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Reviews e Análises

Duna (2021) – Crítica

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A adaptação de qualquer obra muito icônica para outra mídia é sempre uma questão muito delicada. Normalmente envolve a realização de algumas concessões, deixar algo de fora da trama, adaptar algum personagem que no livro nem tinha tanto destaque, mudar alguma questão para agradar determinado público… Nunca é uma tarefa fácil. No caso de Duna, a coisa fica no meio do caminho. A adaptação funciona, mas nem tanto.

O filme adapta o clássico da ficção científica de Frank Herbert em sua essência. Em um futuro distante, a civilização humana evoluiu bastante e vários novos planetas foram colonizados. Esses planetas são administrados por casas de famílias nobres, que servem a um império galáctico. A história começa quando é ordenado que o planeta Arrakis, também conhecido como Duna, passe a ser administrado pela Casa Atreides, depois de anos de colonização pelos Harkonnen. O planeta é uma peça chave na expansão e na economia do império pois é nele que reside a especiaria Mélange, substância capaz de fazer quem a consome prever o futuro, e que, usada nas naves, é o que torna a viagem interestelar possível.

Essa sinopse só arranha a superfície da complexidade que é a trama de Duna. Por ser uma obra bem extensa, com um universo tão rico e diversificado, cheio de nuances e detalhes, isso acaba pesando na hora de ser adaptada. Por ser muito fã da obra original, o diretor e roteirista Denis Villeneuve acaba comprometendo um pouco o ritmo da história e prefere esmiuçar os personagens e o universo como um todo. Para quem gosta de ficção científica raiz e é fã da obra isso pode ser bom, mas pode ser ruim para o grande público acostumado a tramas rasas e frenéticas de filmes como Velozes e Furiosos, por exemplo. Isso pode ser muito complicado para um filme realizado da forma como Duna foi. Ele precisa ir bem na bilheteria para justificar a montanha de dinheiro investido, mesmo que a continuação já esteja garantida.

Dito isto, pode parecer que Duna é um filme moroso em que nada acontece. Muito pelo contrário. Com diversas cenas de ação muito bem feitas, o espetáculo visual e o entretenimento estão garantidos. Denis Villeneuve e o diretor de fotografia Greg Fraser estão afinados e um mundo alienígena nunca foi tão lindo na tela. Ver Duna na maior tela possível deveria ser requisito obrigatório para manter a carteirinha de cinéfilo. É um deslumbre. O que eles fazem com as texturas de areia, sangue e suor chega a ser quase palpável, de tão incrível. O som também é um caso à parte, assim como a música de Hans Zimmer.

O elenco é muito impressionante. E vários deles estão muito bem. Timothée Chalamet faz muito bem o papel de Paul Atreides, filho do Duque Leto (Oscar Isaac), e principal personagem da história. Paul possui poderes extraordinários por ser filho de uma bruxa da seita das Bene Gesserit, interpretada aqui por Rebecca Fergusson. Destaque também para as participações de Stellan Skarsgard, irreconhecível como o Barão Harkonnen, e Josh Brolin como Gurney. Infelizmente, Zendaya e Javier Bardem não conseguem mostrar muito ao que vieram, por terem pouco tempo de tela. A história dos personagens deles fica claramente jogada para o segundo filme, onde terão mais importância no desenvolvimento do resto da trama.

Duna é um filme belíssimo, com uma trilha impactante, um elenco incrível, uma fotografia poderosa, uma direção precisa, mas que mesmo assim pode não atingir todos os públicos. Me lembra um pouco a história do que aconteceu com Blade Runner, quando foi lançado nos anos 80. Um fracasso de bilheteria, que acabou encontrando seu público depois, nas locadoras e reprises. Hoje, é um clássico cult. Vamos ver qual será a trajetória de Duna. Glória ou morte. Se bem que sempre há espaço para uma redenção. Que pode vir na necessária sequência.

