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Gibiteca Refil

Patrulha do Destino ou o que o Ciborgue está fazendo aí?

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Você está prestes a presenciar uma das mais estranhas reuniões já realizadas – a união das quatro pessoas mais incomuns do mundo! Sente-se calmamente nas sombras dessa conferência clandestina e observe-a bem! 

Confesso que meus únicos conhecimentos sobre a Patrulha do Destino eram baseados em dois momentos muito específicos: quando li na infância, pela primeira vez, Os Novos Titãs, ao mencionarem que o Mutano tinha pertencido ao grupo e na adolescência, quando li a primeira edição do arco Rastejando dos Escombros de Grant Morrison. Lembro que esse último me deixou com a sensação de “é demais até pra mim” e desencanei.

Com o anúncio de uma série baseada nos heróis mais estranhos do mundo pelo serviço de streaming da DC Comics (que ainda não sabemos se será disponibilizada pela Netflix, como foi feito com Titãs) decidi não só consertar esse descaso de quase vinte anos, mas também entender “o que diabos o Ciborgue está fazendo neste cartaz?” 


A Origem

A primeira aparição da Patrulha do Destino foi em junho de 1963 na revista My Greatest Adventure. Ali somos apresentados a formação original do grupo: Niles Caulder –  o Chefe – reúne o ex-piloto de corridas Cliff Steele, a ex-atriz de Hollywood Rita Farr e o ex-piloto de testes aéreos Larry Trainor que após acidentes sofridos enquanto exerciam seus trabalhos habituais, ganharam condições especiais e viraram párias da sociedade. Steele, após um acidente automobilístico, tem seu cérebro transferido para um corpo metálico, se tornando o Homem-Robô; Farr, em um set de filmagens na África fica exposta a gases que alteram sua condição física, sendo possível alterar de tamanho, se tornando a Mulher-Elástica; Trainor foi atingido por uma radiação cósmica e transforma-se no Homem Negativo

A narrativa gráfica segue bem os quadrinhos da época, sem muitas novidades na diagramação. A arte do italiano Giordano Bruno Premiani (creditado como co-criador da Patrulha do Destino) é competente e segue bem o estilo da época.

A Era Grant Morrison

Grant Morrison assumiu a Patrulha do Destino no final dos anos 80 com o arco Rastejando dos Escombros que deixou para trás qualquer traço com as histórias simples de super-heróis. O que se iniciava era uma narrativa nonsense, beirando ao surrealismo, que explica o meu desencanto na época: eu não estava preparada para a viagem que, sem nenhum psicotrópico, Grant Morrison estava me oferecendo.

Muita coisa já tinha acontecido ao grupo: novos membros foram admitidos (Mento, Mutano, Celsius, Vendaval, Mulher Negativa, Karma, Blaze e Lodstone), outros morreram e alguns, tentaram desistir. A formação da Era Morisson resgata o Chefe, o Homem-Robô, o Vendaval e o Homem-Negativo (agora Rebis), acrescentando Kay Challis, a Crazy Jane (que possui múltiplas personalidades e cada uma delas tem um poder diferente) e Dorothy Spinner (uma garota com feições símias que pode tornar físico coisas que imagina).

Em Rastejando dos Escombros nossos heróis são confrontados com Homens-Tesouras que somem com as pessoas, deixando apenas o espaço vazio que elas ocupavam no momento que foram “recortadas”. Esses vilões são oriundos de uma cidade fictícia criada por intelectuais e filósofos, e parece estar se misturando e sugando a nossa realidade.

Li e ouvi algumas críticas a arte de Richard Case, que não se sobressai realmente, mas impressiona por conseguir dar vida as alucinações (não consigo encontrar outro adjetivo) de Morisson. E isso já é um grande feito!

Após a saída de Morisson do título muita gente passou por ele, até Gerard Way – roteirista de outra HQ que também vai virar série de TV, Umbrella Academy  – mas ninguém conseguiu superar o sucesso do escritor irlandês.

E o Ciborgue?

Cheguei até aqui para dizer: não faço ideia! Ciborgue não fez parte de nenhuma das formações dos quadrinhos e as únicas coisas que o aproximam do grupo é sua origem heroica trágica e a amizade com Mutano.


