fácil de entender, simplesmente porque a história é contada no tempo dela, sem pressa de acontecer. Mas quando você chegar na cena em que a personagem principal se vê presa, você não vai esquecer desse filme nunca mais na sua vida.
Baseado no livro de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva, o filme conta a história da família de Marcelo, que em 1970 passou pela traumatizante experiência de ter o pai, o ex-deputado e engenheiro Rubens Paiva, simplesmente levado arbitrariamente pela Ditadura Militar e nunca mais retornar.
Ainda Estou Aqui começa te estabelecendo como um observador da família. E como ele leva tempo para te mostrar todo o cotidiano e te apresenta os personagens aos poucos, o espectador vai se tornando parte daquele núcleo familiar. Quando as coisas vão ficando sinistras, você já está envolvido e consegue sentir a mesma angústia e desespero que a família sentiu.
Fernanda Torres está simplesmente deslumbrante como Eunice Paiva. Forte, aguerrida, destemida, o que essa mulher aguentou não foi brincadeira. E Fernanda transmite isso como nenhuma outra atriz seria capaz. Selton Mello interpreta Rubens Paiva com muita simpatia e tenacidade. Simples sem ser simplório. Você literalmente quer ser amigo dele.
O elenco da família, crianças e adolescentes também está simplesmente perfeito. Todos impecáveis, assim como todo o elenco de apoio. Destaque também para a ponta da diva Fernanda Montenegro, como a Eunice idosa que, em no máximo cinco minutos de tela e sem dizer uma palavra, mostra porque é a maior atriz de todos os tempos.
Com um roteiro muito bem escrito e uma direção impecável, aliados a uma fotografia perfeita, é impossível apontar qualquer defeito neste filme. Com uma temática ainda necessária nos dias de hoje, é um dever cívico assistir a Ainda Estou Aqui, o melhor filme de 2024, sem sombra de dúvida.
Nota 5 de 5
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