Avaliação: 4 de 5.
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2 Comments

2 Comments

  1. Simões Neto

    21 de outubro de 2021 at 09:55

    Segunda adaptação de Duna para os cinemas e já prevíamos que seria difícil de ganhar dinheiro. Mas o novo Duna tem uma vantagem sobre o primeiro: David Lynch sofreu com limitações impostas pelo estúdio. Cenas foram excluídas e resultou em um filme caro e com muitos diálogos para entregar a trama. Já na nova adaptação, Villeneuve parece que teve mais liberdade, o que pode gerar um filme mais coerente. O Duna é um livro complicado de ser adaptado, muitas linhas de pensamento dos personagens e uma história muito complicada e longa. Acredito que o diretor fez o filme para mostrar seu amor pela obra e, normalmente, isso não é suficiente para fazer sucesso na bilheteria. O segundo filme sairá, mas poderá ser muito afetado dependendo do resultado desse filme.

    P.s.: Existe uma série feita para TV desse livro. O orçamento é bem menor, mas adapta o livro com mais calma.

  2. Guilherme Frediani

    22 de outubro de 2021 at 10:45

    Nunca li Duna nem assisti o filme anterior, mas vou assistir e voltar aqui para dar minha opinião de alguém “de fora”.

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A Hora da Estrela – Crítica

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Quando se é aficionado por livros é comum alguma mania: ler a última página, tentar não “quebrar” a lombada de calhamaços enquanto se lê ou usar qualquer coisa que estiver a mão como marcador de páginas. Eu coleciono primeiros parágrafos: escrevo em pequenos cadernos que guardo na estante junto com os volumes que lhes deram origem. Claro que existem os favoritos como o de Orgulho e Preconceito (“É uma verdade universalmente conhecida que um homem solteiro, possuidor de uma boa fortuna, deve estar necessitado de uma esposa.”) e Anna Karenina (“Todas as famílias felizes são iguais, mas cada família infeliz é infeliz à sua maneira.”), mas nenhum fala tanto ao meu coração quanto o de “A Hora da Estrela”:

Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.

Agora, se você nunca leu “A Hora da Estrela”, pode dar uma chance a obra da autora ucrano-brasileira Clarice Lispector assistindo a adaptação realizada em 1985 pela cineasta Suzana Amaral, que voltou aos cinemas no último 16 de maio em cópias restauradas digitalmente em 4K.

O longa conta a história da datilógrafa Macabéa (vivida magistralmente por Marcélia Cartaxo, ganhadora do Urso de Prata de melhor atuação em Berlim) uma migrante vai do Nordeste para São Paulo tentar a vida. Órfã, a personagem parece pedir perdão o tempo todo por estar viva, quase se desculpando por ter sobrevivido a sina dos pais. Macabéa é invisível, invisibilizada e desencaixada do mundo.

A interação com as outras personagens acentua o caráter de estranheza que Macabéa sente de sua realidade (“O que você acha dessa Macabéa, hein?” “Eu acho ela meio esquisita”) onde a proximidade física reservada a ela é oferecida apenas pelas viagens de metrô aos domingos.

As coisas parecem mudar quando ao mentir ao chefe – copiando sua colega de trabalho Glória – dizendo que no dia seguinte irá tirar um dente para, na verdade, tirar um dia de folga. Passeia pela cidade e encontra Olímpico (José Dumont) a quem passa a ver com frequência. Infelizmente, mesmo ele, não entende a inocência e esse desencaixe de Macabéa, deixando-a.

“A Hora da Estrela” de Suzana Amaral traz a estética da fome tão cara ao Cinema Novo de Glauber Rocha não apenas na falta, ressaltada em oposição as personagens que orbitam a curta vida de Macabéa, mas no desalento, no desamparo e, principalmente, no abandono que, quando negado em certa altura pela mentira esperançosa da cartomante charlatã (vivida por Fernanda Montenegro), culmina na estúpida tragédia que ocorre com a protagonista.

Se no começo de tudo, como disse Clarice, sempre houve o nunca e o sim, para Macabéa e os seus “sim senhor” o universo reservou apenas o grande não que Suzana Amaral captou como ninguém.

Nota 5 de 5

Avaliação: 5 de 5.
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