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Anhangabaú recebe o Kikito de Melhor Documentário
O prêmio para o filme abre a discussão sobre formas alternativas de distribuição para beneficiar uma gama maior de cineastas e público
Anhangabaú, do diretor gaúcho Lufe Bollini – documentário sobre as construções simbólicas e da memória indígena e artística da cidade de São Paulo, uma produção Elixir Entretenimento, Kino-Cobra Filmes e Fogo no Olho Filmes – inicia sua carreira recebendo um dos prêmios mais importantes do cinema brasileiro, o Kikito de Melhor Documentário no 51º Festival de Cinema de Gramado.
“O Festival de Gramado é nosso grande triunfo de estreia do filme. Para qualquer filme nacional, ter a chancela de um festival tão importante e histórico como o de Gramado é o melhor cenário possível para a trajetória de festivais que se inicia agora”, diz o diretor Lufe Bollini. “Antes mesmo da premiação, o retorno da plateia presente na serra gaúcha e de pessoas que assistiram no Canal Brasil já foi super acolhedora. Tudo isso é extremamente positivo para nós, que ainda não tínhamos mostrado o filme para o público”, completa.
O diretor diz ainda que “a partir deste prêmio, começamos a perceber o poder comunicativo do filme e isso fortalece consideravelmente as possibilidades de janelas para o filme”, opinião corroborada pelo produtor Denis Feijão. “Acredito que os principais desafios da produção cinematográfica estão relacionados com a distribuição. Todos nós que trabalhamos na indústria estamos, de alguma forma, vinculados aos resultados de bilheteria. É muito difícil fazer um filme quando você é obrigado a atender um determinado número de público ou exibições para que seu filme seja distribuído”.
O objetivo agora é continuar a trabalhar o filme, que conecta os conflitos pelo território da comunidade indígena Guarani Mbya com a resistência da Ouvidor 63, a maior ocupação artística da América Latina, e do grupo Teatro Oficina Uzyna Uzona, na cidade de São Paulo, em festivais internacionais e nacionais. “Que esse importante prêmio consiga abrir o acesso a um acordo de distribuição para levar Anhangabaú para as salas de cinema, e também ao circuito alternativo, transformando essa indústria em algo mais democrático e educativo. Que o filme potencialize as discussões em torno dos temas retratados e possamos, de alguma forma, fortalecer as lutas”, conclui Feijão.
O produtor e diretor de fotografia Rafael Avancini ressalta a importância social do documentário: “Anhangabaú é um filme que fala de luta e de resistência, mas também é um filme que fala de amor, da força do coletivo, do poder transformador da arte e da cultura”. E brada: “Viva a comunidade Guarani do Jaraguá, viva a ocupação Ouvidor 63 e viva o Teatro Oficina e o Parque do Bixiga!”
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A Hora da Estrela – Crítica
Quando se é aficionado por livros é comum alguma mania: ler a última página, tentar não “quebrar” a lombada de calhamaços enquanto se lê ou usar qualquer coisa que estiver a mão como marcador de páginas. Eu coleciono primeiros parágrafos: escrevo em pequenos cadernos que guardo na estante junto com os volumes que lhes deram origem. Claro que existem os favoritos como o de Orgulho e Preconceito (“É uma verdade universalmente conhecida que um homem solteiro, possuidor de uma boa fortuna, deve estar necessitado de uma esposa.”) e Anna Karenina (“Todas as famílias felizes são iguais, mas cada família infeliz é infeliz à sua maneira.”), mas nenhum fala tanto ao meu coração quanto o de “A Hora da Estrela”:
Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.
Agora, se você nunca leu “A Hora da Estrela”, pode dar uma chance a obra da autora ucrano-brasileira Clarice Lispector assistindo a adaptação realizada em 1985 pela cineasta Suzana Amaral, que voltou aos cinemas no último 16 de maio em cópias restauradas digitalmente em 4K.
O longa conta a história da datilógrafa Macabéa (vivida magistralmente por Marcélia Cartaxo, ganhadora do Urso de Prata de melhor atuação em Berlim) uma migrante vai do Nordeste para São Paulo tentar a vida. Órfã, a personagem parece pedir perdão o tempo todo por estar viva, quase se desculpando por ter sobrevivido a sina dos pais. Macabéa é invisível, invisibilizada e desencaixada do mundo.
A interação com as outras personagens acentua o caráter de estranheza que Macabéa sente de sua realidade (“O que você acha dessa Macabéa, hein?” “Eu acho ela meio esquisita”) onde a proximidade física reservada a ela é oferecida apenas pelas viagens de metrô aos domingos.
As coisas parecem mudar quando ao mentir ao chefe – copiando sua colega de trabalho Glória – dizendo que no dia seguinte irá tirar um dente para, na verdade, tirar um dia de folga. Passeia pela cidade e encontra Olímpico (José Dumont) a quem passa a ver com frequência. Infelizmente, mesmo ele, não entende a inocência e esse desencaixe de Macabéa, deixando-a.
“A Hora da Estrela” de Suzana Amaral traz a estética da fome tão cara ao Cinema Novo de Glauber Rocha não apenas na falta, ressaltada em oposição as personagens que orbitam a curta vida de Macabéa, mas no desalento, no desamparo e, principalmente, no abandono que, quando negado em certa altura pela mentira esperançosa da cartomante charlatã (vivida por Fernanda Montenegro), culmina na estúpida tragédia que ocorre com a protagonista.
Se no começo de tudo, como disse Clarice, sempre houve o nunca e o sim, para Macabéa e os seus “sim senhor” o universo reservou apenas o grande não que Suzana Amaral captou como ninguém.
Nota 5 de 5
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