Título
: My Greatest Adventure #80
Autor: Arnold Drake e Bob Haney (roteiro) e Bruno Premiani (arte)
Tradução: Sem tradução para o Português
Editora: DC Comics (vendido por comiXology)
Ano: 2007 (Digital Release)


Título:
Patrulha do Destino – Rastejando dos Escombros
Autor: Grant Morrison(roteiro) e Richard Case (arte)
Tradução: Fabiano Denardin e Érico Assis
Editora: Panini Comics
Ano: 2016
Ficha completa no Guia dos Quadrinhos

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Gibiteca Refil

#MulherMaravilha80anos – Do Polígrafo ao Laço da Verdade

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“Bela como Afrodite; sagaz como Atena; dotada da velocidade de Mercúrio e da força de Hércules – nós a conhecemos como Mulher-Maravilha. Mas quem pode nos dizer quem é ela ou de onde ela veio?” – All-Star Comics, dezembro de 1941

A Mulher-Maravilha não foi a primeira super-heroína dos quadrinhos e definir esse posto é algo bastante complexo. Levando-se em conta o que entendemos como super-herói (ter uma identidade secreta, poderes e usar um uniforme) o consenso é que a primeira super-heroína dos quadrinhos é a Hawkgirl, conhecida por aqui como Mulher-Gavião. Como explicar, então, que tamanha popularidade de Diana faça com que nem cogitemos acreditar nisso? É simples: o conceito.

Muitas personagens femininas foram criadas a partir do clichê Ms. Male Character, isto é, a versão feminina de uma personagem masculina. Shiera era a versão feminina do Gavião Negro, além de sua parceira amorosa, assim como as primeiras concepções de Miss Marvel e Batwoman. A Mulher-Maravilha já foi criada como uma personagem independente, com seu próprio mundo fictício e histórias em consonância com as discussões do período.

A primeira aparição de Diana no universo DC se deu em dezembro de 1941 na All-Star Comics número 8. Essa ainda não contava a origem da personagem, mas a história das Amazonas e o motivo delas irem parar em Themyscira. A narrativa do nascimento de Diana, que permaneceria intacta até sua reformulação pós-Crise, seria apresentada apenas em Wonder Woman número 1: esculpida por Hipólita, a partir do barro de Themyscira, a escultura desperta na Rainha das Amazonas um sentimento profundamente maternal e o desejo de que a forma tome vida, em uma releitura do mito de Pigmaleão e Galatéia. Afrodite atende ao pedido de Hipólita, trazendo a criança à vida, dando-lhe o nome de Diana, em homenagem a irmã gêmea de Apolo, deusa da Lua e da caça. O que nos faz pensar: como seus criadores chegaram a essas referências?

“Sinceramente, a Mulher-Maravilha é propaganda psicológica com vistas ao novo tipo de mulher que, na minha opinião, deveria dominar o mundo.”  William Moulton Marston, março de 1945

A criação da personagem é atribuída ao roteirista Charles Moulton, pseudônimo do psicólogo William Moulton Marston, conhecido também como o inventor do polígrafo (a máquina da verdade). Já a concepção visual ficou a cargo de Harry G. Peter. Sempre esquecida nesta equação, porém, estava Elizabeth Holloway Marston esposa de William Marston e a quem o próprio se referia como coautora da personagem.

A luta pela igualdade feminina, presente nas primeiras histórias da Mulher-Maravilha – segundo Jill Lepore na biografia A história secreta da Mulher-Maravilha – remonta os primeiros anos de Marston em Harvard com o movimento pelo voto feminino e, principalmente, após ele ter ouvido a palestra da sufragista inglesa Emmeline Pankurst. Quase impedida de falar na universidade, simplesmente por ser mulher, Pankurst deixou Marston “fascinado, emocionado”. Já as referências gregas, possivelmente vieram de Holloway que amava a língua e as histórias que estudou em seus anos no ensino médio.

Desde a palestra de Emmeline Pankurst, a Mulher-Maravilha levou três décadas para aparecer, quando o seu principal idealizador já tinha 48 anos. Marston, após afirmar que via nos quadrinhos um grande potencial educacional, tornou-se uma espécie de psicólogo consultor da DC Comics. Foi aí que sugeriu ao editor Max Gaines uma super-heroína. A resposta inicial de Gaines foi dizer que personagens pulp e de quadrinhos femininas sempre eram um fracasso. Marston engendrou em argumento todos os anos em que defendeu os direitos das mulheres, recebendo a resposta “fiquei com o Superman depois que todo syndicate do país recusou. Vou dar uma chance a sua Mulher-Maravilha!”. Como condição o próprio Marston deveria escrever as histórias e se depois de seis meses os leitores não gostassem, essa seria descontinuada. Parece que acabou dando certo!

Como dito, Mulher-Maravilha não foi a primeira super-heroína, de fato, mas acredito que se tornou a primeira super-heroína por direito. Assim, convido você a comemorar durante os próximos meses os 80 anos de suas histórias e imaginário criados para a princesa amazona.

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